segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A revolta do Jaleco Branco Gazeta do Povo



Profissionais da medicina precisam desenvolver agenda positiva, fazendo da crise gerada pelo Mais Médicos um degrau para avanços na saúde pública



O ano de 2013 vai ser lembrado como aquele em que a medicina no Brasil passou por um tsunami. O programa Mais Médicos, do governo federal, se tornou alvo de toda a sorte de impropérios. Ainda se pode ouvir o eco da voz de Roberto D’Ávila, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), tachando o projeto de “demagógico, eleitoreiro, populista, atrasado”. Na batalha verbal, os médicos saíram em desvantagem. Havia uma demanda reprimida na sociedade em relação à categoria, que no imaginário do cidadão comum paga a conta pelas deficiências dos serviços de saúde no país. Os predicados creditados pelos populares aos médicos em geral não são cartas de amor: corporativistas, ligeiros no atendimento, não raro negligentes.

Infelizmente, tudo indica que o governo não assinou a Medida Provisória 621, de 8 de julho, apenas para sanar a falta de profissionais de medicina nos rincões do país. Aproveitou a deixa para tirar proveito da má fase dos médicos com a população. Nesse sentido, o protesto de D’Ávila merece o eco que teve. Houve uma dose de covardia nessa história. Trouxe efeitos colaterais. Numa das centenas de textos publicados na imprensa sobre o assunto, um dos mais contundentes – do filósofo Luiz Felipe Pondé – chama o governo de fascista. Acusa a turma de Brasília de agir com os médicos da mesma maneira como Hitler um dia agiu com os judeus, demonizando-os, reduzindo-os a comerciantes preocupados com a reserva de mercado.

Ora, não é preciso um grande raciocínio para saber que as opiniões genéricas sobre os médicos são o que são: genéricas. Nesse exato momento, milhares de profissionais estão fazendo valer o juramento de Hipócrates e exercendo sua profissão com lisura, pois isso lhes é natural. Como diz o ditado popular, não é por causa dos bêbados que se vai jogar todo o vinho fora. A indignação dos médicos com as investidas do governo faz o maior sentido. Não podem aceitar o rótulo antipático que lhes foi colocado, e ponto.

Salvo que o ressentimento não é um bom conselheiro. O atual estado das coisas exige uma agenda positiva. Urge não só lamentar a geografia médica do país – alta concentração nas capitais, baixa concentração no interior. Tem-se de entender por que se tornou cada vez mais rara a figura do médico idealista, que se instalava para cidades pequenas. Mudou a medicina – que se sofisticou. Mudaram os médicos. E esse é o ponto de partida.

Mal não faria ao governo aplicar inteligência e criatividade para conseguir mobilidade médica. Alguns dirão “bem que tentou”, mas o fez de forma autoritária, sem dialogar com a sociedade organizada. A grita toda dos profissionais reside aí. Na semana passada, os próprios paranaenses viram aonde pode chegar a indignação: para não ferir a própria consciência, como alegou, o presidente do CRM do Paraná, Alexandre Bley, renunciou ao posto.

Bley pôs mais uma vez à mostra o estado de ânimo da discussão. Não haverá paz tão cedo se o governo não admitir que usou de estratégias duvidosas para resolver uma relação muito delicada. A estratégia – tratar centenas de médicos estrangeiros como intercambistas, logo, bolsistas – soou como uma negativa das pautas de reivindicações dos profissionais da medicina. Foi como se a alegada falta de condições para o exercício do ofício, em determinadas partes do país, não passasse de conversa mole.

Do outro lado, cabe aos médicos reconhecer que o governo tinha de tomar uma atitude, e que os próprios calos da medicina dificultam qualquer sorte de negociação. Difícil. Crente nisso, o Ministério da Saúde não pediu licença e veio como um rolo compressor. Tinha a seu favor os dados nauseabundos do setor. Respondeu com baldes de pipoca: num informe, fez o anúncio de que são 681 profissionais à espera de autorização e boa vontade dos CRMs; noutro, a informação de que em outubro receberemos mais 2 mil cubanos.

É um morde sem assopra. Dados bem azeitados, saídos do Ipea, mostram que a medicina tem a mais alta taxa de ocupação e os melhores salários. A escassez concorre a favor da categoria. Faltam médicos. Fóruns governamentais precisam se formar – para que a defesa dos médicos ganhe forma e a discussão vá para além desse telecatch que se formou.

Por certo, o debate revelará que a questão é muito mais orgânica do que se imagina. A falta de profissionais passa pela estrutura capenga do interior brasileiro: estradas, escolas, conexão. A lista vai longe. Quem quer viver nessas distâncias insalubres? A medicina é a carência mais notória, mas são tantas que a sigla “Mais” poderia ser aplicada a pelo menos uma dezena de categorias profissionais

Reflexão

Reflexão

Será que sabemos realmente definir o que é urgente em nossas vidas? Sabemos dar prioridades em nossas urgências?

Reflitam!!


Se você tivesse que enumerar, neste instante, todas as suas urgências, o que é que constaria em sua lista?

Talvez tenha na memória os compromissos mais urgentes de hoje, ou já tenha dado uma olhada na agenda e constatado que eles são muitos e quase todos importantes.

Todavia, antes de começar a correria costumeira do seu dia, vale a pena refletir mais detidamente no que é realmente urgente.

A vida agitada dos dias atuais nos leva a estabelecer uma lista de urgências
que nos faz, tantas vezes, perder o significado real do que são prioridades.

Para algumas pessoas, urgente são somente as coisas materiais, esquecidas de que, no dia em que partirem, deixarão pendentes as coisas que realmente eram urgentes.

Para melhor avaliar o que sejam prioridades de fato, verifique sua lista e anote tudo o que terá que ficar na alfândega do túmulo, caso tivesse que partir agora.

Sem desconsiderar as necessidades materiais que a vida no corpo físico exige, é necessário estabelecer prioridades também no campo afetivo, junto às pessoas que estagiam conosco nesta existência.

Urgente, por exemplo, é que você pare um momento na sua vida agitada e se pergunte: Que significado tem tudo isso que faço?

Urgente é que seja mais humano e mais irmão.
É que saiba valorizar o tempo que pede a uma criança.

Urgente é que veja o nascer do sol, sinta o seu calor e agradeça a Deus por tão grandioso presente.

É saber aproveitar as lições do dia-a-dia da melhor forma possível, em benefício do progresso do Espírito imortal, que transcende a vida física.

Urgente é que curta a sua família, seus filhos, sua esposa e todos que o rodeiam, e valorize esse precioso tesouro.

Urgente é que diga às pessoas que lhe são caras o quanto as ama e o quanto são importantes para você.

Urgente é que saiba que é filho de Deus e se dê conta de que Ele o ama e quer vê-lo sorrindo, feliz e cheio de vida!

Urgente é que não deixe a vida passar como um sopro e, quando estiver no fim da linha, não olhe para trás como quem quer voltar e percebe que já não há tempo...

Já não há tempo porque tudo o que fez foi urgente...
Você foi um grande empresário, encheu sua agenda de urgências, compromissos e projetos... mas se esqueceu de viver.

Foram tantas as urgências que deixou passar a verdadeira finalidade da existência, que é aprender a amar. É desenvolver o amor por si mesmo e estendê-lo ao seu próximo.

Por todas essas razões, reveja sua lista de urgências e priorize aquelas que são realmente importantes.
Faça isso hoje... Não deixe para amanhã.

Se faz muito tempo que não almoça ou janta em casa para atender aos negócios, pense que sua família deve ser a prioridade número um da sua lista.

Você lembra quantas vezes evitou o abraço carinhoso de um filho, para não amarrotar ou sujar a sua roupa, que deveria estar impecável para a próxima reunião?

Lembra-se a quantas festinhas na escola de seu filho deixou de ir por causa das suas urgências profissionais?

