sábado, 31 de agosto de 2013

Lunáticos, go home Guilherme Fiuza



Prezadas autoridades: tomem vergonha, cumpram a lei contra os lunáticos e devolvam as ruas ao cidadão


Se você estiver entediado e quiser apimentar um pouco a sua rotina, não hesite: ligue o computador, mergulhe no mundo mágico das redes sociais, reúna uma dúzia de amigos mais ou menos ociosos, combine com eles uma causa (pode ser “tédio nunca mais”), pinte o slogan em algumas cartolinas, saia às ruas com o seu grupinho revolucionário e feche uma das principais avenidas da cidade. Qualquer uma. Mas feche mesmo: interrompa totalmente o trânsito, pelo tempo que você quiser.

Não tenha medo. As autoridades não estragarão o seu desfile. Recentemente, algumas dúzias de manifestantes bloquearam a Avenida Rio Branco, principal via do Centro do Rio, durante sete horas. A cidade parou, foi uma beleza — pelo menos para a polícia, para os guardas de trânsito, para o prefeito e para o governador, que cruzaram os braços e assistiram impávidos à singela arquitetura do caos. Ou talvez não tenham assistido, porque têm mais o que fazer.

Por algum motivo transcendental, as autoridades resolveram aceitar os bloqueios de trânsito. Passou a vigorar um novo princípio legal: a rua é do militante (qualquer um). Se ele deixar, a cidade pode ir e vir. No Rio de Janeiro, em especial, não se pode mais sair para qualquer lugar sem dar uma busca na internet ou no rádio. É preciso descobrir que bairro está sitiado naquela hora, ou naquele dia, por conta dos protestos contra tudo isso que aí está.

É uma piada (péssima). Em qualquer cidade séria do mundo isso seria impensável. O poder público, escondido em algum lugar entre a covardia e a vagabundagem, resolveu não cansar a sua beleza com a garantia da livre circulação. Desistiu de cumprir a lei. E o que é pior: a população se sujeita a isso calada — como se fosse vítima de uma nevasca, furacão ou enchente. As pencas de institutos e ONGs que passam a vida matraqueando a palavra cidadania, entupindo a mídia e os espaços públicos com suas cartilhas politicamente corretas, também não dão um pio diante desse escárnio.

Cumpre informar a todos os papagaios de clichês moderninhos: a cidadania no Rio de Janeiro foi revogada. A não ser que se conceba a meia-cidadania, ou a cidadania em meia pista.

Como explicar esse apagão de civilidade? Como entender que o poder público lave as mãos diante dessa “solidariedade” egoísta — que pode custar a vida de um enfartado, ou torturar uma grávida em trabalho de parto? Em nome de que, afinal, as autoridades liberaram a bandalha em forma de passeata?

Provavelmente tem a ver com populismo (essa praga que dominou o continente na última década), e com uma noção subdesenvolvida de bondade e tolerância. O marqueteiro mandou não contrariar. E o mais triste é que a suposta explosão cívica, tolerada pelas autoridades, é ainda mais subdesenvolvida do que quem a tolera. Para quais mudanças reais o “povo na rua” está de fato apontando?

Nenhuma. Depois da grita contra o aumento na tarifa de ônibus, a palavra de ordem “não são só 20 centavos” enunciou um abrangente movimento de massa. Teve até político afinando a voz — como o irremovível Renan Calheiros, acusado de promiscuidade com empreiteira. Calheiros virou militante do passe livre. E continuou presidindo o Senado, numa boa.

O governo Dilma, com seus 40 ministérios, bateu o recorde de gastos públicos improdutivos no auge das manifestações (o Banco Central teve que elevar a projeção de déficit para 2,7% do PIB em 2013). A sagrada sublevação das ruas jamais apontou um dedo para qualquer dos ralos do governo popular — origem da inflação que aperta os brasileiros, não só na roleta do ônibus. A nova onda de superfaturamentos no Dnit — alvo da “faxina”! — nem foi notada por ninjas, black blocs, foras do eixo e foras de órbita.

Nesse meio tempo, chegou ao Congresso o pedido da CPI da Copa. A enxurrada de dinheiro público em estádios bilionários como Mané Garrincha e Itaquerão (projetado após o golpe que “desclassificou” o Morumbi) iria enfim ser investigada. Sabem o que aconteceu com a CPI da Copa, queridos revolucionários? Foi enterrada antes de nascer. Sem nem um cartaz criativo no velório, sem nem uma ruela obstruída para pressionar os deputados coveiros.

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que faturou alto com consultorias invisíveis para a indústria mineira, não só permanece no cargo, como dali toca sua campanha para governador. E ainda dá palpite sobre o dólar (“tem espaço para chegar a R$ 2,50”!), bajulando assim seus amigos empresários e bagunçando ainda mais o ambiente econômico. É típico do parasitismo petista, que não incomoda os fechadores de rua.

Um dos grandes agentes da pacificação no Rio, José Junior, líder do AfroReggae, está há dois meses jurado de morte por Fernandinho Beira-Mar. Sua instituição foi metralhada no Complexo do Alemão. Não se viu uma única passeata pela vida de Junior, e contra essa vergonha de presos em segurança máxima comandando o crime.

No entanto, há uma favelinha ninja ocupando, há meses, duas faixas da Avenida Delfim Moreira, a pretexto de pedir a saída do governador.

Prezadas autoridades: tomem vergonha, cumpram a lei contra os lunáticos e devolvam as ruas ao cidadão

Na era da complicação Zuenir Ventura

  

 

Já foi mais fácil tomar partido. O mundo e as coisas tinham apenas dois lados, o bom e o ruim, o branco e o preto, o certo e o errado, o bonito e o feio. A democracia é que inventou essa complicação de vários pontos de vista, de ambivalência, substituindo o maniqueísmo pelo relativismo. O bem pode estar dentro do mal e vice- versa, entre o preto e o branco há o cinza, entre as luzes e as trevas existe o crepúsculo, e até o feio e o bonito variam conforme o gosto. No tempo do sectarismo ideológico, não haveria dúvidas em relação, por exemplo, a questões que se discutem tanto. Você é contra ou a favor da importação de médicos cubanos? Era muito simples: se vinha de Cuba, era bom. Ou ruim. Dependia de sua posição política. Agora, a complexidade de certos casos não admite mais resposta binária, pelo menos para quem não carrega na cabeça resquícios da Guerra Fria.
Como ser contra enviar médicos cubanos para os lugares onde os nossos não querem ir? Só com muito preconceito ideológico ou corporativismo, ou os dois. Ao mesmo tempo, como aceitar passivamente que esses profissionais permaneçam submetidos a um regime ditatorial que confisca parte de seus salários e não os deixam trazer suas famílias, retidas lá como reféns para evitar possíveis deserções? Não dá para desprezar os direitos humanos e dizer: "Isso é problema deles, não nosso." Mesmo pesando os prós e os contras na busca de isenção, a decisão é complicada. Virá sempre acompanhada de um "mas", "porém", "por outro lado".

Diferente, mas também com implicações políticas, é o caso do diplomata Eduardo Saboia, que à revelia do Itamaraty deu fuga ao senador boliviano Roger Pinto, que esteve refugiado na embaixada do Brasil em La Paz durante 452 dias. Preocupado com a saúde debilitada do asilado, Saboia colocou-o um dia num carro, viajou 1600 quilômetros acompanhado de dois fuzileiros brasileiros, e depositou-o em Corumbá, enfurecendo o governo boliviano. O senador é um desafeto de Evo Morales, a quem acusa de corrupção, e é acusado por este do mesmo crime. Politizada, a questão gerou uma séria crise diplomática entre os dois países. Para uns, Saboia foi um "herói", do ponto de vista humanitário; para outros, um "irresponsável". Vai ver, cada lado tem um pouco de razão.

Em suma, trata-se de um mundo complicado que cobra atitude onde tudo é relativo, inclusive essa afirmação.

Da rebelde Alice insurgindo-se contra a proibição paterna de comer chocolate fora de hora: "Estou ficando furiosa. Pronto (rangendo os dentes) já estou furiosa." Ela é indomável. Acho que nem com gás de pimenta.

Ideias e mundo real Luis Sérgio Henrigues



A relação entre ideias e mundo real não costuma ser unívoca nem se prestar a simplificações. Desajustes entre o que os homens efetivamente fazem, o que dizem sobre si e sobre a ação que empreendem constituem situação ineliminável da vida política. Não são, pois, traço característico da direita ou da esquerda, algo que se aplique com exclusividade a esta ou àquela entre as frações que ocupam o leque das opções disponíveis em cada circunstância.

Caso clássico, nesse sentido, e que atingiu em cheio a trajetória da esquerda foi o que se deu, a partir de 1917, com a justificação leninista e, depois, stalinista dos acontecimentos russos. Como se sabe, para o fundador do Estado soviético,o comunismo poderia ser sintetizado numa fórmula que reuniria sovietes e eletricidade. Por uma dessas duras réplicas da História, a ideologia marxista-leninista, que seria a codificação do bolchevismo no poder, logo recobriria, velando mais do que esclarecendo, uma realidade em que os sovietes (a democracia direta) se atrofiariam rapidamente e a eletrificação (a modernização) se daria "pelo alto", num período curtíssimo de tempo e com brutal custo humano, encarnado na coletivização do campo e na tragédia do stalinismo.

