sexta-feira, 21 de março de 2014


Desejos – Victor Hugo


Desejos

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.

Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(Victor Hugo
Senhor, dê-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que não posso aceitar e a sabedoria para esconder os corpos daquelas pessoas que eu tive que matar por estarem me enchendo o saco.

Também, me ajude a ser cuidadoso com os calos em que piso hoje, pois eles podem estar conectados aos sacos que terei que puxar amanhã.

Ajude-me, sempre, a dar 100% no meu trabalho...

- 12% na segunda-feira,
- 23% na terça-feira,
- 40% na quarta-feira,
- 20% na quinta-feira,
- 5% na sexta-feira.

E... Ajude-me sempre a lembrar, quando estiver tendo um dia realmente ruim e todos parecerem estar me enchendo o saco, que são necessários 42 músculos para socar alguém e apenas 4 para estender meu dedo médio e mandá-lo para aquele lugar...

Que assim seja!!!

Viva todos os dias de sua vida como se fosse o último.
Um dia, você acerta.

Luis Fernando verissimo


Resta essa vontade de chorar diante da beleza

Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido

Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa

Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

/

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado

De pequenos absurdos, essa capacidade

De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil

E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

/

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza

De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser

E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa

Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

/

Resta essa faculdade incoercível de sonhar

De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade

De aceitá-la tal como é, e essa visão

Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

/

E desnecessária presciência, e essa memória anterior

De mundos inexistentes, e esse heroísmo

Estático, e essa pequenina luz indecifrável

A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

/

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória

Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade

De não querer ser príncipe senão do seu reino.

/

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade

Pelo momento a vir, quando, apressada

Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante

Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada…

/

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto

Esse eterno levantar-se depois de cada queda

Essa busca de equilíbrio no fio da navalha

Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo

Infantil de ter pequenas coragens.





(Vinicius de Moraes – Poesia Completa e Prosa)
Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei.”
“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d’água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado…

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados…

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite…

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado…

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela…

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR!”


Carlos Drummond de Andrade. Livro “Amar se aprende amando”.

Conta-Gotas


A mulher de aquário, por Vinicius de Moraes




AQUÁRIO



Se o que se quer é a boa esposa

A aquariana pousa.

Se o que se quer é uma outra coisa

A aquariana ousa.

Se o que se quer é muito amor

A aquariana

É a mulher macho sim senhor.

Porém não são possessivas

Nem procuram dominar

Ou botam para quebrar.



(




»



“Vivi, olhei, li, senti, Que faz aí o ler, Lendo, fica-se a saber quase tudo, Eu também leio, Algo portanto saberás, Agora já não estou certa, Terás então de ler doutra maneira, Como, Não serve a mesma para todos, cada um inventa a sua, a que lhe for própria, há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados às página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa, A não ser, A não ser, quê, A não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ele, a sua própria margem, que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá que chegar…” (A Caverna)

»





ESPLENDOR

blue-butterfly

Toda compreensão é poesia,

clarão inaugural que névoa densa

faz parecer velados diamantes.

em pequenos bocados,

como quem dá comida a criancinhas,

a beleza retém seu vórtice.

São águas da compaixão

e eu sobrevivo.”



(Adélia Prado in A duração do dia)
e




“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”

(Friedrich Nietzsche)











“A esperança vê o que não existe no presente. Existe só no futuro, na imaginação. A imaginação é o lugar onde as coisas que não existem, existem. Este é o mistério da alma humana: somos ajudados pelo que não existe. Quando temos esperança, o futuro se apossa dos nossos corpos. E dançamos.”

(Rubem Alves)


COMO É POR DENTRO OUTRA PESSOA

Imagem

Como é por dentro outra pessoa

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.



Nada sabemos da alma

Senão da nossa;

As dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,

Com a suposição de qualquer semelhança

No fundo.