Pare um pouco e veja se não há nenhuma inversão de valores em suas urgências. E se constatar alguma irregularidade, ainda é tempo de reverter a ordem das coisas.
* * *
Se você está enfermo, sua prioridade é tratar da saúde.
Se está estressado, sua urgência é buscar um meio de sair desse estado.

Mas, se você sente um grande vazio na alma, nada do que tem feito lhe faz feliz, a depressão ameaça se instalar e nuvens cinzentas pairam sobre seu mundo, você está diante de uma emergência.

Procure uma pequena brecha mais clara, segure as nuvens com as duas mãos e abra-as para que o azul do céu apareça...

E se suas mãos não conseguem afastar as nuvens, rompa-as com uma oração sincera e busque conectar-se com o Alto, permitindo que a Luz Divina penetre em seu ser e ilumine definitivamente o seu caminho.

Por Redação do Momento Espírita com base em frases de autoria desconhecida.

Queridos amigos!! Que possamos analisar como estamos levando nossa vida, se nossas urgências realmente são urgências. Se não estamos muitas vezes abandonando nossa família, a nós mesmos em prol apenas do dinheiro, status ou outro motivo. Será que estamos vivendo? Amando? Aprendendo? Vamos refletir!
Um forte abraço!
Velho Sábio!!

Inconsciente

O inconsciente é uma parte de nossa psique que guarda tudo que já vivenciamos. Para que entenda melhor, veja o exemplo abaixo. Na divisão do triângulo acima, qual parte você considera que seja o correspondente ao inconsciente? A parte maior ou menor?
O inconsciente representa a parte maior. É poderoso, sábio e ilimitado. Sua proporção em relação ao consciente é a mesma que do mar para a terra.

Ele é enorme, pois tudo que você viveu, quer você lembre ou não, está registrado nele, desde sua concepção até o momento presente. Enquanto não houver autoconhecimento, a maior parte de seus comportamentos, atitudes, decisões e reações serão regidos pelo inconsciente, por isso é tão importante entender sua linguagem.
Para entender melhor o inconsciente é preciso saber que:
- Imaginar ou realizar é igual

Para o inconsciente o fato de você pensar algo (imaginação) ou realizar tem o mesmo efeito. Lembre-se, ele trabalha com imagens registradas em sua mente, por isso, muitas vezes você fica abalado, nervoso, só de pensar que algo possa acontecer (leia mais). É também por isso que a meditação traz tantos resultados. Por exemplo, o fato de você imaginar que está sendo envolvido por uma bolha de luz azul que acalma, terá um efeito como se essa luz realmente envolvesse seu corpo.
- Doenças e/ou sintomas

O inconsciente se expressa também pelos sintomas e/ou doenças. Quando tiver uma dor, encare como um sinal, algo que possa estar sinalizando que é preciso refletir e mudar algum comportamento. Se não respeitarmos os sinais, nosso corpo sabiamente o faz, nos fazendo adoecer para parar e perceber que devemos mudar algo. Por exemplo, se estamos cansados, estressados e não respeitamos isso, pode surgir uma doença para nos fazer parar. E isso deve ser entendido como uma oportunidade para refletir e mudar o padrão.

Por exemplo, surgiu uma dor de garganta e sua voz sumiu. Deve usar a linguagem simbólica e fazer uma relação da dor com sua vida neste momento. Será que queria falar algo e não conseguiu? Ou ainda, uma forte dor de ouvido. O que ouviu que não gostou e “doeu”? Ou não quer mais ouvir e se nega “tapando” seus ouvidos?

Quando se está com alguma doença séria, por exemplo, câncer em determinado órgão, é comum ficar repetindo que está com tal doença, agravando cada vez mais a situação. É como se ficasse confirmando a doença, a todo momento, para o sistema cerebral. É preciso inverter esse quadro, pois cada vez que você fala da doença, você está reforçando-a.

Lembre-se que o inconsciente é maior que o consciente e por isso mais poderoso e trabalha com imagens, então você vai começar fazendo todo um trabalho de visualização. Para isso é preciso relaxar, entrar no nível mental alfa e fazer uma meditação e aí sim, começar a visualização.

Imagine seu órgão afetado, agora saudável e sadio. Sempre que for falar de sua condição, fale de sua saúde e não de sua doença, refira-se como já curada. Não são as palavras que irão curar, mas as imagens que serão formadas em sua mente. Por isso, cuidado com o que pede e como pede, você poderá ser vítima de sua própria criação mental.

Cuidado também com os rótulos. Lembre-se: você não é, você está. Por exemplo: Você não é uma pessoa depressiva, você está depressiva. Você não é um desempregado, você está desempregado. Assim, fica muito mais fácil transformar seu estado atual (negativo) para aquilo que você deseja (positivo).
- Repete padrões

Quando não há autoconhecimento, o inconsciente tende a repetir padrões do que foi registrado, principalmente durante a gestação e infância. Ou seja, se houve um pai e/ou mãe alcoólatra, a tendência é a pessoa quando adulta unir-se a alguém alcoólatra. Ou ainda, se houve um lar com violência, gritos, agressões, ela poderá repetir mesmo que não queira, ou seja, inconscientemente.

Cada pessoa tende a repetir o mesmo exemplo de vida que vivenciou, seja esse positivo ou negativo. Esse padrão só é quebrado quando se começa um processo de autoconhecimento, que pode ser obtido com uma análise.
O conflito, a angústia, os pesadelos, tudo isso acontece para mostrar que consciente e inconsciente estão em desequilíbrio. Quando há autoconhecimento, você consegue identificar o que quer mudar e obterá mais controle sobre as ações, comportamentos, atitudes, enfim, sobre a própria vida. Ao aprender a lidar com o inconsciente, tornando conteúdos inconscientes em conteúdos conscientes, haverá um equilíbrio interno.
Os sonhos também são expressões do inconsciente que se manifestam pela linguagem simbólica.



 


Atrás da porta Bia Saltarelli

Quando eu era adolescente e ainda nem imaginava que um dia iria dar minha cara à tapa e escrever sobre comportamentos, gêneros e afins eu li um texto que me chamou muita atenção. O texto em questão tem o título: “Fizeram a gente acreditar” e é daqueles que circulam na internet e ninguém sabe a autoria direito. Já vi o texto ser tido como de Mário Quintana, Martha Medeiros e John Lennon mas enfim, o tal texto era o seguinte:
Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.
Já na época lembro que esse texto me fascinou porque era diferente. Diferente de tudo que eu já tinha lido, ouvido ou assistido sobre o amor até então. Como assim já nascemos inteiros e não existe a metade da laranja? E a música do Fábio Júnior (“Carne e Unha/Alma Gêmea/Bate coração/As metades, da laranja/Dois amantes, dois irmãos…”) onde entra nessa história? E todos aqueles contos e filmes nos quais a gente aprende que só pode ser feliz de verdade depois de encontrar a nossa cara-metade?
De lá para cá o texto fez ainda mais sentido. Desde essa época eu sabia que queria algo diferente mas não sabia bem o que era. Aos poucos a gente vai se entendendo e se “desconstruindo” e conseguimos perceber o que queremos de verdade: apesar de sempre ter acreditado no amor (e hoje acredito ainda mais) essas fórmulas prontas, complementos, tampa da panela e todo aquele bla bla bla que falaram para a gente nunca funcionaram para mim.
Hoje eu entendo que o que busco é  um relacionamento que não seja pautado na idealização como acontece na maioria dos casos mas sim baseado na realidade. Um relacionamento em que as pessoas possam se enxergar como realmente são (com todas suas qualidades e defeitos) e exatamente por isso resolvam ficar juntas.
Que metade da laranja, que nada! O que eu quero é um relacionamento baseado não na complementariedade porque isso implicaria em pessoas vazias, mas sim no companheirismo, na soma, em duas pessoas dispostas a crescer juntas, a enfrentar juntas as dificuldades – e as felicidades – que todo relacionamento tem. Duas pessoas que respeitam uma à outra, mas principalmente a si próprias, seus princípios, desejos e individualidades.
Vocês podem dizer que isso também é uma ilusão, que a gente acaba sempre criando expectativas e eu sei que é verdade.  Mas mais do que isso eu acredito que a gente nunca vai conseguir se não tiver consciência – consciência do que buscamos, do que queremos e como as coisas funcionam – e não tentar fazer diferente.
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O inimigo é tudo inclusive a ideológia Luis Fernando ferissim

Istoé -
O que o sr. pensa sobre a onda de manifestações que se espalhou pelo Brasil?