O século 19 brasileiro é outro exemplo evidente de que o mundo ideal e o dos fatos se articulam de modo pouco ortodoxo. A explicação que daquele século nos deu Florestan Fernandes apreende, com sagacidade, os caminhos de uma "revolução encapuçada" que, escorada pelo elemento dinâmico do liberalismo político, minaria os fundamentos da ordem senhorial, preparando - é verdade que ao longo de décadas, que viram a insólita associação de liberalismo e escravidão - o surgimento da modernidade capitalista.

Uma hipótese a ser examinada para entender o período iniciado com a Constituição de 1988 é que, uma vez mais, estaríamos lidando com alguma inédita ou pouco comum ironia da História. O grande e heterogêneo conjunto de ideias e práticas que se associa à social-democracia será talvez o que mais apropriadamente descreve a "ideologia" da nossa Carta, com seus novos mecanismos de criação de direitos a partir do reconhecimento jurídico de interesses legítimos de todos os setores sociais, especialmente dos subalternos. E, no entanto, as correntes políticas próximas daquele ideário se dividiriam em facções crescentemente irreconciliáveis, cuja conflituosidade por vezes espanta o observador desatento aos movimentos mais profundos que orientam o comportamento de atores individuais e coletivos, bem como a relação entre cultura e política.

Num exame menos superficial, tucanos e petistas de modo algum são inteiramente idênticos por origem ou orientação de valor, mas as diferenças que exibem e até exasperam não autorizam colocá-los em compartimentos antagônicos nem sequer muito distintos, ao contrário do que possam sugerir os tons da refrega a que se entregam. Os governos Fernando Henrique e Lula registraram avanços sociais dignos de nota, em razoável grau de continuidade, como atestam sucessivas avaliações, a mais recente das quais insuspeito índice de desenvolvimento humano referido à totalidade dos municípios brasileiros. Nenhuma revolução social, naturalmente, mas um interessante progresso relativamente espalhado pelo território, cujas consolidação e ampliação podem recolher considerável nível de consenso e gerar mobilização ainda maior de recursos, reduzindo a pobreza e também a desigualdade, numa "revolução encapuçada" mais ambiciosa, a ser conduzida estritamente dentro dos parâmetros constitucionais.

Os dois atores, dizíamos, não são idênticos: uns, mais atentos à dimensão institucional da democracia representativa, apesar da ferida representada pela malfadada emenda da reeleição em benefício dos então ocupantes do poder; outros, mais cuidadosos com as urgências sociais, ainda que o desleixo com os aspectos "formais" da democracia- aspectos "burgueses", dirse-ia na velha cultura bolchevique - os tenha feito incorrer não em episódio "comum" de corrupção, explicável pela generalizada força do dinheiro na política contemporânea, mas sim num ataque frontal ao Parlamento, como aquele sobre o qual o Supremo Tribunal Federal ora se debruça novamente.

Difícil imaginar Fernando Henrique,não obstante a manobra da reeleição, nas vestes de caudilho: para tanto lhe falta, inclusive, o physique du rôle. Preocupante observar na variante social-democrata rival, não obstante a recusa do terceiro mandato, uma proximidade pelo menos ideal com a presente vaga dos presidentes latino-americanos que se querem "eternos": um sinal de que esta variante se terá modernizado de modo insuficiente, podendo condescender, se as condições o permitirem, com velhas taras autoritárias que assolam a tradição e não são atributo exclusivo dos "reacionários".

Se esta chave de leitura for minimamente correta, isto é, se estivermos assistindo ao confronto desabrido entre duas vertentes da mesma social-democracia,é o caso de temer pela qualidade das instituições, que constituem o bem mais precioso herdado das lutas contra o regime autoritário. Não custa fazer outro paralelo com a História trágica do século 20 e lembrar que os bolcheviques - ramo radicalizado do grande tronco socialista em certo momento se lançaram contra os "social-fascistas"-os social-democratas clássicos -, facilitando a emergência do nazismo, o mal absoluto por definição.

Estamos muito longe desse cenário de pesadelo, mas bem podemos imaginar outras formas de degeneração do discurso e da arena política causadas pelo espírito de cruzada sem tréguas contra o adversário, considerado o inimigo a varrer em cada episódio eleitoral. Algumas dessas formas, infelizmente, já podem talvez ser entrevistas a olho nu

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Legião Urbana


 


Novo round na disputa de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que integraram a Legião Urbana com Renato Russo (1960-1996), e o herdeiro do líder da banda, Giuliano Manfredini: a Justiça negou há alguns dias a segunda tentativa dos dois de usar a marca com o nome do grupo. O mérito da questão ainda será analisado pelo Tribunal de Justiça do Rio.

PRETÉRITO PERFEITO
E o dinheiro arrecadado com as músicas de Russo será doado, em parte, para um instituto contra o alcoolismo batizado com o nome do cantor, criado por Manfredini. Que alfineta: "É lamentável ver a obra do meu pai ligada ao álcool". Marcelo Bonfá lançou uma cachaça com o nome "Perfeição", igual ao de uma canção que fez em parceria com Russo.

SUBJUNTIVO
"A palavra perfeição' não pertence a ninguém. É um substantivo da língua portuguesa", diz Bonfá. "O problema não está no produto, mas nas pessoas. Eu não sou alcoólatra. Até amor em excesso faz mal". Para o baterista, que diz defender moderação ao beber, alcoolismo é questão "pessoal".

SEM CHORO
Dilma Rousseff há tempos se queixava do chanceler Antonio Patriota. A oportunidade de demiti-lo por causa da crise com a Bolívia não foi lamentada por ela.

JOGO DURO
As relações do Brasil com a Bolívia atravessam fase tão turbulenta que, na negociação para a libertar os corintianos, um dos mediadores foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele falou com Evo Morales sobre o caso.

JOGO DURO 2
Um dos argumentos usados por outros interlocutores do presidente da Bolívia também acionados foi o de que os milhares de bolivianos que vivem no Brasil poderiam sofrer algum tipo de hostilidade, já que o Corinthians é o time mais popular do país.

CAMINHO LIVRE
Propostas para dispensar do rodízio de carros advogados, cirurgiões-dentistas, policiais militares e civis e guardas civis metropolitanos serão analisadas hoje pelos vereadores de SP. Os projetos tentam acrescentar as categorias à lista de liberadas. Hoje, medida administrativa já isenta deficientes e médicos.

ALVO
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi furtado de novo. Ele teve o GPS surrupiado no domingo, quando deixou seu carro estacionado na rua Jaceguai, entre 18h e 23h30, para assistir à peça "Cacilda!!!", no Teatro Oficina. Quando voltou, encontrou o vidro do passageiro quebrado. "Por sorte não viram o celular", que também estava no veículo.

TRAVESSEIRO
Um espetáculo de teatro com 12 horas de duração. É o tempo que vai durar "Vigília", montagem com ingressos gratuitos que estreia em setembro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. O espectador tanto poderá assistir a toda a peça de uma vez quanto ver algum tempo, sair, descansar e voltar para seguir o restante do enredo. O texto, de Cássio Pires, fala sobre a noite de um insone, com quem a plateia vivenciará a experiência.

CANETA E BISTURI
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy já colocou o ponto final na sua biografia. Prevista para ser lançada pela editora Casa da Palavra, a obra foi escrita por ele mesmo, com a ajuda da escritora Lilian Fontes.

REGISTRO MUSICAL
As apresentadoras Mariana Weickert e Astrid Fontenelle assistiram à pré-estreia do documentário "Na Trilha da Canção", projeto dos irmãos Sarah Oliveira e Esmir Filho, para o GNT. Também estiveram no MIS, anteontem, as atrizes Mariana Ximenes e Gabriela Duarte e os cantores Otto, Marina Lima e Wanderléa.

QUASE CENTENÁRIO
O presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, recebeu autoridades e esportistas no jantar de comemoração dos 99 anos do clube, anteontem, no Spaço Quatá. Entre eles, o presidente da CBF, José Maria Marin, o governador de SP, Geraldo Alckmin, e Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol.

EM TRÊS ATOS
A pesquisadora Sonia Guarita do Amaral esteve no lançamento do livro "1889", do jornalista e escritor Laurentino Gomes, anteontem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. A obra é o terceiro volume de uma trilogia que conta a história do Brasil. "1808" e "1822" são, respectivamente, o primeiro e o segundo volumes.

CURTO-CIRCUITO
A School of Rock, escola de rock para crianças, foi aberta ontem, na rua dos Chanés, 263, em Moema.

Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, lança hoje, na feira PhotoImage Brasil, o Portal Fotos Públicas, banco de imagens com atualização diária.

Emerson Fittipaldi e Paulo Skaf realizam jantar hoje, na Fiesp, para celebrar a corrida Le Mans 6 Horas São Paulo.

A Fundação Energia e Saneamento lança hoje, no Museu da Energia, o livro "Transformações Urbanas: São Paulo 1893 a 1940".