(Fernando Pessoa in Poesias Inéditas



SONETO DE MARTA



vinicius

Teu rosto amada minha

É tão perfeito

Tem uma luz tão cálida e divina

Que é lindo vê-lo quando se ilumina



Como se um cílio ardesse no teu peito

É tão leve teu corpo de menina

Assim de amplos quadris e de busto

estreito

Que dir-se-ia uma jovem dançarina



De pele branca e fina

De olhar direito

Deveria chamar-te claridade



Pelo modo espontâneo

Franco e aberto

Com que encheste de cor meu

mundo escuro



E sem olhar, nem vida, nem idade.

Me deste em tempo certo

Os frutos verdes deste amor maduro.



(Vinicius de Moraes)

terça-feira, 18 de março de 2014

e Martha Medeiros




“O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções”.

“Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é”.

“Entre sobreviver e viver há um precipício e poucos encaram o salto”.

“Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias”.

“Sou uma mulher madura que, às vezes brinca de balanço. Sou uma criança insegura, que ás vezes anda de salto alto”.

“Não consigo molhar os pés apenas, eu mergulho e só paro quando me afogo, eu me queimo e só paro quando derreto, eu me jogo e só paro quando me param”.

E, com toda certeza desse mundo, uma das minhas preferidas…

“Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar”

segunda-feira, 17 de março de 2014

A melhor versão de n´s mesmos

Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores. Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece? A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior. Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares, transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida? Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos? Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas? Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela? Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas? Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”? Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames. O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão

Martha Medeiros


A sabedoria versa acerca das coisas humanas e das quais é possível deliberar: dizemos ser obra do homem sábio precisamente isso: deliberar bem. Delibera bem aquele que, seguindo o raciocínio, é habil em tomar, entre os bens atuáveis pelo homem, o melhor.


Nós somos os pais de nossas ações, mas nós também somos os filhos de nossos atos.Aristotéles
















...
A realização de um sonho depende de dedicação, há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica, mas toda mágica é ilusão, e a ilusão não tira ninguém de onde está, em verdade a ilusão é combustível dos perdedores, pois...Quem quer fazer alguma coisa, encontra um MEIO.Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa!
(Roberto Shinyashiki)

Fragmentos




























































































A Caverna - José Saramago



“...e agora queria recuperar o tempo perdido, palavras estas insensatas, entre as que mais o forem, expressão absurda com a qual supomos enganar a dura realidade de que nenhum tempo perdido é recuperável, como se acreditássemos, ao contrário dessa verdade, que o tempo que críamos para sempre perdido teria, afinal, resolvido ficar parado lá atrás, esperando com a paciência de quem dispõe o tempo todo, que déssemos pela falta dele.”

“...era um despropósito, um disparate, preocupar-se com algo que não tem existência na realidade, sim, era certo, nunca tinha pensado nisso antes, de fato, os números não existem na realidade, às coisas é indiferente o número que lhes damos, tanto faz dizermos delas que são o treze ou o quarenta e quatro, o mínimo que se pode concluir é que não tomam conhecimento do lugar em que calhou ficarem. As pessoas não são coisas, as pessoas querem estar sempre nos primeiros lugares, pensou o oleiro, e não só querem estar neles, como querem que se diga e os demais o notem.”

“...saberíamos muito mais das complexidades da vida se nos aplicássemos a estudar com afinco suas contradições em vez de perdermos tanto tempo com as identidades e as coerências, que estas tem obrigação de explicar-se por si mesmas.”

“... é enquanto estamos vivos que podemos falar da morte, não depois.”

“A vida é assim, está cheia de palavras que não valem a pena, ou que valeram e já não valem, cada uma que formos dizendo tirará o lugar de outra mais merecedora, que o seria não tanto por si mesma, mas pelas conseqüências de tê-la dito.”

“...duas fraquezas não fazem uma fraqueza maior, fazem uma nova força.”

“Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa operação das aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar estrangulamentos, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida.”

“... a quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa (...) A não ser que estes tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, a sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá de chegar.”

“Se te espetam uma faca na barriga, ao menos tenham a decência moral de te mostrar uma cara conforme a ação assassina, uma cara que ressumbre ódio e ferocidade, uma cara de furor demente, até mesmo de frieza desumana, mas, por amor de Deus, que não te sorriam enquanto estiverem a rasgar as tripas, que não te desprezem a esse ponto extremo, que não te dêem esperanças falsas, dizendo por exemplo, Não se preocupe, isto não é nada, com meia dúzia de pontos ficará fino como antes...”