Luis Fernando Verissimo -
No fundo, o que se vê nas ruas é uma crítica, nem sempre consciente, ao capitalismo brasileiro. Estão pedindo o fim do lucro desmedido com serviços públicos como o transporte, o fim do poder corruptor do dinheiro, mais saúde e educação subsidiadas pelo Estado. Eu nunca tinha visto tantos socialistas juntos. Será curioso ver como essa massa vai votar.
Istoé -O que ficará de junho de 2013 para a história?

Luis Fernando Verissimo -
Ainda não se sabe se foi só um espasmo ou se o movimento terá consequências permanentes. Muitas das reivindicações são irrealistas. Aquele cartaz que pedia a volta da tomada para dois pinos não era sério, mas dava uma boa ideia disso.
 
Istoé -Esse tipo de movimento, que nasce da internet sem uma cara, um líder, é positivo?

Luis Fernando Verissimo -
Essas manifestações espontâneas são positivas na medida em que, afinal, estão pedindo tudo que a gente quer. São perigosas porque substituem a política e podem ser manejadas, inclusive pelos nostálgicos da ditadura.
Istoé -Durante muito tempo, a ditadura militar foi o inimigo a ser combatido. Quem é o inimigo dos jovens de agora?

Luis Fernando Verissimo -
Pois é, o inimigo é um sistema que não funciona, o que é muito vago. Se você quiser ser específico, pode dizer que a rua está fazendo a crítica ao capitalismo brasileiro que o PT fazia quando era oposição, antes de se deixar  cooptar. Mas isso é um diagnóstico ideológico e o movimento parece ser contra tudo. O inimigo é tudo, inclusive a ideologia.
Istoé -
A colocação de uma agenda conservadora (como o fim dos partidos, a redução da maioridade penal e a volta da ditadura militar) por parte dos manifestantes é algo que o preocupa? O que explica esse tipo de “reivindicação”?

Luis Fernando Verissimo -
A desmoralização da política e dos políticos deve preocupar a todos, porque a falência da política é a falência da democracia. A conclusão de que o que não está funcionando é a própria democracia é perigosa. O que falta é mais democracia. Mais liberdade, igualdade e fraternidade, o trio maravilha.
Istoé -Os protestos no Brasil se assemelham a algo que o sr. já viu?

Luis Fernando Verissimo -
A analogia óbvia é com o Maio de 68, na França, que também era contra um tudo indefinido. Tem gente que diz que o que houve em Paris, naquela primavera, foi só uma queima de hormônios. Já o Cohn–Bendit disse que 68 foi o preâmbulo de 81, quando a esquerda chegou ao poder na França. Resta ver qual será o 81 do nosso 68.
 
Istoé -Se o sr. pudesse fazer cinco cartazes para levar a uma passeata, quais pautas escolheria? O que estaria escrito neles?

Luis Fernando Verissimo -
“Vergonha!”, “Pra que lado fica a Bastilha?”, “Carona da FAB para todo mundo”, “E o mensalão do PSDB?” e “Pela volta da tomada pra dois pinos”.
Istoé -O sr. consegue imaginar algum de seus personagens nessas manifestações?

Luis Fernando Verissimo -
A Dora Avante e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, marchariam contra a falsificação de má qualidade das bolsas Vuitton no Brasil.
Istoé -Dada a reação do Congresso aos gritos da rua, o sr. acredita que políticos assustados produzam melhor?

Luis Fernando Verissimo -
O diabo é que as manifestações acabam um dia e o medo também. Mas não se deve supervalorizar o poder persuasório de manifestações. Amanhã um milhão de evangélicos marcham contra gays ou contra o diabo e eu espero que a consequência política disso seja zero.
Istoé -Como o sr. avalia o governo de Dilma Rousseff? Gosta dela?

Luis Fernando Verissimo -
Infelizmente aquele ímpeto anticorrupção do início do seu governo não se sustentou. Mas, falando do PT no poder em geral, qualquer governo que consegue distribuir renda e diminuir a pobreza tem no mínimo a minha simpatia.
 
Istoé -Como é sua relação com a internet e a tecnologia?

Luis Fernando Verissimo -
Uso o computador como uma máquina de escrever com memória, uso bastante o Google, que  fornece erudição instantânea, e não poderia mais viver sem o e-mail. Mas não frequento muito a internet. E participaria de qualquer passeata contra o telefone celular.
 
Istoé -Dos textos atribuídos ao sr. que circulam na internet, há algum que o incomode mais ou que tenha captado sua atenção tanto positiva quanto negativamente?

Luis Fernando Verissimo -
Nenhum incomoda porque não há o que fazer para impedi-los. Alguns são bons, e neste caso eu aceito os elogios, inclusive para não desiludir as pessoas. Teve um, chamado “Quase”, que correu o mundo e foi até publicado num livro em francês. Uma sr.a me disse que não gostava do que eu escrevia, até ler o “Quase”. Agradeci, emocionado. Outro texto, sobre uma diarreia no aeroporto, também fez muito sucesso.
 
Istoé -Depois da atuação do Brasil na Copa das Confederações, o sr. está confiante na Seleção Brasileira para o Mundial do ano que vem? O sr. gosta do Felipão?

Luis Fernando Verissimo -
O Felipão não é um tático, é um motivador, e o melhor que se pode dizer desta seleção é que está bem motivada, com quatro ou cinco talentos que se destacam. Acho que não faremos feio.
 
Istoé -E o que pensa do Brasil enquanto sede do evento?

Luis Fernando Verissimo -
Quem gosta de futebol, como eu, fica numa situação difícil. Claro que o Brasil não podia gastar o que está gastando para sediar a Copa, mas, ao mesmo tempo, a perspectiva de ter bom futebol internacional em casa é animadora. O que fazer com os estádios que ficarão ociosos depois da Copa? Não tenho a menor ideia. Podem ficar como monumentos à insânia.
Istoé -O sr. ainda vê televisão? Há algo que lhe agrade na tevê aberta?

Luis Fernando Verissimo -
Vejo filmes, futebol e o “Jornal Nacional”. 
Istoé -E na internet? O sr. costuma ver vídeos no YouTube?

Luis Fernando Verissimo -
A melhor novidade da tevê brasileira está na internet: é o “Porta dos Fundos”. Não vejo YouTube, não tenho Facebook e todos os Twitters com meu nome são falsos.
Istoé -Quais autores o sr. costuma acompanhar?

Luis Fernando Verissimo -
Dos brasileiros, o Milton Hatoum; dos estrangeiros, o John le Carré e o Roberto Calasso, além da releitura de favoritos mortos.
 
Istoé -Além das crônicas para os jornais, o sr. está trabalhando em algum livro novo?

Luis Fernando Verissimo -
Deve sair em outubro, pela Objetiva, um livro de contos, alguns inéditos, outros já publicados na imprensa. São dez contos, entre longos e curtos, e o título é “Os Últimos Quartetos de Beethoven”.
Istoé -Que tipo de situação ainda o inspira?