Cenario violento reforça importância da proximidade entre pais e filhos Leniza Castelo Branco

No início de agosto, uma tragédia chocou o Brasil. Uma família foi assassinada na capital paulista e as suspeitas recaíram sobre o filho, um menino de 13 anos. O caso ainda não foi esclarecido, mas já deixou muitos
casais aflitos, pensado no que podem fazer para evitar tragédias como essa. Minha resposta é simples: pais precisam ser pais, o que significa, entre outras coisas, proteger os filhos de ameaças externas e também deles mesmos.
Diante de fatos como esse, a tendência hoje é culpar os videogames, como há algum tempo culpavam-se a televisão e os gibis. É verdade que a mídia sobrecarrega a todos com notícias de violência, corrupção, assassinatos. Quase não se dedica a assuntos construtivos. Diz que não dariam audiência. Na televisão, artes, ciências, pessoas felizes e ajuda ao próximo ganham pouquíssimo espaço. Nos horários noturnos, há ainda o conteúdo sexual explícito. São cenas impróprias para crianças e mesmo para adolescentes. Seu cérebro em formação se acostuma com aquilo e isso é terrível, porque eles não distinguem bem a fantasia da realidade. Às vezes é impossível evitar que as crianças sejam atingidas por toda essa informação inconveniente, mas deve-se tentar.
No caso em questão, falou-se que a criança foi ensinada a usar uma arma. Ora, isso é arriscado. Ela pode aprender a técnica, sim, mas não tem noção do perigo. Mesmo sendo os pais policiais, o ideal seria não deixar a criança se aproximar das armas e mantê-las trancadas, proibidas, explicando o quanto são perigosas para pessoas não especializadas. Outra informação que surgiu foi a de que os pais haviam ensinado o garoto a dirigir. Isso, além de perigoso, é ilegal. A criança, repito, consegue aprender a técnica, mas não tem responsabilidade para a tarefa.
A essas atitudes inoportunas, poderíamos acrescentar outras que são corriqueiras. Há pais, por exemplo, que deixam filhos pequenos experimentar bebida alcoólica. Álcool é perigoso porque provoca uma sensação que pode ser considerada boa. A criança, se o sabe, pode passar a beber escondido e se viciar. Para completar, a lei proíbe bebida antes dos 18 anos. Se os pais deixam o filho beber, ele aprende que leis não devem ser respeitadas, o que não é nada bom.
Crianças não devem ser tratadas como adultos. Nem mesmo adolescentes que pareçam maduros. Eles não são. Se lembrarmos de nossa adolescência, nos assustaremos com coisas perigosas que fizemos e que só não foram fatais por sorte: andar de carona com amigo que bebeu, experimentar drogas, sair com desconhecidos. Jovens são impulsivos e não percebem o perigo. Por isso digo que os casais devem proteger os filhos de si mesmos. Devem estar atentos, ter tempo para eles, ouvi-los, não como amigos, mas como pais, impondo limites com carinho e firmeza, e não acreditando em tudo que eles dizem.
Não adianta enchê-los de atividades, deixando-os sem tempo para brincar e se relacionar com seus pares. Isso os transforma em adultos precoces e estressados. Deixemos que vivam o seu tempo, mas não os deixemos sozinhos. Eles precisam de orientação, de ver teatro, cinema, exposições, ler, ouvir boa música. Precisam dormir bem, ter horários, praticar esportes, alimentar-se de maneira saudável. E quem deve cuidar disso são os pais. Para jovens saudáveis e que têm outros interesses, videogames não são perigosos.

O chato do Google Joca

 




“O ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete”, disse Aristóteles. “E o chato consulta o Google”, digo eu, pois também sou filho de Deus e discípulo de Platão. O Chato do Google é o cara que, tablet ou smartphone em punho, consulta o Google na hora da discussão e destrói a afirmação do ignorante, esclarece as dúvidas do sábio e interrompe a reflexão do sensato. Fim de papo. Só ele pontifica. Datas, grafias, literatura, autores, atores, letras de música, história, geografia, mitologia grega… e tudo o mais que possa ser tema de uma boa discussão de bar. Se um cara desses baixar na sua mesa, expulse-o imediatamente, antes que se ja tarde.

Numa mesa do Dom Pedro, cuba-libre e uísque corriam soltos, cada um sabia mais medicina que o outro, apesar de não haver um único médico presente. Discussão acirrada: a diferença entre caduquice e Alzheimer. Clávio Valença resolveu a parada: “Da Serra das Russas pra cima é caduquice; pra baixo, Alzheimer.” Tivesse um Chato do Google por lá, não tinha discussão. Nem a frase de Clávio.

Mas, vez por outra, felizmente, o Chato do Google quebra a cara. Outro dia, mesmo, num eventozinho desses que reúne intelectuais e curiosos, um cidadão impudente anunciou e recitou um poema que seria de Carlos Drummond de Andrade. Não era. Vexame. (Fosse ele leitor do poeta e não do Google, reconheceria, logo no primeiro verso, que o dito cujo era fake.) Dia seguinte, um leitor de verdade pôs em suas mãos um exemplar das obras completas de Drummond: “Se achar o poema que você recitou ontem, o livro é seu.”

Larry e Sergey, os donos do Google, não criaram o site para sacanear nem acabar com a farra de ninguém (dizem até que o Sergey é bom de copo). O Google é um negócio arretado. Só não faz mágica, não transforma ignorante em sábio num clique. Tem que saber consultá-lo. Antes de tudo, saber, ainda que superficialmente, sobre o que se está pesquisando. Confiar desconfiando, checando, rechecando e, sobretudo, observando as fontes. Coisas que o Chato do Google geralmente não faz ou não sabe fazer.

A USP coordenou uma pesquisa sobre a qualidade dos textos publicados na internet. Selecionaram, aleatoriamente, mil e um artigos e teses que tratavam do mesmo tema, antibiótico, e os submeteram aos doutos da Universidade nas áreas de Medicina, Biomédica, Farmácia e Química. Resultado: cerca de 70% dos textos eram absurdos completos; 25% tinham algo a ver, ou seja, “ouviram o galo cantar, só não sabiam onde”; 5%, apenas, tinham, de fato, valor técnico ou científico reconhecido.

Apesar da pesquisa da USP, os médicos são as maiores vítimas do Chato do Google. O sujeito já baixa no consultório do médico com seu autodiagnóstico. E ai do doutor se o diagnóstico não coincidir. Veja só. Um paciente entrou no consultório de um médico conhecido no Recife, nem bom-dia deu: “Doutor, tenho Síndrome de Carpaccio.” “Síndrome de quem?” O paciente, com certo ar de superioridade, soletrou a iguaria italiana. E discorreu sobre seus sintomas e queixas. O doutor o examinou. “Clinicamente o senhor não tem nada.” E prescreveu a receita: “Pare de consultar o Google sobre doenças! Vá a um restaurante italiano e peça, como entrada, um bom carpaccio com mostarda, parmesão e azeite.”

Enquanto isso, no Bar do 28, o poeta Garibaldi Otávio cantarolava o “Torresmo à Milanesa” (não precisa consultar o Google pra saber de quem é o samba: Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro): “Vamos armoçar / Sentados na calçada / Conversar sobre isso e aquilo / Coisas que nóis não entende nada.”

A cidade é deles Ruy Castro



RIO DE JANEIRO - Outro dia, pelo calçadão do Arpoador, vinham dois "black blocs" no rigor dos trinques: coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos, e moletom com touca idem enrolado à cabeça, deixando apenas os olhos de fora --uma espécie de burca militar, como já se disse aqui. Imagino que trouxessem consigo os adereços de mão próprios da categoria: álcool, vinagre, pedras, molotovs e máscaras contra gases --todo cuidado é pouco quando se tem a lei pela frente.

Mas não havia lei à vista, nem roupa mais imprópria para um "footing" àquela hora --três da tarde, com um sol de veranico sob o qual a dupla suava e parecia apenas exótica, não ameaçadora. Bem faz o Batman, que só sai à noite para trabalhar --sabe que, à luz do dia, sua roupa de morcego tem algo de ridícula. Por sinal, a fantasia dos "black blocs" é a mais próxima que eles acharam para substituir a de Batman --que, tudo indica, usavam até há pouco.

Nossas cidades não têm opções para se trocar de roupa em público. Donde os dois devem ter saído de casa já paramentados e cruzado no prédio com seus vizinhos e porteiros --que os conhecem desde crianças e sabem muito bem quem são. Bem provável que morassem na Vieira Souto (com os pais, naturalmente) e estivessem a caminho do acampamento armado pelos meninos do "Ocupa Delfim", no Leblon.

O fato de saírem fantasiados às ruas e com a maior naturalidade sugere que estamos nos habituando aos "black blocs". E por que não? A cidade é deles. A noite cai e a função começa. Do Leblon, seguem para o largo do Machado, onde quebram o que encontram pela frente. Destroem metade de Laranjeiras e, de lá, vão para o Castelo, a Cinelândia ou a Lapa, onde o rastro da depredação continua.

Hoje, já não passam de 200. Mas são suficientes para subjugar os demais 5.999.800 com que convivem

Marketing bélico-----Hélio Schwartsman



SÃO PAULO - É complicada a perspectiva de intervenção na Síria. Meu receio é o de que estejamos prestes a assistir a um espetáculo de marketing militar, que visa mais a apaziguar clamores humanitários do que a pôr um fim à guerra civil.

