"Os homens são quase sempre levados a crer,
não pela prova, mas pelo agrado."
"...a necessidade de crer constitui um
elemento psicológico tão irredutível quanto o prazer ou a dor. A alma humana tem
aversão à duvida e à incerteza."
"Não é o pensamento, mas a
sensibilidade, que nos revela nosso verdadeiro ‘eu’."
"Desde que os
assuntos sobre os quais se quer raciocinar caem no campo da crença, a reflexão
perde o seu poder crítico.”
"Para mover, cumpre comover."
"...nem
sempre acreditamos na mentira alheia, mas facilmente damos crédito às nossas
próprias."
"Uma lógica afetiva demasiada leva a ceder sem reflexão a
impulsos frequentemente funestos. Uma lógica mística excessiva suscita as
exigências religiosas, dominadas pela preocupação egoísta da sua salvação, e sem
utilidade social. Uma lógica coletiva exagerada promove a predominância dos
elementos inferiores de um povo e o conduz à barbárie. Uma lógica racional em
demasia provoca a dúvida e a inação."
"A força dos fanáticos reside
precisamente na rigorosa obediência ao seu ideal perigoso."
"O interesse
possui, como a paixão, o poder de transformar em verdade aquilo em que lhe é
útil acreditar."
"Sendo lenta e penosa a elaboração de um julgamento, o
homem se contenta, em geral, com as primeiras impressões, isto é, com as
sugestões da simples intuição. (...) Abandonar-se a elas sem exame, como muitas
vezes se procede, é atravessar a vida na persuasão de um erro. Elas só têm,
efetivamente, por sustentáculo simpatias e antipatias instintivas que nenhuma
razão ilumina. É, entretanto, sobre bases tão frágeis que, às mais das vezes, se
edificam as nossas concepções do justo e do injusto, do bem e do mal, da verdade
e do erro."
"Tão irredutível quanto a necessidade de crer, a necessidade
de explicações acompanha o homem desde o berço até ao túmulo. Ela contribuiu
para criar os seus deuses e diariamente determina a gênese de numerosas
opiniões. Essa necessidade intensa facilmente se satisfaz. As respostas mais
rudimentares são suficientes. (...) Sempre ávido de certezas definitivas, o
espírito humano guarda muito tempo as opiniões falsas fundadas na necessidade de
explicações e considera como inimigos do seu repouso aqueles que as combatem. O
principal inconveniente das opiniões baseadas em explicações errôneas é que,
admitindo-as como definitivas, o homem não procura outras. Supor que se conhece
a razão das coisas é um meio seguro de não a descobrir. A ignorância da nossa
ignorância tem retardado de longos séculos os progressos das ciências e ainda,
aliás, os restringe. A sede de explicações é tal que sempre foi achada alguma
para os fenômenos menos compreensíveis. O espírito tem mais satisfação em
admitir que Júpiter lança o raio do que em se confessar ignorante em relação às
causas que o fazem rebentar."
"Suficientemente repetida, a afirmação
acaba por criar, primeiramente, uma opinião e, mais tarde, uma crença. A
repetição é o complemento necessário da afirmação."
"A moda não conhece
revoltadas; só a extrema pobreza lhe recusa escravas. Nenhum dos deuses do
passado foi mais respeitosamente obedecido."
"...uma opinião qualquer
universalmente aceita constituirá sempre, para a multidão, uma
verdade."
"Os elementos constitutivos da nossa existência pertencem, como
sabemos, a três grupos: vida orgânica, vida afetiva, vida intelectual. A
necessidade de crer alia-se à vida afetiva. Tão irredutível quanto a fome ou o
amor ela é, freqüentemente, tão imperiosa. Constituindo uma invencível
necessidade da nossa natureza afetiva, a crença não pode, e nisso é como um
sentimento qualquer, ser voluntária e racional. A inteligência não a forma nem a
governa.'
"Um dos mais constantes caracteres gerais das crenças é a sua
intolerância. Ela é tanto mais intransigente quanto mais forte é a crença. Os
homens dominados por uma certeza não podem tolerar aqueles que não a
aceitam."
"O nosso máximo esforço de independência consiste em opor, por
vezes, um pouco de resistência às sugestões ambientes. A grande massa nenhuma
resistência opõe e segue as crenças, as opiniões e os preconceitos do seu grupo.
Ela lhe obedece sem ter mais consciência do que a folha seca arrastada pelo
vento."
"Uma crença é um ato de fé que não exige provas e, aliás, não é,
as mais das vezes, verificável por nenhuma. Se a fé se impusesse somente por
argumentos racionais, poucas crenças se teriam podido formar no decurso dos
séculos. (...) A sugestão e o contágio mental pelos quais se propagam as crenças
são independentes da razão."
"Se as crenças fossem acessíveis à
influência da razão, teríamos visto desaparecer, há muito tempo, todas as que
são absurdas."
"A razão pode provocar o desejo de crer, nunca terá,
porém, a força de fazer crer."
"Confinado num deserto, privado de
qualquer símbolo, o crente mais convicto veria rapidamente declinar a sua fé.
Se, entretanto, anacoretas e missionários a conservam, é porque incessantemente
relêem os seus livros religiosos e, sobretudo, se sujeitam a uma multidão de
ritos e de preces. A obrigação para o padre de recitar diariamente o seu
breviário foi imaginada pelos psicólogos que conheciam bem a virtude sugestiva
da repetição. Nenhuma fé é durável se dela se eliminam os elementos fixos que
lhe servem de apoio. Um Deus sem tempestades, sem imagens, sem estátuas,
perderia logo os seus adoradores."
"...as religiões realmente monoteístas
só existiram nos livros. O cristianismo, por exemplo, logo anexou legiões de
anjos, santos e demônios, que correspondem exatamente às divindades secundárias
do mundo antigo e são venerados ou temidos como aquelas. Essa multiplicidade de
deuses secundários nas crenças monoteístas e a divisão rápida destas últimas em
seitas mostram claramente que o monoteísmo é um conceito teórico, que não
satisfaz às nossas necessidades afetivas e místicas."
"Os povos de todas
as raças adoraram, sob nomes diversos, uma única divindade: a
esperança."
"Enquanto a ciência não revela as imutáveis verdades, ocultas
talvez sob as aparências das coisas, cumpre que nos contentemos com as certezas
acessíveis ao nosso espírito.