Luis Fernando Verissimo -
Para quem escreve com regularidade, qualquer assunto é assunto. Eu sempre digo que a minha musa inspiradora é o prazo de entrega. E a crônica, sendo um gênero indefinido, comporta essa variedade de assuntos e de estilos.
Istoé -Já se acostumou ao novo acordo ortográfico ou comete alguns erros comuns, como acentuar ideia ou colocar trema?

Luis Fernando Verissimo -
Meu computador cuida disso para mim. Ele acompanhou a reforma ortográfica, sabe tudo a respeito e não me deixa errar. Eu só não entendi ainda por que “três” continua de chapeuzinho.
Istoé -O livro “Cinquenta Tons de Cinza” foi o maior fenômeno literário do ano passado. O que o sr. pensa dessa literatura feminina quase pornográfica?

Luis Fernando Verissimo -
Se entendi bem, o sexo nesse livro é sadomasoquista. Como diria o Freud, o  que essas mulheres estão querendo? Não pretendo descobrir.
 
Istoé -Fora as inúmeras homenagens que recebe, o sr. tem vida social noturna?

Luis Fernando Verissimo -
Um programa perfeito é ir ao cinema, sessão das seis, depois ir jantar num bom restaurante. Nada de muito excitante.
Istoé -O que a velhice lhe trouxe de positivo e de negativo?

Luis Fernando Verissimo -
De negativo, a proximidade da morte, a consciência da nossa finitude e do absurdo da existência. De positivo, o lugar reservado para idosos nos estacionamentos.
Istoé -Sua timidez ainda o coloca em situações embaraçosas?

Luis Fernando Verissimo -
Já me resignei à timidez e sei que agora não vou mudar, mas melhorei muito com a idade. Já faço até palestra. Mas com o Isordil à mão.
Istoé -Sobre o período em que o sr. esteve internado num hospital no ano passado, o que ficou daquele susto?

Luis Fernando Verissimo -
Tive alucinações durante o período em que fiquei na UTI, o que só me levou a admirar ainda mais o funcionamento e o poder do nosso cérebro, uma coisa ao mesmo tempo fascinante  e assustadora.
Istoé -Atualmente, qual é sua maior preocupação? Há algo que lhe tire o sono?

Luis Fernando Verissimo -
Essa coisa meio incerta no ar, essa indefinição sobre o que está por trás da revolta e o rumo que ela vai tomar... Não vou dizer que me tira o sono, tenho dormido bem. A preocupação começa ao acordar.
 

Analfabetismo: bola de neve Correio Braziliense

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada sexta-feira passada pelo IBGE é trágico flagrante do atraso governamental em área essencial para o desenvolvimento do país: a educação. Depois de uma década e meia em declínio, o contingente de analfabetos brasileiros com mais de 15 anos de idade foi engordado em cerca de 300 mil pessoas no último ano com relação a 2011. Tivesse estagnado, a vergonha já seria grande, mas, pior do que isso, a curva do analfabetismo voltou a apontar para cima, com avanço de 0,1 ponto percentual, passando de 8,6% para 8,7%.
Ressalve-se que tal grau de ignorância é observado em faixa etária bastante avançada para a vida escolar. E que aqui não se trata de pessoas desprovidas de pleno domínio da leitura e da escrita, mas de quem simplesmente é incapaz de ambas as coisas. Mais: o universo dos analfabetos funcionais (agora, sim, dos que não sabem ler nem escrever satisfatoriamente), entre os que chegaram ou ultrapassaram os 15 anos, é bastante superior, girando em torno de 20% do total. Ou seja, o infortúnio do estudante neste país vai de ponta a ponta. Para se ter ideia, cerca de 38% dos que cursam o terceiro grau têm sérias dificuldades para produzir e interpretar textos.

No fim de 2012, mais precisamente em 9 de novembro, o governo federal lançou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O programa, com previsão de investimentos de R$ 2,7 bilhões neste ano e em 2014, tem como alvo crianças de 7 anos. Vejam que essa é a "idade certa". Tanto que em 2008 foi instituída a Provinha Brasil, destinada a aferir se, aos 8 anos, os alunos do 2° ano do ensino fundamental da rede pública estariam, de fato, plenamente alfabetizados. Mas, passada meia década, percebe-se que os efeitos da louvável medida adotada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) têm sido, no mínimo, insuficientes.

Acabar com o mal endêmico que compromete geração após geração de brasileiros, como pesado entrave ao desenvolvimento sustentável do país, é desafio para toda a sociedade. Mas é preciso, antes, romper o círculo vicioso, para que as famílias adquiram condições de prestar cota de colaboração nessa tarefa gigantesca. Sem o mínimo, perde-se inclusive a possibilidade de aplicação de prática comum nos países desenvolvidos, de os pais lerem para os filhos pequenos, o que desperta o interesse pela leitura, desenvolve o raciocínio, amplia o conhecimento da língua e facilita o aprendizado das demais disciplinas.

Fracassos em matemática, geografia, história, ciências e outras matérias se devem, sobretudo, a deficiências de leitura e escrita. Nessa bola de neve do atraso, a evasão escolar cresce, alimentada pelo desinteresse de quem está na escola sem entender nada. Mais: a própria cidadania é mutilada. Portanto, é preciso fazer valer cada centavo dos R$ 2,7 bilhões destinados a crianças de 7 anos em 2013 e 2014. Mas os jovens e adultos analfabetos também carecem de ação rápida e eficiente do Estado. É o futuro da nação que está em jogo.

Um papa provocador Carlos de Franco



O papa Francisco é um comunicador de primeira. Simples. Direto. Desimpedido. Seu estilo é surpreendentemente solto e provocador. Seu discurso, coloquial e sincero. É um papa falante, alegre, com jeitão laico. Um papa diferente. Mas é o papa. E tem plena consciência do seu ministério e de sua autoridade. Não pode ser interpretado pela metade. Ele demanda contexto. Francisco dá boas manchetes. Mas é preciso ir ao cerne do seu pensamento. Caso contrário, cria-se a síndrome da esquizofrenia informativa: um papa fala na manchete, mas outro discursa no conjunto da matéria.

Recentemente, a última edição da revista italiana La Civiltà Cattolica, editada pelos jesuítas, publicou uma longa entrevista com o papa Francisco. O rebuliço foi imenso. Sobrou versão. Faltou fazer a lição de casa básica: ler a íntegra da entrevista. Francisco, como bem salientou a jornalista Adriana Dias Lopes, editora da revista Veja, "não mexerá nas doutrinas da Igreja Católica". Mas, sem dúvida, apontou uma mudança de tom.

O papa, creio, quer provocar uma ruptura com uma agenda negativa e reativa. "Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e ao uso de métodos contraceptivos. Isso não é possível. Eu não falei muito dessas coisas e me censuraram por isso. Mas, quando se fala disso, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido, e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente. A proposta evangélica deve ser simples, profunda, irradiante. É dessa proposta que vêm as consequências morais", sublinhou.

Francisco, por óbvio, não minimiza a gravidade dos equívocos morais. Sua defesa da vida, por exemplo, desde o momento da concepção, é clara, forte, sem nenhuma ambiguidade. A doutrina é transparente. O papa está preocupado não apenas com a atuação pública da Igreja, mas com o cuidado pastoral das pessoas concretas. Que erram. Que sofrem. Que se arrependem. Seu foco não são os processos, mas as pessoas. Quer uma Igreja mais compassiva. E isso é cativante.

Com sua humildade desconcertante, Francisco mostra que a relação com Cristo brota da forte consciência da miséria humana e da absoluta confiança na misericórdia de Deus. "Sou um pecador. E não é modo de dizer, um gênero literário. Sim, talvez possa dizer que sou um pouco astuto, sei me adaptar às circunstâncias. Sou também um pouco ingênuo. Mas a melhor síntese, aquela que me vem mais de dentro e que sinto mais verdadeira, é exatamente esta: sou um pecador para quem o Senhor olhou. Quando vinha a Roma, visitava a Igreja de São Luís dos Franceses com muita frequência. Lá contemplava o quadro Vocação de Mateus, de Caravaggio. Aquele dedo de Jesus assim dirigido para Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar."