“...respondeu que falar-lhe dos pensamentos que tinha seria como chover no molhado, porque ela os conhecia tão bem ou melhor do que ele próprio, não palavra por palavra, claro está, como o registro de um gravador, mas no mais profundo e essencial, e então ela disse que, em sua humilde opinião, a realidade era precisamente ao contrário, que de essencial e profundo nada sabia e que muitas das palavras que lhe ouvira não passavam de cortinas de fumo, circunstância por outro lado nada estranhável porque as palavras, muitas vezes, só para isso servem, mas há pior ainda, que é quando elas se calam de todo e se convertem num muro de silêncio compacto, diante desse muro não sabe uma pessoa o que há de fazer.”
VO Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupéry



“Quando o mistério é impressionante demais, a gente não ousa desobedecer.”

“É tão misterioso o país das lágrimas.”

“– A gente se sente um pouco só no deserto.
– Entre os homens a gente também se sente só.”

“E eu não tenho necessidade de ti, e tu também não tens necessidade de mim. Não passo aos teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”

“O essencial é invisível aos olhos.”

“Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia, não vê nada, não escuta nada. De repente alguma coisa irradia no silêncio...”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar.”

“Eu estava triste, mas lhes dizia: É o cansaço...”













































Fragmentos




























































































O Aleph - Paulo Coelho



"O nome disso é rotina. Você acha que existe porque está infeliz. Outras pessoas existem em função de seus problemas e vivem falando compulsivamente a respeito deles."

"...sabendo que procuramos interpretar todas as coisas de acordo com aquilo que queremos, e não como elas são."

"Coragem pode atrair medo e adulação, mas força de vontade requer paciência e compromisso."

"Nenhuma vida está completa sem um toque de loucura."

“As palavras são lágrimas que foram escritas. As lágrimas são palavras que precisam jorrar.”

“De vez em quando precisamos ser estrangeiros de nós mesmos.”

“Viver é experimentar, e não ficar pensando no sentido da vida.”

“– Você ainda acha que deve continuar a viagem?
– Mais do que nunca. O terror sempre me fascinou.”

“Quem conhece a Deus não o descreve. Quem descreve a Deus não o conhece.”

“Porque há alguns meses me queixei de que não estava conectado à energia divina? Que bobagem! Sempre estamos, é a rotina que não nos permite reconhecer isso.”

“Costumamos medir o tempo como medimos a distância entre Moscou e Vladivostok. Mas não é isso. O tempo não se move tampouco está parado. O tempo muda. Ocupamos um ponto nessa constante mutação...”

“Não estou casado há mais de duas décadas com a mesma pessoa. É mentira. Nem ela nem eu somos os mesmos...”

“Não somos aquilo que as pessoas desejavam que fôssemos. Somos quem decidimos ser. Culpar os outros sempre é fácil. Você pode passar a vida culpando o mundo, mas seus sucessos ou suas derrotas são de sua inteira responsabilidade.”

“Trabalhar apenas com a experiência é repetir soluções velhas para problemas novos.”

“Você habita este corpo gigantesco que é o Universo, onde estão todas as soluções e todos os problemas. Visite sua alma em vez de visitar seu passado.”

"O mesmo se passou com a igreja a que pertenço. Matamos em nome de Deus, torturamos em nome de Jesus, decidimos que a mulher era uma ameaça para a sociedade e suprimimos todas as manifestações dos dons femininos, praticamos a usura, assassinamos inocentes e fizemos alianças com o diabo. Mesmo assim, dois mil anos depois ainda estamos aqui."