É claro que, sob o aspecto moral, uma ação seria em princípio justificável. Interromper carnificinas é um imperativo ético que a comunidade internacional deveria tentar colocar entre seus objetivos. É difícil, entretanto, entender por que foi necessário esperar o uso de armas químicas para tornar a intervenção iminente.

Não vejo grande distinção entre morrer envenenado ou metralhado. E, se 100 mil óbitos por armas convencionais não foram suficientes para levar as potências ocidentais a agir, parece estranho que os mil cadáveres adicionais façam tanta diferença. Podemos, é verdade, descartar essa objeção como acadêmica e dizer que o gatilho da intervenção teria de vir em algum momento e que ele finalmente chegou.

Isso nos leva à mais difícil questão de determinar o que deve ser feito. Aqui as coisas ficam sombrias, pois não parece haver muitas possibilidades de intervenção que sejam ao mesmo tempo eficazes, duradouras e a preço aceitável para o Ocidente.

Não é tão óbvio como mísseis e bombardeios impediriam novos ataques químicos (deixando para lá os convencionais). Os EUA e aliados poderiam optar por derrubar o regime de Bashar al-Assad, mas tergiversam diante do risco de ajudar sunitas radicais apoiados por ramificações da Al Qaeda a tomar o poder. Estão ainda menos ansiosos para envolver-se na lenta, cara e incerta operação de construir uma nação democrática. O precedente do Iraque não anima.

Como não há um objetivo óbvio e factível, Washington deverá contentar-se em lançar alguns mísseis, dizer que fez a sua parte e esperar que os sírios resolvam a contenda. É mais fácil do que admitir que certos problemas não têm solução.

Um zumbi na casa do espanto Nelsom Mota



Donadon é o simbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado

“Não acredito”, bradou aos céus o deputado Natan Donadon, caindo de joelhos em patética pantomima, quando viu no placar da Camara 131 votos a favor, 41 abstenções e 108 bem-vindas ausências, que mantinham o seu mandato e o consagravam como o primeiro deputado-presidiário da nossa história. Que ronco das ruas que nada, eles não ouvem e não têm medo, e mais uma vez votaram, ou fugiram, em causa própria, porque também acumulam processos na Justiça e podem ser o Donadon de amanhã.

“Não a-cre-di-to” digo eu, dizemos nós, diante da cena inacreditável, mas quando se trata dos 300 picaretas que Luiz Inacio falou deve-se acreditar em tudo, porque de tudo eles são capazes. Nunca na história desse país houve um deputado-detento, mas Lula agora diz que fica puto quando falam mal de políticos.

Zoologicamente é facil identifica-los: andam em bandos, têm pelagem acaju, negro graúna ou raposa prateada, alimentam-se de verbas públicas e são pacificos e afáveis, condição necessária para seus golpes e tramoias, mas quando ameaçados podem se tornar hostis e violentos em defesa dos privilégios e impunidades do bando. Seu habitat natural é a Câmara dos Deputados.

Donadon é o simbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que existe para dar voz e poder aos representantes dos eleitores, mas, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado pelo STF, que teve amplo direito de defesa e usou todos os recursos e chicanas para retardar o processo.

Aprendi com meu pai que é covardia tripudiar sobre os caídos, que a compaixão beneficia mais quem se compadece do que ao compadecido, que perdoar é mais leve do que carregar o saco do rancor e do ressentimento. Mas no caso desse picareta foram ele e seus colegas de trabalho que tripudiaram sobre todos os cidadãos honestos e as instituições democráticas.

E também sobre os presidiários. Reclamando da comida, da falta de água, das algemas, do camburão “escuro como um caixão”, viveu a realidade diária dos presos brasileiros, a maioria por crimes menores que os dele, que prejudicaram toda a sociedade.

Congresso ! Nem aí pro gigante


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Congresso deu uma banana pro Gigante! E o Donadon? O deputado Danadão! "Câmara livra de cassação deputado condenado e preso." Qual a novidade?

E o Danadão é o deputado que todos sonhamos: já tá preso! Superprático: um deputado que já tá preso! O primeiro deputado presidiário!

E o tuiteiro Marcelo Amaral: "Um absurdo isso, o deputado vai ser uma péssima influência na prisão". Rarará!

Enfim, o Congresso deu uma banana pro Gigante! Vergonha, viu? E atenção! "Bolívia pede pra Dilma devolver o Pinto". Sugestão para a Dilma: Troca um pinto por três corintianos. Rarará!

Devolve o pinto pro ovo, e não pro Evo! E um Patriota que é patriota mesmo não vai buscar um pinto lá fora! Rarará!

E o apagão no Nordeste? Diz que foi uma queimada no Piauí. Tão querendo dar uma queimada no Piauí. Pelo tamanho do estrago, foi uma queimada de rosca, isso sim! Queimada de rosca provoca apagão no Nordeste! Rarará!

Eu acho que o Nordeste botou todos os celulares pra carregar ao mesmo tempo! E sabe o que a Dilma perguntou pro Lobão? "Por que esse apagão tão grande?" E o chargista Lute: "Alguém aí conhece um eletricista cubano?". Isso! Chama um eletricista cubano! Rarará.

E a Dilma deve ter dado uma queimada de rabo no Mantega: "Maaantega! Liga essa porra dessa luz! Você não trocou a porra da lâmpada!" Rarará!

E as três causas dos apagões: raio, balão e queimada! E gato! Gambiarra! E a Carla Perez: "Vou ligar a TV pra ver como tá o apagão". Rarará!

E adorei essa chamada: "Veja fotos do apagão". E uma amiga baiana foi alugar um gerador no A Geradora e não conseguiu porque eles estavam sem energia. Como diz uma amiga: "No Brasil não basta ser gostosa, tem que ter gerador próprio". Rarará!

E não é apagão, é trapagão. Trapalhada com apagão!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Palmeiras? Manchete do Sensacionalista: "Furacão passa em Curitiba e mata um monte de porcos". Rarará! Tadinhos!

E o Pato comeu a zebra! Maus-tratos aos animais! Rarará

Ueba! cubanos levam um sustoJosé Simão



Os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta! Tribuna do Norte: "O tresloucado presidente da Bolívia, Evo Morales, não se livra tão cedo do Brasil: a suplente do senador Roger Pinto se chama Linda Brasilda". Rarará. Tira o Pinto e entra Linda! A esculhambação não tem fim!

E não deve devolver o Pinto pro Evo. Tem que devolver o Pinto pro Ovo!

E a Dilma ontem, na televisão, tava parecendo um pitbull de TPM! Dilacerador de vísceras!

E se um Pinto Molina derrubou o Patriota, um Pinto Durina derrubaria o país! Rarará!

E a manchete do Humor Esportivo: "Botafogo importa 500 torcedores cubanos". Rarará. Agora tudo termina em Cuba!

E essa: "Médicos cubanos são hostilizados e vaiados por colegas brasileiros em Fortaleza". Que vergonha! Avisaram que eles seriam tratados dessa maneira? Avisaram que no Brasil ainda tem gente não civilizada?

E olha essa charge com o médico cubano: "Hola!". "A rôla tá bem, dotô! O problema é na cabeça". Rarará!

Eu já falei que o único problema dos médicos cubanos é a língua: confundir caganeira com Guantanamera e hola com rôla!

E a primeira aula para os médicos cubanos que atuarão no Maranhão: "O dono disso tudo se chama Sarney!". E tá com virose! Rarará!

E os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará.

E o tuiteiro Ricardo Gomes: "Se os médicos cubanos aprenderem como o SUS funciona, eles vão bater o ponto e ir embora". Rarará!

E causou reboliço no Facebook o post da jornalista Micheline Borges: "Me perdoem se é preconceito, mas essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica". Só piora! Além de preconceituosa, é burra! Porque a minha empregada doméstica tem cara de médica escandinava!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Brasil tá doente do corpo. Do corporativismo!

E sabe o que eu quero de Cuba? Mais médicos, mais mecânicos e mais professores de salsa!

E eu nunca fui   Cuba.

Ueba! cubanos levam um sustoJosé Simão



Os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta! Tribuna do Norte: "O tresloucado presidente da Bolívia, Evo Morales, não se livra tão cedo do Brasil: a suplente do senador Roger Pinto se chama Linda Brasilda". Rarará. Tira o Pinto e entra Linda! A esculhambação não tem fim!

E não deve devolver o Pinto pro Evo. Tem que devolver o Pinto pro Ovo!

E a Dilma ontem, na televisão, tava parecendo um pitbull de TPM! Dilacerador de vísceras!

E se um Pinto Molina derrubou o Patriota, um Pinto Durina derrubaria o país! Rarará!

E a manchete do Humor Esportivo: "Botafogo importa 500 torcedores cubanos". Rarará. Agora tudo termina em Cuba!

E essa: "Médicos cubanos são hostilizados e vaiados por colegas brasileiros em Fortaleza". Que vergonha! Avisaram que eles seriam tratados dessa maneira? Avisaram que no Brasil ainda tem gente não civilizada?