A perspectiva do olhar de um Deus compassivo, acolhedor, está metida na alma de Francisco e ganha corpo no seu projeto pastoral. "A coisa que a Igreja mais necessita agora é da capacidade de curar feridas e de aquecer o coração dos fiéis, aproximar-se. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se o seu colesterol ou a sua glicose estão altos. Devem-se curar as feridas. Depois podemos falar do resto."

Francisco insiste muito na essência da mensagem cristã: a misericórdia de Deus. A "plataforma moral" da Igreja não pode ser erguida sobre os alicerces do legalismo, mas em cima dos sólidos pilares de um projeto de salvação. Sem isso, e sem o exercício da liberdade humana, o edifício da Igreja "corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples, profunda, irradiante. É desta proposta que vêm depois as consequências morais."

Impressiona, e muito, o tom positivo que permeia todos os discursos do papa. Impressiona igualmente a transparência de Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. É um papa sem tabus. Ele tirou a Igreja do córner. Francisco rasga um horizonte valente e generoso. Deixa claro que os católicos não são antinada. E que o cristianismo não é uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resignação. É uma proposta afirmativa, alegre, revolucionária. Os discursos do papa não desembocam num compêndio moralizador, mas num desafio empolgante proposto por uma pessoa: Jesus Cristo. Os jovens entendem o recado e mostram notável sintonia com Francisco.

Os que apostam na descontinuidade vão perder o jogo. João Paulo II, Bento XVI e Francisco tocam a mesma música, embora com gingado diferente. A formidável cobertura pela imprensa da eleição de Francisco revela alguns sinais importantes. O primeiro deles, sem dúvida, é a notável unidade dos cardeais. A surpreendente rapidez do processo eleitoral foi um testemunho inequívoco de que João Paulo II e Bento XVI, ao longo dos seus pontificados, investiram generosamente na construção da unidade da Igreja. A eleição meteórica de Jorge Mario Bergoglio foi, no fundo, um forte chamado à unidade e à continuidade.

O pontificado de Francisco será, estou certo, um testemunho de fé, convicção e coragem. Ao contrário dos que dentro da Igreja Católica cederam aos apelos da secularização, o novo papa sempre acreditou que a firmeza na fé e a fidelidade doutrinal acabarão por galvanizar a nostalgia de Deus que domina o mundo contemporâneo. Acredita que o esgotamento do materialismo histórico e a frustração do consumismo hedonista prenunciam um novo perfil existencial. Na visão do papa, o terceiro milênio trará o resgate do verdadeiro humanismo.

Blac bloc do eu sosinho Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Há dias, neste espaço ("A cidade é deles", "Opinião", 30/8), comparei o uniforme dos "black blocs" --coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos-- com a fantasia do Batman. Um e outra só podiam ser usados à noite, eu disse, porque, à luz do sol, eram ridículos. E insinuei que, até há pouco, muitos "black blocs" deviam estar vestidos de Batman e brincando de super-herói no play.

Na última quarta-feira, um deles, com capa, máscara, luvas, ceroula e botas do Homem-Morcego --talvez compradas na Casa Turuna, na Saara--, intrometeu-se na manifestação dos professores cariocas, que lutam por reivindicações específicas. A presença do fantasiado não condizia com a sisudez do protesto diante da Câmara Municipal.

Na noite seguinte, na Cinelândia, cem "black blocs" hostilizaram o pessoal de cinema que chegava para a abertura do Festival do Rio, um evento de que a cidade se orgulha. Entre as palavras de ordem, não se sabe por que, o já surrado "Não vai ter Copa!". Aliás, em junho, eles já haviam tentado invadir o Paço Imperial e vandalizar uma exposição de pintura. Com isso, ficamos sabendo que os "black blocs" não gostam de cinema, nem de futebol, nem de artes plásticas.

Gostam, então, de quê? De rock, sem dúvida, porque o Rock in Rio transcorreu em paz, só tisnado pelos inevitáveis roubos de celulares, comas alcoólicos e diarreias por excesso de batata frita. Devem gostar também de "junk food", porque nenhuma loja do Burger King foi atingida até hoje pelos seus quebra-quebras. E gostam de advogados, sob cujas togas se escondem quando se veem ameaçados.

Já sem nenhum apoio popular, os "black blocs" limitam-se hoje a si próprios. E o contingente tende a diminuir. Está próximo o dia em que um ou outro ainda sairá individualmente às ruas, no melhor estilo "Black Bloc do Eu Sozinho".

Uma mulher linda Felipe Pondé

A pergunta que mata de medo as mulheres é: afinal, o que quer o homem numa mulher?
Recentemente participei de um debate sobre a trilogia "Cinquenta Tons".

Muitas críticas: típico best-seller que identifica um drama universal (o amor) e propõe uma solução "easy" (seja sadomasô light e o casamento virá); a srta. Steele (a heroína) não está a altura de Lady Chatterley (de D.H. Lawrence) nem das irmãs Justine e Juliette (do Marquês de Sade) nem da personagem de "História de O" (de Anne Desclos, sob o pseudônimo Pauline Réage), porque a srta. Steele se vende por um MacBook Pro, enquanto as outras são para valer. Tudo verdade.

O maior pecado de "Cinquenta Tons" é que ele vende uma fantasia: o homem ideal. Christian Grey é rico, bonito, inteligente, viril, experiente. Mas o fato é que as mulheres desejam mesmo homens fortes, viris, sensíveis até a página três, ricos não só de grana. Enfim, "Cinquenta Tons" vende porque fala para todas as mulheres, bobas, ignorantes, cultas ou críticas. Mas, como virou moda mentir, ninguém confessa.

Dias depois do debate, revi um filme idiota americano (como "Cinquenta Tons"), em que um milionário fodão (interpretado por Richard Gere) contrata uma garota de programa (Julia Roberts, ah! Se todas fossem iguais a você, Julia, que maravilha viver...) e acabam se apaixonando. Claro, o filme é "Uma Linda Mulher". A fórmula clara da gata borralheira do sexo que vira a esposa Cinderela.

Mas o longa é muito mais do que isso. Diante da crítica histérica de que é mais um filme machista (que sono...), vale notar que ele faz a pergunta que mata de medo as mulheres: afinal, o que quer o homem numa mulher?

Dirão as apressadas que o homem quer que a mulher traga uma cerveja e venha pelada. Errado: melhor de calcinha e salto alto. Seria a superficialidade masculina o último bastião da ideologia "dominante"? Bastião este que agrada a todas as mulheres porque as acalma: os homens só querem uma bunda!

O filme toca num tema atávico que deixa mesmo as meninas "críticas" de cabelo em pé: seria a garota de programa a mulher ideal?

O personagem de Gere é fodão. Ele sabe o que os fodões sabem: o mundo é repetitivo, e as pessoas são previsíveis. Querem dinheiro, reconhecimento e "serviços", e fazem qualquer coisa para conseguir, embora neguem.

Se, no fundo, todos estão à venda por "um programa" de sucesso, melhor sair com alguém mais honesto: a garota de programa é a mulher menos cara do mundo. Ela "só" quer dinheiro, e isso às vezes é uma bênção. Ela é a mulher ideal porque é a única diante da qual o homem relaxa.

Afinal, o que quer o homem numa mulher? Num dado momento do filme, Gere diz à bela Roberts: "As pessoas são previsíveis, mas você me surpreendeu" (não vou contar detalhes).