"É possível evitar a dor? Sim, mas você jamais aprenderá alguma

domingo, 16 de março de 2014


O gosto do pó - L.F. Pondé (fragmentos)



(...) Idealizar é pensar que o mundo é melhor do que parece. A idealização aumenta o já inevitável risco de fracassar na vida. (...) a incapacidade de idealizar pode se transformar numa doença mortal. O ceticismo, o cinismo, o niilismo, a melancolia, são formas possíveis dessa doença. Muitos acreditam que sem utopias ou ideais a vida perde o sentido. (...) desprovido de qualquer órgão para idealização, prefiro sempre a realidade à fantasia. (...) Uma das banalidades da sociedade moderna é confundir conhecimento com felicidade e sucesso. "A vida para a felicidade" é irmã gêmea da mediocridade.




Mas a mediocridade pode ser uma forma de sobreviver. Muitas vezes, não há muito mais do que isso como opção no cotidiano. Não acho que o conhecimento salve ninguém, mas ele nos ensina outras formas de olhar o mundo. (...)




Habitamos em dois mundos: o externo e o interno. Do lado de fora, a ameaça vem do fato de sermos parte insignificante da cadeia alimentar. Portadores de um órgão que pensa e vê a beleza (...) Esse "excesso" de conhecimento é a ameaça que nos atormenta no mundo interno. Combatemos em duas frentes.




Na primeira, combatemos a violência do meio ambiente, onde animais devoram uns aos outros. Na segunda, combatemos a violência da alma, onde o medo se torna nosso irmão gêmeo. Esse "excesso" de conhecimento nos faz carregar nas costas (...) a imagem de nosso próprio cadáver no espelho. (...)




Às vezes, na insônia, como diria Elias Canetti, ouvimos os ruídos do corpo e sentimos a fragilidade da vida que nos escapa. Certa feita, o escritor israelense Amóz Oz disse (...) que tem o hábito de caminhar pelo deserto todas as manhãs. Esse hábito o ajuda a compreender melhor a condição humana.




Por quê? Amóz Oz tem em mente a antiga tradição religiosa de caminhar pelo deserto a fim de percebermos do que somos feitos: pó e cinzas. Grandes descobertas sobre si mesmo e sobre a vida são comuns nos relatos dessas caminhadas. Uma teologia forte nasce aí: na pobreza do pó.




Aliás, a ignorância com relação às grandes tradições religiosas é marca de um iluminismo estreito, característico da nossa formação em ciências humanas. Marx, Nietzsche e Freud, apesar de terem posto a teologia de joelhos, apresentam visões simplificadas da religião. Mesmo a literatura de auto-ajuda, esse grande engodo, bebe nesta experiência do deserto para construir suas fórmulas baratas de salvação.




Mas a consciência do deserto pode nos assaltar mesmo em meio a nossa vida cotidiana. (...) O envelhecimento é um exemplo. O medo do envelhecimento mostra seus dentes todas as manhãs. Quando olho no espelho pela manhã, e vejo as marcas do tempo no rosto, sou visitado por este fantasma. Ou quando recebo o resultado infeliz de um exame de laboratório.




Hospitais e cemitérios são lugares excepcionais para fazermos filosofia. Imediatamente, é reestabelecida, em minha alma, a consciência do punhado de pó que sou. A cada doença, o pó toma o lugar do corpo. (...)




Uma das coisas mais difíceis de se pensar quando vivemos numa cultura medrosa como a nossa, viciada na utopia do "humano eficaz", é que outros modos de vida já foram menos covardes. Isso nada tem a ver com "voltar ao passado". Faz parte de nossa cultura o auto-engano porque tememos que a tristeza nos torne menos eficientes.Imperativos do tipo "seja jovem" excluem grande parte da experiência cotidiana. (...)




Se o seu pai ou a sua mãe sonha em ser "jovem" como você, a fala escondida nesse desejo é: "você meu filho, você minha filha, não tem futuro". A coragem é necessária para sermos gente grande. A "propaganda da juventude" humilha a alma que tem, em sua boca, o gosto do pó todos os dias.


sábado, 15 de março de 2014

As várias faces da mentira


Há um momento na vida em que, graças ao domínio de mecanismos sofisticados da inteligência, aprendemos a mentir. Mentimos jogando com as palavras, contendo gestos, assumindo posturas convenientes – e das quais discordamos – para aliviar tensões. Tentamos esconder aquele traço da nossa personalidade que não nos agrada assumindo uma maneira de ser mais apropriada. São tantas as possibilidades de escamotear a verdade que o mais prudente seria olhar o ser humano com total desconfiança – pelo menos até prova em contrário.