E olha essa charge com o médico cubano: "Hola!". "A rôla tá bem, dotô! O problema é na cabeça". Rarará!

Eu já falei que o único problema dos médicos cubanos é a língua: confundir caganeira com Guantanamera e hola com rôla!

E a primeira aula para os médicos cubanos que atuarão no Maranhão: "O dono disso tudo se chama Sarney!". E tá com virose! Rarará!

E os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará.

E o tuiteiro Ricardo Gomes: "Se os médicos cubanos aprenderem como o SUS funciona, eles vão bater o ponto e ir embora". Rarará!

E causou reboliço no Facebook o post da jornalista Micheline Borges: "Me perdoem se é preconceito, mas essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica". Só piora! Além de preconceituosa, é burra! Porque a minha empregada doméstica tem cara de médica escandinava!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Brasil tá doente do corpo. Do corporativismo!

E sabe o que eu quero de Cuba? Mais médicos, mais mecânicos e mais professores de salsa!

E eu nunca fui   Cuba.

Ueba! cubanos levam um sustoJosé Simão



Os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta! Tribuna do Norte: "O tresloucado presidente da Bolívia, Evo Morales, não se livra tão cedo do Brasil: a suplente do senador Roger Pinto se chama Linda Brasilda". Rarará. Tira o Pinto e entra Linda! A esculhambação não tem fim!

E não deve devolver o Pinto pro Evo. Tem que devolver o Pinto pro Ovo!

E a Dilma ontem, na televisão, tava parecendo um pitbull de TPM! Dilacerador de vísceras!

E se um Pinto Molina derrubou o Patriota, um Pinto Durina derrubaria o país! Rarará!

E a manchete do Humor Esportivo: "Botafogo importa 500 torcedores cubanos". Rarará. Agora tudo termina em Cuba!

E essa: "Médicos cubanos são hostilizados e vaiados por colegas brasileiros em Fortaleza". Que vergonha! Avisaram que eles seriam tratados dessa maneira? Avisaram que no Brasil ainda tem gente não civilizada?

E olha essa charge com o médico cubano: "Hola!". "A rôla tá bem, dotô! O problema é na cabeça". Rarará!

Eu já falei que o único problema dos médicos cubanos é a língua: confundir caganeira com Guantanamera e hola com rôla!

E a primeira aula para os médicos cubanos que atuarão no Maranhão: "O dono disso tudo se chama Sarney!". E tá com virose! Rarará!

E os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará.

E o tuiteiro Ricardo Gomes: "Se os médicos cubanos aprenderem como o SUS funciona, eles vão bater o ponto e ir embora". Rarará!

E causou reboliço no Facebook o post da jornalista Micheline Borges: "Me perdoem se é preconceito, mas essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica". Só piora! Além de preconceituosa, é burra! Porque a minha empregada doméstica tem cara de médica escandinava!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Brasil tá doente do corpo. Do corporativismo!

E sabe o que eu quero de Cuba? Mais médicos, mais mecânicos e mais professores de salsa!

E eu nunca fui   Cuba.

O rio do Édem Fernando Verissimo

 
 
O meu relógio biológico é um Rolex. Não, brincadeira. Nós todos temos um relógio dentro de nós que sempre “sabe” exatamente que horas são, embora nem todo mundo saiba que ele sabe, ou confie nele. O relógio biológico funciona mais ou menos como uma portaria de hotel, à qual você pede para ser acordado à certa hora. Ou como um despertador, que você marca para acordá-lo. O relógio interior pode falhar — as portarias de hotel e os despertadores também falham —, mas sempre que não acreditei no meu me arrependi. O que aconteceu mais de uma vez foi que o relógio biológico me acordou e fiquei na cama, aflito para saber se a portaria iria se lembrar ou o despertador funcionar, e acabei me atrasando. E minha tese é que quando o relógio biológico não nos acorda é porque, no fundo, não queremos acordar. Algum outro instrumento instintivo que carregamos sem saber prevaleceu e neutralizou o relógio.
É fascinante essa ideia de que trazemos nos genes recursos, impulsos, fobias e encargos dos quais não nos damos conta, como relógios embutidos ligados a alguma fonte inimaginavelmente precisa de tempo certo. Somos portadores de mensagens cifradas que não conhecemos, e não entenderíamos se conhecêssemos. Há uma teoria segundo a qual o pavor universal de cobras vem de um resquício do passado reptiliano que ficou num dos cantos primitivos do nosso cérebro. E a mais nobre e misteriosa missão que nossos genes realizam à nossa revelia é a de trazer nosso DNA desde as origens da espécie humana até agora. Ninguém nos contratou, mas nossa função no mundo é transportar DNA.
O famoso biólogo darwinista Richard Dawkins deu um título poético a um dos seus livros: “River out of Eden”. Tirado de Genese 2:10: “E saía um rio do Éden para regar o jardim, e dali se dividia.” O rio do Éden de Dawkins e de DNA,.
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A falênci múltipla dos orgãos

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Lya Luft
Nada mais acertado. Há quase dez anos realizo aqui na coluna minhas passeatas: estas páginas são minha avenida, as palavras são cartazes. Falo em relações humanas e seus dramas, porém mais frequentemente nas coisas inaceitáveis na nossa vida pública. Esgotei a paciência dos leitores reclamando da péssima educação — milhares de alunos sem escola ou abrigados em galpões e salinhas de fundo de igrejas, para chegarem aos 9, 10 anos sem saber ler nem escrever.
Professores desesperados tentando ensinar sem material básico, sem estrutura, salários vergonhosos, estímulo nenhum. Universidades cujo nível é seguidamente baixado: em lugar de darem boas escolas a todas as crianças e jovens para que possam entrar em excelentes universidades por mérito e esforço, oferecem-lhes favorecimentos prejudiciais.
Tenho clamado contra o horror da saúde pública, mulheres parindo e velhos morrendo em colchonetes no corredor, consultas para doenças graves marcadas para vários meses depois, médicos exaustos trabalhando além dos seus limites, tentando salvar vidas e confortar os pacientes, sem condições mínimas de higiene, sem aparelhamento e com salário humilhante.
Em lugar de importarmos não sei quantos mil médicos estrangeiros, quem sabe vamos ser sensatos e oferecer condições e salários decentes aos médicos brasileiros que querem cuidar de nós?
Tenho reclamado das condições de transporte, como no recente artigo “Três senhoras sentadas”: transporte caro para o calamitoso serviço oferecido. “Nos tratam como animais”, reclamou um usuário já idoso. A segurança inexiste, somos mortos ao acaso em nossas ruas, e se procuramos não sair de casa à noite somos fuzilados por um bando na frente de casa às 10 da manhã.
E, quando nossa tolerância ou resignação chegou ao limite, brota essa onda humana de busca de dignidade para todos. Não se trata apenas de centavos em passagens, mas de respeito.
As vozes dizem NÃO: não aos ônibus sujos e estragados, impontuais, motoristas sobrecarregados; não às escolas fechadas ou em ruínas; não aos professores e médicos impotentes, estradas intransitáveis, medo dentro e fora de casa. Não a um ensino em que a palavra “excelência” chega a parecer abuso ou ironia. Não ao mercado persa de favores e cargos em que transformam nossa política, não aos corruptos às vezes condenados ocupando altos cargos, não ao absurdo número de partidos confusos.
As reclamações da multidão nas ruas são tão variadas quanto nossas mazelas: por onde começar?
Talvez pelo prático, e imediato, sem planos mirabolantes. Algo há de se poder fazer: não creio que políticos e governo tenham sido apanhados desprevenidos, por mais que estivessem alienados em torres de marfim.
Infelizmente todo movimento de massas provoca e abriga sem querer grupos violentos e anárquicos: que isso não nos prejudique nem invalide nossas reivindicações.
Não sei como isso vai acabar: espero que transformando o Brasil num lugar melhor para viver. Quase com atraso, a voz das ruas quer lisura, ética, ações, cumprimento de deveres, realização dos mais básicos conceitos de decência e responsabilidade cívica, que andavam trocados por ganância monetária ou ânsia eleitoreira.
Que sobrevenham ordem e paz. Que depois desse chamado à consciência de quem lidera e governa não se absolvam os mensaleiros, não se deixem pessoas medíocres ou de ética duvidosa em altos cargos, acabem as gigantescas negociatas meio secretas, e se apliquem decentemente somas que poderão salvar vidas, educar jovens, abrir horizontes.
Sou totalmente contrária a qualquer violência, mas este povo chegou ao extremo de sua tolerância, percebeu que tem poder, não quer mais ser enganado e explorado: que não se destrua nada, mas se abram horizontes reais de melhoria e contentamento

Colhendo os frutos da violência Fernando Gabeira

 

A presença no interior do País, que alguns jornalistas chamam de Brasil profundo, às vezes me deixa em dúvida se estou levando em conta todos os dados possíveis da realidade. Será que tudo o que estou vendo é só um refluxo do movimento de massas e a ocupação do terreno por grupos radicais que usam a violência como um instrumento pedagógico?