Não devemos menosprezar essa fala e o que acontece depois, o apaixonar-se pela garota de programa. Gere sabe o que diz: as pessoas são mesmo previsíveis. Mas hoje a moda é dizer que são todas "únicas".

La Roberts encanta o fodão porque ela não é óbvia, e a mulher óbvia só quer fodões.

Graças a ela, ele rompe o ciclo da desconfiança causada pela obviedade das mulheres, e graças a ele, ela se cansa de ser puta, porque a puta não é uma mulher de verdade.

Os homens sentem que as mulheres querem deles apenas sucesso (em todos os sentidos). Mas hoje virou moda dizer que isso não é verdade. Ficou pior porque continua sendo verdade, mas, quando o cara sente isso, ele deve se sentir um machista porque sabe disso.

O homem quer uma mulher para quem ele não tenha que ser o sr. Grey, mas a mulher não perdoa um homem fraco. A garota de programa perdoa porque "só" quer dinheiro.

A fraqueza masculina aniquila o desejo da mulher. Mas, como essa mulher ideal não existe (assim como o sr. Grey), o ideal acaba ficando colado ao corpo irreal da namorada "paga".

Mesmo sabendo que sr. Grey (um fodão) não existe, as mulheres não suportam homens que não se pareçam com ele, e esta é a verdade suprema de "Cinquenta Tons".

Por fim: uma amiga minha, psicóloga, me disse que muitos dos seus pacientes vêm ao consultório falar de como suas mães (fálicas) destroem seus pais (fracos).

São essas mulheres fálicas, segundo ela, que à noite gemem de solidão sonhando com o sr. Grey.

Óbvio?

domingo, 29 de setembro de 2013

Liberdade de conduta como um ideal sujetivo Gikovate

Venho tentando esclarecer os elementos que impedem o alcance do estado subjetivo de liberdade, condição sempre buscada, mas até agora vivida apenas como um conceito abstrato, uma bela ideia.
A insistência no tema me parece fundamental, principalmente porque considero que um importante equívoco contemporâneo foi a confusão entre liberação das normas de conduta sexual e a liberdade; este último estado me parece bastante mais abrangente e, principalmente, impossível de ser catalogado como norma específica de conduta, o que, por si, já se oporia ao conceito de liberdade.
Não me canso de apontar a ingenuidade e a superficialização do pensamento contemporâneo sempre com a finalidade de remeter as pessoas – especialmente os jovens – para as questões humanas em toda a sua complexidade, coisa que me parece fundamental para se obter algum processo efetivo.
Além da vaidade, da incapacidade humana de aceitar a condição de insignificância, da tendência à sobrecargas de responsabilidade e renúncia, importantes obstáculos para quem pretende se aproximar da sensação de liberdade, valem algumas considerações acerca do sentimento de culpa.
Em geral, se considera que existe dentro de cada indivíduo um código moral – em grande parte proposto pelo meio social e familiar – cuja transgressão determina uma sensação desagradável de tristeza e vergonha que costumamos chamar de culpa.
A experiência nos tem obrigado a ver as coisas de uma maneira bastante diversa; em primeiro lugar, a grande maioria das pessoas não se comporta de um modo tido como digno por seu grupo, porque possui internamente um conjunto de regras que deverão ser seguidas; estas pessoas se comportam respeitando as regras basicamente por medo das represálias terrestres (perda de posições, de afetos, risco de prisão etc.) ou divinas (castigos após a morte).
O senso ético advém da pessoa ser capaz de se colocar no lugar das outras e, através disto, estabelecer limites à sua conduta com a finalidade de não ser o causador de dramas para terceiros; a maioria das pessoas interrompe desde muito cedo o processo de sair de si mesmo e também tentar enxergar o mundo pelos olhos dos outros; isto por causa de uma grande fragilidade interna que os torna permanentemente ocupados consigo mesmos e com seus interesses, condição em que usamos o termo egoísmo.
O egoísta não desenvolve, portanto, um verdadeiro senso moral; se comporta sempre com o objetivo de tirar melhor proveito para si em cada situação, o que muitas vezes poderá coincidir com a chamada conduta ética, que poderá ser conhecida mais intelectualmente do que emocionalmente. Neste caso, a conduta é mais de conveniência do que de convicção.
Aquelas pessoas capazes de se colocar no lugar das outras tendem para uma posição moral também duvidosa, posto que, na maioria das vezes, aprendem a tirar mais prazer da renúncia do que da defesa de seus legítimos direitos. Isto acaba determinando uma ética onde a grandeza esteja no sacrifício, no sofrimento e na renúncia, condição que, quando cumprida, faz o indivíduo se sentir elevado, engrandecido. Estas são as pessoas que experimentam forte sentimento de culpa quando se percebem falhas para com terceiros.
Além da tristeza derivada de se perceber responsável por algum prejuízo causado ao outro, existe também uma desagradável sensação de vergonha e humilhação derivada, ao meu ver, de não ter sido capaz de se manter no nível elevado ao qual o indivíduo se pretende. Assim, além de outras implicações, às quais voltarei em um outro artigo, existe também, na transgressão moral, a sensação desagradável de rebaixamento, de insignificância, da qual todos tentamos nos afastar, cada um de uma maneira.
Da maneira como penso, esta sensação é responsável por um importante componente depressivo relacionado com o sentimento de culpa, depressão esta muitas vezes desproporcional aos danos causados; ela mede a decepção do indivíduo para consigo mesmo.
 

 


Quando os parentes invadem a nossa privacidade

“Família é pra essas coisas” é um tema perigoso, pois permite que nossa privacidade seja devassada, criando situações embaraçosas e impedindo uma relação mais sadia e madura.
Somos educados para distinguir muito claramente os parentes dos amigos e das pessoas em geral. Desde crianças, aprendemos que a família é composta por criaturas sui generis que terão conosco um nível de relacionamento especial, governado por um código próprio, diferente daquele que empregamos no trato com estranhos. Com esses últimos, temos um relacionamento cordial e mais formal, respeitoso e que pressupõe reciprocidade nas atitudes. Por isso, nos ofendemos rapidamente quando somos invadidos em nossa privacidade.
Detestamos nos sentir explorados e reagimos com veemência frente a intromissões indevidas. A tolerância com desconhecidos é relativa e tendemos a evitar novos contatos com aqueles que não agem adequadamente. Às vezes, chegamos a brigar feio: outras vezes, apenas nos afastamos. Tudo depende do temperamento, da situação e também do tipo de pessoa com a qual nos indispomos. Fomos educados para “não levar desaforo para casa”.
A coisa é completamente diferente quando a gente se relaciona com parentes, especialmente os mais próximos. Pais, avós, irmãos, filhos, primos e tios diretos, todos se sentem à vontade para falar o que pensam a nosso respeito. Fazem isso sem inibições e, pior, sem ser consultados.
A invasão seria absolutamente intolerável se viesse de estranhos ou mesmo de amigos. No entanto, essa devassa à nossa privacidade passa a ser considerada uma “obrigação” do grupo familiar. Ai de nós, se ficarmos ofendidos! Não faltarão recriminações do gênero: “se estou te dizendo essas coisas, é para o seu bem. Sou sua mãe e me sinto com o direito de falar tudo o que eu penso, porque é óbvio que te amo”. Há variantes com igual intenção e significado, mudando apenas o grau de parentesco.
Em primeiro lugar, não é tão óbvio que a emoção predominante entre parentes seja o amor. Penso que, em muitos casos, a rivalidade e a inveja predominam entre irmãos, por exemplo, sentimentos positivos são abafados por uma relação tumultuada e por disputas de todo os tipo.
Até no “começo dos tempos” tivemos problemas: os dois primeiros irmãos foram Caim e Abel e um matou o outro. Rivalidade e inveja também imperam nas ligações entre pais e filhos, entre mães e filhas. Na maioria das vezes, o amor existe, mas não é a única emoção. Portanto, é arbitrário dizer que os laços que unem os parentes sejam sempre positivos e construtivos. Não ousaria afirmar isso nem mesmo em relação à minha mãe ou ao meu filho. Aliás, as mais importantes descobertas de Freud, tem a ver com a descaracterização do mito segundo o qual a família é um santuário das melhores e mais belas emoções.
Mas um aspecto comum entre parentes diz respeito à facilidade com que uns exigem coisas dos outros. Se nos falta dinheiro e temos que pedir emprestada uma certa quantia para um “estranho”, a dificuldade que sentimos é enorme. Agora, se for parente, não experimentamos o mínimo escrúpulo. E se tiver mais dinheiro do que a gente, chegamos a pensar que será “obrigação sua” nos tirar da condição precária na qual nos encontramos. Sim, porque “parente é pra essas coisas”.
É “óbvio” que pais mais ricos deverão ajudar o filho. Quando a situação se inverte, este manterá pais, avós, além de alguma tia solteirona… Não me parece nada tão claro nem tão óbvio. Acredito mesmo que tais regras – diferente das que orientam as relações em geral – foram criadas por pessoas oportunistas e, portanto, fracas e egoístas. Sua finalidade é comover os parentes mais generosos e transformá-los em provedores de tudo o que lhes falta. É mais fácil e, à primeira vista, mais esperto tirar dos outros o que não se conseguiu por esforço próprio.
“Com os parentes não é preciso ter cerimônia.” Também não concordo com essa afirmação. Ofender, brigar e depois fazer as pazes afeta qualquer relação. Deveríamos tratar com cuidados redobrados justamente as criaturas que nos são mais próximas.
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Por que somos superticiosos?