Ainda que sentir medo e insegurança faça parte da natureza humana, fingimos que tudo está sob controle e que nada nos abala para ocultar nossa fragilidade. Acreditando no que vêem, os outros passam a se comportar como se também não sentissem medo. Mentem para não parecer frágeis e inferiores diante daqueles que julgam fortes.

Nesse teatro diário, alimentamos o círculo vicioso da dissimulação. Minto para impressionar você, que me impressionou muito com aquele jeito fingido de ser – mas que me pareceu genuíno. Não seria mais fácil se todos admitíssemos que não somos super-heróis e que não há nada que nos proteja das incertezas do futuro?

Em geral, quem não aceita o próprio corpo evita praias e piscinas. Diz que não gosta de sol, quando, na verdade, não tem estrutura para mostrar publicamente aquilo (a gordura, a magreza ou qualquer outra imperfeição) que abomina. É o mesmo mecanismo usado pelos tímidos, que não se entusiasmam muito por festas e locais públicos. Em casa, não precisam expor sua dificuldade de se relacionar com desconhecidos.

Temos muito medo de nos sentir envergonhados, de ser alvo de ironias que ferem nossa vaidade. É para não correr esse risco que muita gente muda de cidade depois de um abalo financeiro. Melhor ser pobre e falido (e encontrar a paz necessária para reconstruir a vida) onde ninguém nos conheceu ricos e bem-sucedidos!

Até aqui me referi às posturas de natureza defensiva, que servem de armadura contra o deboche, as críticas e o julgamento alheio. Há, no entanto, um tipo perverso de falsidade: a premeditada. Pessoas dispostas a se dar bem costumam vender uma imagem construída sob medida para tirar vantagem.

Um homem extrovertido e aparentemente seguro, independente e forte pode ter criado esse estereótipo apenas para cativar uma parceira romântica. Depois de conquistá-la, revela-se inseguro, dependente e egoísta.

Mulheres sensuais podem se comportar de maneira provocante para despertar o desejo masculino – e sentir-se superiores aos homens. Vendem uma promessa de intimidade física alucinante que raramente cumprem, pois são, em geral, as mais reprimidas sexualmente. O apelo erótico funciona como atalho para os objetivos de ordem material que pretendem alcançar.

Não há como deixar de apontar a superioridade moral daqueles que mentem por fraquezas quando comparados aos que obtêm vantagens com sua falsidade. O primeiro grupo poderia se distanciar ainda mais do segundo se acordasse para uma verdade óbvia e fácil de enfrentar. Aquele que me intimida é tão falível e frágil quanto eu. E – nunca é demais lembrar – para ele, eu sou o outro que tanto lhe mete medo.


Flávio Gikovate


















Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que quero fugir.

Tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus pontos de vista, minhas escolhas (...) Eu tenho medo é da lucidez. Tenho medo dessa busca desenfreada pela verdade, pelas respostas. Eu me esgoto tentando morder meu próprio rabo (...) Ok, eu sei que jamais vou derramar um copo de cerveja na cabeça de um homem, nem vou sair nua pelos parques protestando contra o uso de casacos de pele. Eu nunca vou fazer uma extravagância, e é isso que me assusta, por que uma piração de vez em quando pode ser muito bem vinda. Eu não tenho medo de perder o senso. Eu tenho medo é desta eterna vigilância interior, tenho medo do que me impede de falhar.

Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, se acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. (...) As coisas muito boas e as coisas muito ruins exigem explicação. Coisas mais ou menos estão explicadas por si mesmas.

Perigoso é a gente se aprisionar no que nos ensinaram como certo e nunca mais se libertar, correndo o risco de não saber mais viver sem um manual de instrução.

Sou quase oriental... sou latina muito raramente. Mais tudo mudou ando tão mexicana, por dentro quase histérica.