Usei um verso de Drummond para definir os acontecimentos de junho: nasce uma flor no asfalto. E disse que seu maior inimigo era a violência, que terminaria por esvaziar as mas e fortalecer o lado que se pretende combater. Não pensava em nada do tipo conselho aos jovens. Apenas dizia que é ilusão supor que a História recomeça do zero. Vive na minha memória, e de todos os sobreviventes dos anos 6o, a lembrança dos acontecimentos que resultaram na luta armada e no fortalecimento da ditadura militar.

Os grampos que se radicalizam na maré baixa dos movimentos acreditam estar mantendo o espírito e preparando nova investida. No 7 de Setembro, quem sabe? Tenho algumas razões para discordar dessa tática, para além da pura e simples objeção à violência. Claro que não me importo com os mal-entendidos nem espero indulgência dos críticos. Valho-me do sentido da realidade que às vezes abandona os grupos radicais quando as mas se esvaziam e só ouvimos o barulho do trânsito.

Nas ruas multidões portavam cartazes dizendo: "Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil. As pessoas viam isso com tolerância, pois era verossímil que tamanha energia concentrada pudesse mudar o País. O mesmo não vale para um grupo de vanguarda, pois é difícil atribuir capacidade de modificar o País a círculos isolados que se escondem sob máscaras e destroem símbolos do capitalismo.

Essas ações pedagógicas são  realizadas na esperança de que I se universalizem, de que outros  as sigam e todos juntos destruam o sistema. Por essa esperança as pessoas se arriscam a ser presas. Acham que mais cedo ou mais tarde vingarão os frutos de sua ação pedagógica. O difícil é ver o tempo passando no cárcere e perceber que tudo aquilo era uma ilusão, constatar que a maioria esmagadora segue rejeitando a violência como forma de luta política.

É preciso passar um tempo  no cárcere, comprometer a própria vida, para aprender essa lição elementar? Pode ser que entre os que queimam e destroem haja alguns que o façam por uma simples explosão nervosa. Mas os que organizam sistematicamente e consideram a tática correta estão jogando conscientemente com o próprio futuro.

Cansei de ver quebra-quebras em Berlim no 1.° de Maio. Sempre os mesmos, sempre na  mesma loja de departamentos.

 E a Alemanha segue seu rumo.

Os políticos agora refluíram e  a polícia brasileira parece indecisa sobre o que fazer com a violência que sobrevive no rescaldo das grandes manifestações. Os políticos temem a eleição, sabem que, mesmo calados, terão dificuldades em 2014. Por que se pronunciar e afastar mais a chance de voltar ao cargo?

Os resultados da baixa maré são claros. As bandeiras principais dos movimentos foram enfraquecidas. O governo recupera gradualmente o prestígio perdido. Não importa se o gigante acordou ou voltou a dormir. Vamos supor como correta a inversão daquela frase comum: quanto mais as coisas ficam as mesmas, mais elas mudam. Ainda não sabemos o impacto que o movimento de junho deixou na consciência de muitos. A pura observação nos autoriza a dizer que se buscava mais a condenação da política do que propriamente uma alternativa. Não só continuaram insolúveis alguns problemas na área política, como se acentuaram os indícios de que a ilusão de prosperidade sustentada foi para os ares.

A queda do real é só mais um capítulo da queda na realidade. Espera-se um aumento da gasolina e com ele mais aperto no bolso, apesar de sua correção. A sensação de crise econômica ; aos poucos vai se impondo à euforia da prosperidade, mas não há nenhuma esperança, no momento, de que possa ser superada por uma visão correta do atual governo.

A política externa brasileira continua sendo a política de um partido. Foi preciso que um jovem diplomata arrancasse um asilado de um quarto da embaixada em La Paz e fugisse com ele para o Brasil. No episódio da prisão dos torcedores corintianos, o mesmo diplomata, Eduardo Saboia, se esforçou para atendê-los enquanto as negociações com Evo Morales patinavam.

Estive na Bolívia para cobrir a revolta dos índios contra a construção de uma estrada na região Amazônica com financiamento do BNDES. Dois governos que se dizem populares se meteram numa aventura altamente impopular. Alguns adeptos do PT acham que é preciso falar fino com a Bolívia e grosso com os EUA. Será que a maioria da Nação realmente se sente paternal diante da Bolívia e ofendida diante dos EUA?

Com todos os descaminhos do governo é preciso contar apenas com novas manifestações? Elas têm um grande poder, mas já não somos inocentes sobre seu alcance real. Os políticos encenam um esforço concentrado, esperam o refluxo do movimento e caem, de novo, nas mesmas práticas repulsivas.

As grandes manifestações de junho tiveram o poder de revelar a incapacidade do sistema político no conjunto, a incompetência do governo e a repulsa à corrupção. Está na hora de valorizar não só o protesto, mas a busca de alternativas reais para o País. O crescimento dos últimos anos, apoiado numa bolha de consumo, parece ter chegado ao fim. A mediocridade do governo fica mais clara ainda.

Manifestações são vitais, mas a História é mais parecida com maratona do que tiro de cem metros. E a política, uma navegação que requer conhecimento dos mares, rochedos, portos a serem alcançados e as dificuldades do caminho. Estamos à deriva. Tal como na Espanha, sabemos o que as pessoas não querem. Prevemos altos índices de voto nulo. Cairá a legitimidade do poder político. Saída mesmo ainda não se vê no horizonte.

A gangue do brilhoso


 
Ouvir o texto
"Bling", em inglês, são as joias grandes, preciosas de um jeito óbvio e ostentatório --um pouco cafonas. "Ring" significa anel ou, então, círculo de amigos ou cúmplices.
Na coluna da semana passada propus traduzir o título do novo filme de Sofia Coppola, "The Bling Ring", como "a turma do deslumbre". Poderia ser também "o brilhoso" ou "a gangue do brilhoso".
Também na semana passada, concordei com a indicação do filme para maiores de 16 anos --fiquei feliz de não ter levado nenhum adolescente comigo para o cinema.
O filme conta a história (verídica) de um grupinho de adolescentes de Los Angeles que se tornaram famosos à força de invadir a casa de pessoas famosas para lhes roubar os apetrechos da fama (roupas e objetos de luxo).
Na história, não há violência nem sexo além da conta. O consumo de drogas e a ousadia criminosa dos jovens são o de menos. Mas não encontrei nenhum adulto que não tenha se angustiado a ponto de considerar a possibilidade de sair antes do fim: a estupidez dos adolescentes da gangue é obscena.
Certamente (espero), nossos filhos e filhas ficariam tão horrorizados quanto a gente. Mas o que fazer se eles se reconhecessem nos protagonistas do filme? Se eles os achassem "legais" ou engraçados? Como agir se, na ocasião do filme, a gente descobrisse que "nossos" adolescentes são daquele mesmo feitio?
Mais um pensamento ansiógeno: quando não há adultos à vista, a adolescência se torna um pesadelo de tentativas de "crescer", uma mais incerta que a outra. Ora, nunca há adultos à vista quando os adultos adotam a adolescência como seu próprio ideal. Por favor, pense nisso quando você escolhe sua roupa, seu lazer, suas conversas...
Um mundo só de adolescentes nos espreita, e esse mundo é um vazio preenchido quer seja pelo tédio, quer seja pelo deslumbre.
Do tédio adolescente ouvimos falar nesta semana, quando, em Brasília, três jovens de classe média repetiram a "façanha" dos assassinos do índio Galdino em 1997: mataram um morador de rua para se divertir, para vê-lo queimar. Ou, então, quando, com um tiro nas costas, três jovens de Oklahoma City (EUA) mataram um homem que passava por eles; explicaram que estavam entediados e queriam ver alguém morrer.
Quanto ao deslumbre adolescente, podemos confiar em Sofia Coppola.
Paradoxo: uma crítica  lamenta que Coppola, em seu filme, não passe da superfície. Mas essa é exatamente a questão do filme: não há nada debaixo da superfície. Coppola fez um filme sobre "a era da futilidade máxima" (na bonita expressão de Paulo Ghiraldelli, h.
Os jovens de Coppola são os representantes de uma geração   que se ocupa em tempo integral da constituição e da difusão, não de sua história ou de suas histórias, não de sua experiência de vida, não de suas crenças e de seus mitos, mas exclusivamente de sua imagem.
Os famosos que servem de modelo para essa geração não são tanto as estrelas de Hollywood quanto as celebridades dos reality shows (como Audrina Patridge, uma das vítimas da gangue).
Os membros da gangue nunca comentam ou mencionam um filme ou um seriado no qual apareçam as eventuais atrizes que são suas vítimas admiradas.
Eles "visitam" repetidamente a casa de Paris Hilton, que é famosa apenas por ser Paris Hilton. Eles adoram Lindsay Lohan, que é famosa sobretudo por suas prisões por dirigir bêbada e drogada.
Sem interesse nas "obras" de suas celebridades preferidas, os personagens de Coppola conhecem perfeitamente os apetrechos da celebridade: passeando pelo closet de suas vítimas, eles identificam imediatamente os modelos que elas usaram em tal ou tal outro tapete vermelho (que valeu fotografia num magazine).
Eles têm razão de prezar os apetrechos da celebridade (e não eventualmente os méritos que poderiam produzi-la). Se a celebridade depende dos apetrechos, então ela pode ser roubada. A celebridade, quando se confunde com a roupa, os sapatos e as joias, é "democrática": para se igualar aos ídolos, basta se apossar de seus objetos.
De que é feito o "self" dos jovens descritos por Coppola? De memórias? De vivências? De esperanças? Quando o "self" é só uma imagem, inevitavelmente, ele é feito de bugiganga, quinquilharia, objetos de consumo.
O marketing descobriu isso há um certo tempo. Ou você acha que as "estrelas" que vendem um perfume com seu nome tiveram o faro de inventá-lo?