   
Quando dizemos para alguém que nossos negócios estão indo bem, imediatamente sentimos uma forte compulsão na direção de buscar algum pedaço de madeira para nela batermos 3 vezes (para muitos, só serve se a madeira for tocada de baixo para cima). O mesmo vale para qualquer declaração de que estamos felizes no novo relacionamento sentimental ou que estamos bem de saúde. Ao agirmos de acordo com este ritual, que aprendemos de nossos ancestrais, temos a impressão que afastamos de nós as perigosas influências malignas da inveja das pessoas (assim como a ira dos deuses). É fato que nossa felicidade pode provocar inveja; o duvidoso é se ela tem mesmo poder de influência negativa sobre nós, bem como se o ritual de proteção será mesmo eficiente. Porém, porque acreditamos nesta possibilidade nos sentimos mais apaziguados ao realizá-lo.
Quando nosso time favorito ganha um jogo decisivo, muitas vezes relacionamos aquele bom resultado com o fato de estarmos usando uma determinada roupa. Muitos de nós tende a atribuir àquele vestuário um poder, de modo que ele será uniforme fixo e parte de um ritual que irá se repetir ao longo dos futuros jogos importantes.
Se fomos bem sucedidos na paquera usando um determinado perfume, tendemos a nos apegar a ele como se fosse um talismã e o usaremos sempre que estivermos em situação similar pretendendo os mesmos bons resultados.
Aliás, os talismãs correspondem a objetos inicialmente neutros, aos quais atribuímos poderes especiais de nos proteger ou de facilitar acontecimentos que nos interessam sobremaneira. Pode ser uma pedra especial, um adorno de estimação (de preferência ganho de presente de alguém que certamente torce por nós), a figura de um santo, uma nota de dinheiro que sempre levamos conosco etc.
As situações descritas acima nos mostram alguns dos aspectos essenciais do pensamento supersticioso: um deles consiste em nos sentirmos inseguros e ameaçados em determinadas situações, especialmente aquelas em que estamos felizes; construímos uma associação entre a prática de certos rituais e a diminuição dos riscos, de modo a nos sentirmos protegidos contra as adversidades.
O outro tem a ver com o desejo de interferir sobre eventos que não dependem de nós, mas que queremos muito que tenham um resultado positivo; associamos, por um caminho nada lógico, sua concretização à presença de algum objeto, um adorno promovido à condição de talismã e cuja presença, no processo ritual que construímos em torno dele, aumentaria – e muito – as chances de obtermos o favor desejado.
Pessoas inteligentes, cultas e um tanto céticas também costumam desenvolver algum tipo de ritual. As que são muito voltadas para as práticas religiosas tendem a desenvolver seus rituais dentro deste contexto: as promessas se assemelham muito ao processo que estamos analisando, sendo que aqui se renuncia a algo do qual se gosta muito em favor da facilitação de um resultado que aparece como muito importante (abre-se mão do chocolate por um tempo longo em benefício da saúde de um filho, por exemplo).
As novenas, as peregrinações, os jejuns e as orações em geral têm por objetivo agradecer graças recebidas, pedir proteção para o que se tem e também para que o futuro nos sorria.
Afinal de contas, por que tanto empenho?
A verdade é que nossa condição enquanto humanos (e conscientes) é bastante complexa, pois estamos expostos à incerteza de forma continuada e lidamos muito mal com isso. Não suportamos o fato de estarmos em uma embarcação sujeita a ventos que não controlamos. Não sabemos nada do que é relevante acerca do nosso futuro e tentamos nos defender disso por todos os meios.
Buscamos defesas contra a incerteza que cerca os relacionamentos afetivos através de estratégias de controle sobre as pessoas que amamos. As mães de adolescentes tentam saber deles o tempo todo e impedir que todos os males lhes alcancem. Homens e mulheres tentam vigiar os passos de seus parceiros, sempre com medo de serem traídos ou abandonados.
Usamos boa parte de nossas possibilidades intelectuais com o objetivo de projetarmos um futuro de acordo com nossos melhores sonhos.
Tentamos impedir que as doenças nos alcancem, de modo que nos submetemos a um estilo de vida que nem sempre é aquele que mais gostamos. Consultamos os médicos para exames periódicos com o intuito de detectar doenças precocemente e, com isso, ter o poder de interferir ao máximo sobre sua evolução. Tentamos acumular o máximo de dinheiro, sempre norteados pela ideia de sermos mais parecidos com as cigarras do que com as formigas: para que nada nos venha a faltar.
Ainda assim não nos sentimos seguros. Temos, em nosso íntimo, a sensação de que estes meios concretos são muito insuficientes; considero muito provável que isso seja verdadeiro, já que todos os exames médicos, por exemplo, apenas nos dizem de nossa condição até hoje e das probabilidades de estarmos bem nos próximos tempos. O mesmo vale para o dinheiro, que poderá ser perdido por alguma fatalidade. Do amor então, nem é bom falar…
Os mais céticos podem pensar que é pura insegurança e fraqueza buscar em forças maiores que a nossa reforços a favor de nossos interesses. Não nego que possam ter alguma razão, mas não creio que seja só assim.
A grande maioria das pessoas pressente a existência de forças não tão concretas a nos cercar. Buscam também nelas algum apoio tanto com o objetivo de se protegerem contra a inveja e as adversidades em geral como para que seus sonhos se realizem. É por essa via que entra o pensamento supersticioso, presente em quase todos nós.
Pode não ser de grande valia, mas ações concretas para garantir um futuro melhor também não o são. Por mais que façamos, a incerteza sempre sairá vencedora