Eu estou apaixonada mas não é por uma pessoa. Estou apaixonada pela lembrança de algo leve, solto e rápido, como uma bola de gás que escapa da nossa mão e passa a ficar cada vez menor e mais distante. Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirada, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas.(...)
Um homem diz que você é linda, espetacular, a pessoa mais interessante que ele já conheceu e você, se tiver o miolo mole e vários anos de casada, acredita.

Talvez lembre de mim como uma mulher vivida, descolada, que lida bem com relações descartáveis, logo eu que odeio copos de plásticos, canudinhos, tudo que não dure.

Não gosto de nada que é raso, de água pela canela. Ou mergulho até encontrar o reino submerso de Atlântida, ou fico à margem, espiando de fora. Não consigo gostar mais ou menos das pessoas, e não quero essa condescendência comigo também.

Detesto dormir tarde (...) madrugada é para quem tem gás, e eu sou movida à energia solar. Uma vida sem sustos. È o que desejo pra mim. Não estou dizendo uma vida sem decepções, frustrações ou êxtases: sem sustos apenas. Quero aceitar a potência dos meus sentimentos e não ficar embaraçada diante de reações incomuns. Poder receber uma ventania de pé, mesmo que ela me desloque de onde eu estava. De pé, mesmo com medo. Não mais em posição fetal. Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas, por um triz não sou uma bruxa. (...)

Não gosto que me peçam para ser boa, não me peçam nada, mesmo aquilo que eu posso dar. As relações de dependência me assustam. Não precisem de mim com hora marcada e por motivo concreto, precisem de mim a todo instante, a qualquer hora, sei ouvir o chamado silencioso da amizade verdadeira, do amor que não cobra, estarei lá sem que me vejam, sem que me percebam, sem que me avaliem.


Ando com preguiça de interpretar o mundo, de entender as pessoas, de procurar os setes erros. Gostaria de ter todas as respostas na última página, de ter um manual de atitudes sensatas, de ter pensamentos voltado pra Meca. Queria que houvesse um serviço de telessoluções entregues em domicílio em menos de meia hora. Deus, ando abençoando a alienação.

Eu me exijo desumanamente. Tenho impressão de que se eu não tiver uma vida bem argumentada ela vai se esfarelar em minhas mãos. Sou garimpeira, quero sempre cavoucar a razão de tudo, não consigo dar dois passos sem rumo determinado.

quinta-feira, 13 de março de 2014

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O Espírito do Zen - Alan Watts



"...um monge chega ao mestre Chao-chou e pergunta: 'Acabei de chegar a este mosteiro. O senhor poderia, por favor, me dar alguma instrução?' O mestre responde: 'Já comeste, ou não, a refeição matinal?', 'Sim, já o fiz, senhor', 'Então, lava as tuas tigelas'."

"Nada é mais fácil do que confundir a sabedoria de um sábio com a sua doutrina, pois, na ausência de qualquer compreensão da verdade, a descrição dessa compreensão feita por outrem é facilmente confundida com a própria verdade."

"O mundo é visto como separado porque a pessoa projeta nele o seu próprio estado de confusão e ignorância; assim, em cada um de nós há essa mente que observa as circunstâncias criadas por ela mesma e, de acordo com a natureza particular da expressão dessa mente nos indivíduos, são criados os ambientes que os envolvem."

"O homem olha para o mundo exterior para buscar sua salvação; imagina que poderá encontrar felicidade ao possuir algumas de suas formas. Mas não poderá encontrar felicidade nessas formas se não a puder encontrar em sua própria mente, pois é a sua mente que faz as formas..."

"O homem se apega às coisas na vã esperança de que elas possam permanecer imóveis e perfeitas; ele não se reconcilia com o fato da mudança (...) O homem notar e lamentar a mudança mostra que ele próprio não está se movendo com o ritmo da vida."

"Trata-se, portanto, do princípio de controlar as coisas entrando em harmonia com elas, do domínio através da adaptação."

"...com os olhos focalizados no horizonte, não vemos o que está aos nossos pés."