Quadrinhos clássico do Fantasma voltam às bancas do jornal











Quadrinhos clássicos do Fantasma, personagem criado em 1936, voltam às bancas de jornalÉ sempre estranho que os heróis de histórias em quadrinhos tenham de usar algum tipo de uniforme. Qual a razão daquelas roupas inteiriças, daquelas capas bandeirosas e sungões tamanho GG?

Corrijo o pensamento, ao imaginar a alternativa absurda. Ninguém de paletó, gravata e chapéu poderia sobrevoar os céus de Metrópolis sem ridículo. Um Super-Homem de azul esvoaçante pode ser absurdo, mas seria ainda mais absurdo em roupagens civis.

Joaquim Barbosa talvez fosse menos implacável se o despojassem da toga de morcego. Verdade que outros ministros do STF, capazes de mostrar larga indulgência frente aos réus do mensalão, usam também a capa protocolar.

Só que, sentados, deixam que predomine o paletó comum, a camisa neutra, a gravata banalíssima. Os males da coluna forçam Barbosa a manter-se de pé. Pior que isso. Apoiado no espaldar da poltrona giratória, o presidente do STF parece uma águia no alto do penhasco, pronto para a arremetida fatal.

Não me estendo na comparação. Concluo que a roupa ajuda e volto ao tema dos uniformes dos super-heróis.

Nenhum mais absurdo, pensando bem, que o do meu preferido na infância. Tratava-se do Fantasma, "o espírito que anda". Em plena selva do interior da Índia, ou talvez na África Equatorial, ele não tirava nunca a malha roxa, que lhe cobria a cabeça inclusive.

Por cima, o maiô de listras pretas em diagonal, do qual pendia o prosaico acessório de uma pistola automática, no coldre antigo. O mais estranho era a máscara, sumária como a parte de cima de um biquíni, mas que por alguma razão velava seus olhos atrás de uma borracha branca.

Naquela indumentária grudenta, meio de mergulhador, meio de Fanta Uva, o Fantasma sentava-se sozinho no Trono da Caveira, afagando seu lobo Capeto, e dava audiência a seus súditos --uma tribo de pigmeus, dotada de rei próprio, a quem distinguia um chapéu cônico de galhos secos, à guisa de coroa.

Com tudo isso, o Fantasma me parecia mais interessante do que Mandrake, Tarzã, Super-Homem e mesmo o Batman. Seria, provavelmente, mais "sexy" que todos esses rivais.

Tinha, também, aparência mais maligna. Cercava-se de caveiras; longe do ambiente urbano, na escuridão da jângal, cultivava a própria lenda.

Ao mesmo tempo, não tinha nenhum poder sobrenatural. Apenas a credulidade dos nativos --sempre ela-- cuidava de aumentar suas façanhas. Era tido por imortal. Mas não; representava apenas o último descendente de uma dinastia que há 400 anos, com o mesmo uniforme, jurara combater os malfeitores daquelas bandas.

Teria voado até as nuvens para derrotar um gigante de dez andares. Não, não. A própria narrativa dos quadrinhos ironizava a licença poética dos selvagens. No máximo, esmurrara um gângster grandalhão.

Claro que, destituído de superpoderes, o Fantasma se tornava ainda mais formidável aos olhos de um menino. Representava o luxo de uma completa autonomia; era realista em seu delírio; não tinha nada com que contar, exceto a imaginação dos pigmeus que o seguissem.

Sai nas bancas, pela editora Pixel, um livro com as primeiras histórias do Fantasma. Com história de Lee Falk e desenhos de Ray Moore, a saga dos "Piratas do Céu" foi publicada pela primeira vez em fins de 1936.

Embora a publicação da Pixel se apresente como o primeiro volume de uma série, já pegamos a aventura pela metade. Nessas 126 páginas, em quadrinhos bem pequenos, o herói está às voltas com uma quadrilha composta exclusivamente de belíssimas aviadoras.

Eu tinha a impressão --mas pode ser devido a versões posteriores-- que os desenhos do Fantasma fossem menos primitivos. Os movimentos do herói são rígidos, os enquadramentos se prendem ao convencional, as expressões faciais caem no tosco e no amadorístico.

Eram só isso aqueles quadrinhos? Não. A aventura tem boas reviravoltas, e todas devido a um só fator: a inconstância do sexo feminino. Várias vilãs --sempre lindas-- se apaixonam sucessivamente pelo herói. Ele as manipula como quer, mesmo que na maior parte do tempo algemado e atrás das grades.

As aviadoras se dividem, brigam, reconciliam-se, traem-se umas às outras. Não apenas um colonizador levando paz às tribos primitivas, o Fantasma também triunfa, intacto, sobre tantas sedutoras. É o eterno masculino. Talvez por isso mesmo não dispense o collant roxo.
   

Los Médicos Luiz Garcia



A opinião pública talvez esteja solidária com eles. Ela certamente quer mais médicos no país



O programa Mais Médicos não pode ser condenado pelo nome. Ninguém deveria ser contra uma iniciativa que aumente o atendimento aos doentes brasileiros.

Mas é compreensível a irritação dos nossos doutores com a importação, pelo Ministério da Saúde, de profissionais, quase todos cubanos, provocando nos profissionais brasileiros a desconfiança, ou mesmo a certeza, de que o governo não os considera capazes de cuidar da saúde do nosso povo.

Mesmo assim, não é possível aplaudir as vaias e insultos contra os médicos estrangeiros que estão sendo treinados em Fortaleza esta semana. O sindicato local dos profissionais brasileiros, responsável pela manifestação, afirmou que o protesto era apenas contra o Ministério da Saúde, O que pode ser verdade — mas vaia não tem rótulo, e os profissionais importados, todos cubanos, têm direito a se sentirem injustamente insultados.

E a opinião pública talvez esteja solidária com eles. Ela certamente quer mais médicos no país — desde, é claro, que o Ministério da Saúde não se esqueça de providenciar intérpretes em quantidade e qualidade adequadas.

Outra providência oficial obviamente necessária é um diálogo inteligente com os profissionais brasileiros. Não será acusando-os de xenofobia — como fez o ministro da Saúde, Alexandre Padilha — que se resolverá o problema. Inclusive porque os médicos brasileiros insistem em afirmar que seu protesto não era contra os estrangeiros, e sim contra o Ministério da Saúde. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes, ninguém vaiou os cubanos: o alvo era apenas o Ministério da Saúde. Mas é óbvio que os estrangeiros se sentiram atingidos pela reação dos colegas brasileiros à sua presença.

Parece ser uma boa ideia a sugestão dos brasileiros de que os seus colegas estrangeiros sejam submetido ao Revalida, que é um exame nacional de validação do diploma dos médicos. E ninguém falou nisso, mas é obviamente necessário resolver o problema do idioma.

No fim das contas, é obviamente necessário aumentar e melhorar o atendimento aos nossos doentes — principalmente no interior do país. Desde, é claro, que o paciente e o médico entendam claramente o que um e outro estão dizendo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Uma forma de censura Zuenir Ventura



Censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. E a exigência de permissão prévia está criando um ‘balcão de negócios de valores vultosos’

Como não sou biógrafo e nem pretendo ser, não é em causa própria que defendo a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública — político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele ou de seus familiares quando ele não está mais aqui. É o que se faz nas grandes democracias. Só na nossa é que vigora a “biografia autorizada”, um artifício legal que confere ao biografado ou a seus herdeiros o poder de decidir o que deve ou não chegar ao leitor. Assim, no país que lutou tanto para abolir a censura do Estado, pratica-se nos livros a censura privada, já que, como diz o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, liberdade de expressão é “antes de tudo liberdade de informação”, e a ela tem direito todo cidadão. Alega-se que é para resguardar a intimidade alheia. Tudo bem, mas essa dispensa de consentimento antecipado não concede ao autor imunidade, não o isenta de responsabilidade em casos de informações falsas ou ofensivas à honra. Não se trata de um liberou geral. O que se quer evitar é a proliferação da prática perniciosa de busca e apreensão, ou seja, o recolhimento compulsório de obras literárias para impedir o acesso de terceiros. Essa restrição caracteriza-se como censura, e censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. Outro efeito nocivo é que a exigência de permissão prévia está criando um “balcão de negócios de valores vultosos”, conforme denúncia dos editores de livros, que há anos vêm se movimentando por meio de seu sindicato para derrubar o que consideram ser uma “ditadura da biografia chapa-branca”.