Nossas qualidades atraem hostilidades

Crescemos e nos formamos levando em consideração, basicamente, aquilo que ouvimos dos nossos pais e professores.
Por influência deles, somos levados a concluir que é conveniente sermos pessoas boas, esforçadas, trabalhadoras e gentis com os nossos colegas, uma vez que este é o caminho para sermos aceitos e queridos por eles.
Uma das mais desagradáveis surpresas que muitos de nós tiveram ao longo da adolescência reside no fato de que, exatamente por sermos portadores de tais qualidades, somos muito mais hostilizados que amados. A ideia de que o acúmulo de virtudes despertará o amor das pessoas parece lógica, de modo que quase todos se esforçam nesta direção.
Só não agem de modo legal aqueles que não conseguiram o desenvolvimento interior necessário para, por exemplo, controlar seus impulsos agressivos ou renunciar a determinados prazeres imediatos em favor de outros, maiores, colocados no futuro.
Assim, ao longo da vida adulta convivem dois tipos de pessoas: aquelas que conseguiram vencer estes obstáculos interiores e se tornaram criaturas melhores e outras que não foram capazes de ultrapassar estas primeiras e fundamentais dificuldades – e que se esforçam ao máximo para disfarçar suas fraquezas.
As primeiras são as que saíram vencedoras no primeiro combate importante da vida, o de “domesticar” seus próprios impulsos destrutivos, e se transformaram em criaturas portadoras das propriedades humanas que somos unânimes em catalogar como virtudes.
O que acontece? Os perdedores se sentem incomodados e humilhados pelo fato de não possuírem igual capacidade de controle interior.
Este dado é muito importante, pois indica que, independentemente do que digam, os perdedores sabem perfeitamente quais são as virtudes e as apreciam; não aderem a elas porque isto implica em um esforço que não são capazes de fazer.
De todo modo, os perdedores – que adoram desfilar como “superiores” e indiferentes às questões da moral –, por se sentirem humilhados, também se sentem agredidos pela presença daquelas virtudes em uma outra pessoa que não neles próprios.
Comparam-se com o virtuoso, consideram-se inferiores a eles, sentem-se por baixo, irritados com a presença daquelas virtudes que adorariam possuir. A vaidade dos perdedores fica ferida e eles, como têm pouca competência para controlar a agressividade, saem atirando pedras.
É claro que tais pedradas têm de ser sutis para que não denunciem todos os passos do mecanismo da inveja: reação agressiva derivada de suposta ofensa na vaidade daquele que se sentiu inferiorizado por não ter as virtudes que lhes provocaram a admiração.
Sim, porque o invejoso admira muito o invejado; senão seria tudo totalmente sem sentido. Saber que o bandido inveja o mocinho é uma das razões da esperança que sempre tive no futuro da nossa espécie.
A agressividade sutil derivada da inveja nos derruba, entre outras razões, porque ela vem de pessoas que gostaríamos que nos amassem.
Afinal de contas, nos esforçamos tanto para conseguirmos os bons resultados justamente para ter essa recompensa. É difícil para um filho perceber que suas qualidades despertam em seu pai emoções contraditórias: por um lado, a admiração se transforma em inveja, de modo que o pai se ressente da boa evolução do filho.
O mesmo acontece entre mães e filhas, sendo inúmeras as exceções onde a admiração não dá origem à vertente invejosa.
As “agulhadas”, as indiretas e as observações depreciativas e inoportunas próprias da inveja existem de modo muito intenso entre irmãos (eternos rivais), entre marido e mulher, assim como em todas as outras relações sociais e profissionais.
É praticamente impossível uma pessoa se destacar por virtudes ou competências especiais sem ser objeto da enorme carga negativa derivada da hostilidade invejosa.
O mais grave é que não fomos educados para isso, de modo que nos surpreendemos e ficamos chocados ao observarmos esse resultado. A decepção é tal que muitos se desequilibram quando atingem algum tipo de destaque, condição na qual são levados a um estado de solidão – o oposto do que pretendiam.
Uns se drogam e outros tratam de destruir rapidamente o que construíram, de modo a deixarem de ser objeto de inveja.
Tudo isso é, além de triste, inevitável, ao menos no estágio atual do nosso desenvolvimento emocional. Poderíamos ser ao menos alertados por uma educação mais sincera e sem ilusões.
Toda ilusão trará uma desilusão!
A maior parte das pessoas jamais imaginou, por exemplo, o volume de problemas e de decepções por que passam as moças mais belas, especialmente quando isso se associa a uma inteligência sofisticada e a uma formação moral requintada.
São portadoras daquelas virtudes que mais aparecem e encantam a todos. São, por isso mesmo, objeto de uma hostilidade inesperada e enorme. Ficam totalmente encurraladas e quase nunca sabem como sair da situação a não ser destruindo algumas de suas propriedades.
 




 

Sexo remédio contra estresse

Uma das maiores preocupações das pessoas sobrecarregadas de tensões e responsabilidades é encontrar meios de atenuar os malefícios causados à saúde pelo estilo de vida excessivamente acelerado. É claro que o ideal seria viver de maneira menos insana. Mas, diante das dificuldades de romper individualmente com esse modo de vida adotado por toda a sociedade, só nos resta buscar paliativos para nossas dores cotidianas: massagem, esportes, meditação, lazer, caminhada, hobbies.
Entre as inúmeras atividades que funcionam como válvula de descompressão, a de efeitos mais instantâneos é a relação sexual de boa qualidade.
Assim como as massagens relaxantes e os exercícios de meditação, o sexo traz leveza para o corpo e a mente. O envolvimento com as carícias eróticas nos transporta a um mundo etéreo. Esquecemo-nos das mazelas cotidianas, das dificuldades financeiras, dos problemas de saúde e dos dilemas que afligem o país.
Não é fácil fazer essa transição do caos para o desligamento total. No entanto, quanto maior a entrega e a concentração no estímulo às zonas erógenas, mais rapidamente entramos no clima de excitação. Por isso, vale a pena se esforçar nessa conquista, mesmo quando não nos sentimos espontaneamente predispostos ao sexo.
No início da relação sexual, só temos olhos para o parceiro e para nós mesmos. Empenhamo-nos em saciar mutuamente os desejos, em preencher expectativas, em dar e obter prazer. Estamos focados no que está acontecendo conosco, no ambiente que nos cerca e no desenrolar do sexo – o resto do mundo já deixou de ser problema nosso.
A partir do ponto em que nos aproximamos do orgasmo, nada mais nos interessa. Nosso pensamento para, exatamente como acontece numa meditação bem-sucedida, e nos entregamos incondicionalmente ao pulsar da nossa sexualidade.
Trata-se de um momento mágico, de total mergulho em nós mesmos e na urgência da nossa excitação. Nessa hora – insisto em afirmar – não existe comunhão. Usufruímos da mais absoluta e deliciosa solidão! O parceiro está no mesmo estado, voltado para si, para o seu silêncio interior.
O clímax sexual é seguido de um período de exaustão física e talvez psíquica – que leva alguns homens a cochilar. Depois vêm o relaxamento e a sensação de leveza, que protegem nossa mente dos conflitos diários. Quando retornam, conseguimos encará-los com olhos mais críticos e generosos. Sob a ótica do prazer, a vida ganha simplicidade e as coisas prazerosas, outro significado.
Mas só alcança esse relaxamento benéfico quem não usa o sexo para manipular ou dominar o parceiro, nem o instrumentaliza para exercitar seus ressentimentos.
As pessoas empenhadas apenas em impressionar na cama acabam transformando o ato em mais um fator de estresse. Tudo o que deveria ser lúdico torna-se pesado, premeditado pelas metas a serem atingidas.
A experiência nos ensina que pouca gente é capaz de tirar do sexo prazer e estímulo para a vaidade saudável – a que nos impulsiona a cuidar do corpo para manter nosso fôlego em forma e nossa aparência atraente.
Não me refiro ao consumismo desvairado, às cirurgias estéticas desnecessárias, às dietas compulsivas, ao apego doentio aos exercícios e a outros excessos cometidos na busca da perfeição. Falo do encontro consigo mesmo, do autoconhecimento.
Essa seria a verdadeira emancipação sexual, aquela que liberta as pessoas do sexo de segundas intenções e as preenche com sentimentos genuínos e transparentes, fundamentais para levar a vida com a leveza e a sabedoria das crianças
  • Flávio Gikovote