Eles estão lutando em duas frentes: uma no Congresso, onde tramita um projeto propondo a modificação do artigo 20 do Código Civil, que permite a apreensão de biografias não autorizadas. A outra, no STF, no qual ingressaram com uma ação direta de inconstitucionalidade do tal artigo, com o objetivo de acabar com a necessidade de autorização prévia. Afinal, a Constituição de 1988 garante, junto com a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à informação. Com pedido de liminar, a ação foi distribuída à ministra Cármen Lúcia, abrindo uma perspectiva de luz no fim do túnel. Por sua sensatez, ela costuma ser chamada de “Carmen lúcida”.

Uma forma de censura Zuenir Ventura



Censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. E a exigência de permissão prévia está criando um ‘balcão de negócios de valores vultosos’

Como não sou biógrafo e nem pretendo ser, não é em causa própria que defendo a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública — político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele ou de seus familiares quando ele não está mais aqui. É o que se faz nas grandes democracias. Só na nossa é que vigora a “biografia autorizada”, um artifício legal que confere ao biografado ou a seus herdeiros o poder de decidir o que deve ou não chegar ao leitor. Assim, no país que lutou tanto para abolir a censura do Estado, pratica-se nos livros a censura privada, já que, como diz o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, liberdade de expressão é “antes de tudo liberdade de informação”, e a ela tem direito todo cidadão. Alega-se que é para resguardar a intimidade alheia. Tudo bem, mas essa dispensa de consentimento antecipado não concede ao autor imunidade, não o isenta de responsabilidade em casos de informações falsas ou ofensivas à honra. Não se trata de um liberou geral. O que se quer evitar é a proliferação da prática perniciosa de busca e apreensão, ou seja, o recolhimento compulsório de obras literárias para impedir o acesso de terceiros. Essa restrição caracteriza-se como censura, e censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. Outro efeito nocivo é que a exigência de permissão prévia está criando um “balcão de negócios de valores vultosos”, conforme denúncia dos editores de livros, que há anos vêm se movimentando por meio de seu sindicato para derrubar o que consideram ser uma “ditadura da biografia chapa-branca”.

Eles estão lutando em duas frentes: uma no Congresso, onde tramita um projeto propondo a modificação do artigo 20 do Código Civil, que permite a apreensão de biografias não autorizadas. A outra, no STF, no qual ingressaram com uma ação direta de inconstitucionalidade do tal artigo, com o objetivo de acabar com a necessidade de autorização prévia. Afinal, a Constituição de 1988 garante, junto com a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à informação. Com pedido de liminar, a ação foi distribuída à ministra Cármen Lúcia, abrindo uma perspectiva de luz no fim do túnel. Por sua sensatez, ela costuma ser chamada de “Carmen lúcida”.

Uma forma de censura Zuenir Ventura



Censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. E a exigência de permissão prévia está criando um ‘balcão de negócios de valores vultosos’

Como não sou biógrafo e nem pretendo ser, não é em causa própria que defendo a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública — político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele ou de seus familiares quando ele não está mais aqui. É o que se faz nas grandes democracias. Só na nossa é que vigora a “biografia autorizada”, um artifício legal que confere ao biografado ou a seus herdeiros o poder de decidir o que deve ou não chegar ao leitor. Assim, no país que lutou tanto para abolir a censura do Estado, pratica-se nos livros a censura privada, já que, como diz o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, liberdade de expressão é “antes de tudo liberdade de informação”, e a ela tem direito todo cidadão. Alega-se que é para resguardar a intimidade alheia. Tudo bem, mas essa dispensa de consentimento antecipado não concede ao autor imunidade, não o isenta de responsabilidade em casos de informações falsas ou ofensivas à honra. Não se trata de um liberou geral. O que se quer evitar é a proliferação da prática perniciosa de busca e apreensão, ou seja, o recolhimento compulsório de obras literárias para impedir o acesso de terceiros. Essa restrição caracteriza-se como censura, e censura de natureza artística é constitucionalmente vedada sob qualquer disfarce. Outro efeito nocivo é que a exigência de permissão prévia está criando um “balcão de negócios de valores vultosos”, conforme denúncia dos editores de livros, que há anos vêm se movimentando por meio de seu sindicato para derrubar o que consideram ser uma “ditadura da biografia chapa-branca”.

Eles estão lutando em duas frentes: uma no Congresso, onde tramita um projeto propondo a modificação do artigo 20 do Código Civil, que permite a apreensão de biografias não autorizadas. A outra, no STF, no qual ingressaram com uma ação direta de inconstitucionalidade do tal artigo, com o objetivo de acabar com a necessidade de autorização prévia. Afinal, a Constituição de 1988 garante, junto com a liberdade de imprensa e de expressão, o direito à informação. Com pedido de liminar, a ação foi distribuída à ministra Cármen Lúcia, abrindo uma perspectiva de luz no fim do túnel. Por sua sensatez, ela costuma ser chamada de “Carmen lúcida”.

Um mundo transparente Roberto Damata



Li uma vez uma lenda na qual se contava o seguinte:

Um gênio descobriu o poder da comunicação pelo pensamento. No início, foi uma delícia poder falar sem sons - sem gemidos, lágrimas, sussurros e sorrisos. Como no cinema mudo, as pessoas exultavam com o fato de comunicar-se pelo cérebro. Bastava pensar numa pessoa e, pronto! - fazia-se o contato. Mas logo os homens, com sua habitual incongruência e, como disse Machado de Assis, sua sistemática ingratidão, ficaram infelizes. Pois descobriram o vazio do silêncio (que só existe quando há barulho) e viram como ele era não apenas grato, mas essencial. Se não era fácil viver num mundo ruidoso, no qual os sentimentos e as palavras de ordem superavam a compreensão, não era fácil viver num universo no qual a comunicação era radical, completa e transparente. Pois, com o pensamento, nada ficava oculto, nada permanecia escondido e os mal-entendidos que inventam os ódios e os amores; a fé que produz os milagres e os poemas; os primitivos "acho que você não me entendeu..."; os selvagens "mas essa não era minha intenção..."; os rústicos "eu sempre quis te dizer isso, mas teu marido estava por perto..."; e os contratos desapareceram.

O pensamento - invisível e inaudível, sinuoso, permanente, incontrolável e invasivo como uma enchente - tornava a compreensão entre os seres humanos um ato absoluto. E, justamente por isso, ele impedia tudo, principalmente os sentimentos. Os primeiros a serem liquidados foram atos fundamentais: o fingir, o disfarçar e o mentir. E, sem poder mentir, houve uma tal sinceridade que a individualidade, com suas escolhas e seus planos essencialmente secretos; as paixões, com suas fúrias, inibições e gozos; e as esperanças, com suas expectativas, desvaneceram-se. E assim muita gente se matou, especialmente no governo, nas igrejas e na universidade. Muitos isolaram-se em casas com paredes de chumbo que, descobriu-se, tornavam fracas as ondas mentais, diminuindo, mas infelizmente não impedindo, a telepatia e a tragicomédia de um entendimento total, completo e absoluto.

Em poucos anos, o drama que é justamente o que jaz eternamente entre o dito e o não dito; o que fica encerrado dentro de cada qual sem ruído ou palavra; ou o que se transforma em silêncio ou suspiro reprimido, tornou-se coisa do passado, e as pessoas ficaram muito amargas e tristes porque não havia mais a distinção entre o manifesto e o oculto, de modo que a comédia e o riso ficaram escassos. E, sem riso e comédia, sumiram igualmente as lágrimas e o choro, pois não havia mais o que se poderia exprimir além dos pensamentos. Ou melhor, sem as palavras e os seus sons, não havia mais a vontade de exprimir sentimentos, os quais dependiam exatamente das palavras, pois, como se sabe, nenhuma sentença verbal ou canto traduz uma amizade, um desejo, um perdão, uma bênção, um ódio ou uma esperança. Sem sons, o ato de dar, de receber e de retribuir palavras, músicas, brindes, beijos e presentes sumiu. As descontinuidades entre os sons foram suprimidas pelas continuidades dos pensamentos, o que fez com que a humanidade fosse atingida por um enorme silêncio, pois ninguém precisava produzir sons para implorar, dar, perdoar, perguntar, discutir, rir, protestar ou jogar conversa fora. Viviam todos num silêncio profundo lançando mensagens telepáticas uns aos outros e, quando souberam que seus ancestrais usavam da fala para a comunicação, ficaram intrigados e com inveja. Foram ouvir o mar e os ventos cujos sons lhes pareceram encantadores.

Como todas as portas humanas, a novidade da telepatia também trouxe seus problemas, pois o pensamento decorria de línguas naturais que eram variadas, mas que, com a evolução da comunicação pelo pensamento, perderam seus lastros, suas concretudes e suas diferenças. Agora ninguém podia dizer aquilo que só poderia ser dito em inglês, alemão, russo, português, tupi ou chinês. A universalização absoluta do telepático produziu uma perda irreparável nos modos de dizer porque o pensamento puro se fazia numa só língua: uma espécie de Esperanto que juntava todos os idiomas vivos e mortos, antigos e modernos, mas que não era língua nenhuma. Dizem que a partir da telepatia, a poesia, a literatura, a música e os mitos acabaram.

E os homens, como sempre, arrependeram-se e pediram de volta as suas línguas antigas que permitiam o milagre das compreensões sempre incompreendidas. Mas era tarde demais....