"Quanto mais firmemente tentamos captar o momento, para manter uma sensação agradável ou definir algo de uma maneira que possa ser satisfatória para sempre, mais ilusório ele se torna. Costuma-se dizer que definir é matar. Se o vento parasse por um segundo para que pudéssemos capturá-lo, ele deixaria de ser vento. O mesmo é verdade em relação à vida. As coisas e os fatos estão perpetuamente se mudando e se movendo; não podemos reter o momento presente e fazê-lo ficar conosco; não podemos chamar de volta o passado ou manter para sempre uma sensação passageira de si. Se tentarmos fazê-lo, tudo o que teremos será uma recordação; a realidade não está mais lá e nenhuma satisfação pode ser encontrada nisso."

"Há teólogos e filósofos que mostram grande preocupação se alguém questiona suas ideias acerca do universo, pois imaginam que dentro dessas ideias estão incrustadas as verdades definitivas. E pensam que, se perderem essas ideias, perderão a verdade."

"...a moralidade é valiosa quando for reconhecida como um meio para atingir um fim; é uma boa serva, mas um mestre terrível. Quando os homens a usam como serva, ela permite que se adaptem à sociedade, e que se misturem facilmente com seus companheiros e, mais especialmente, permite a liberdade para o desenvolvimento espiritual. Quando ela é o mestre, as pessoas tornam-se intolerantes e puras máquinas éticas convencionais."

"...no momento em que compreende, absoluta e finalmente, que a vida não pode ser captada, ele a solta, percebendo num átimo de segundo que tolo ele tem sido ao tentar retê-la como se fosse sua. Assim, nesse momento, ele alcança a liberdade do espírito, pois compreende o sofrimento inerente à tentativa humana de guardar o vento numa caixa, de manter viva a vida sem deixar que ela viva

quarta-feira, 12 de março de 2014

Comunicação tem remédio - Maria Júlia Paes da Silva



"Todas as reações físicas obedecem ao comando mental, e o que leva uma pessoa a agir, em primeira instância, é sempre a emoção."

"... quando a densidade populacional aumenta muito, os seres humanos tendem a desencadear mecanismos de proteção a muitos estímulos, como não cumprimentar, não olhar, deixar de tratar bem as pessoas. Comparemos um indivíduo que vive no interior com outro da capital: o ritmo do andar, o número de cumprimentos na rua, os olhares - tudo é diferente!"

"Os estereótipos fazem com que nossa percepção do contexto diminua e nossos mecanismos de projeção floresçam."

"As pessoas veem e ouvem apenas o que esperam e querem. Isso acontece porque tendemos a sentir e agir de acordo com os nossos próprios referenciais de vida."
Sidarta - Hermann Hesse



“Quem me dera olhar, sorrir, caminhar, manter-me sentado à sua maneira, com esse quê de liberdade, de dignidade, de discrição, de ingenuidade, de franqueza e de mistério! Realmente assim só se pode olhar e caminhar quem estiver penetrado no âmago de sua personalidade. Pois então, também eu me empenhava em penetrar no âmago da minha alma.”

“...nada nesse mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais...”

“Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a



MUNDO GRANDE

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem… sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo…
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 11 de março de 2014




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"Quem procura colocar os outros a serviço dos seus interesses ganhará, certamente, muitas coisas, mas as perderá ainda mais.

Se a pessoa não faz os esforços necessários, e que lhe cabem fazer, para obter aquilo que deseja em um determinado campo, fica ameaçada pela enfermidade física ou psiquicamente.

Aquele que não exerce as suas faculdades, torna-se cada vez mais vulnerável, e elas são perdidas. Mas aquele que adota a filosofia do esforço individual, aprende a dominar a própria vontade e se reforça.

A cada dia, descobre em si possibilidades que não lhe eram conscientes e sente uma alegria que nada e nem ninguém lhe pode tirar.

Acreditem, a filosofia do esforço nos revela que a alegria reside no próprio esforço. Por isso, não descarreguem para outros aquilo que vocês mesmos devem fazer.

E se for possível, façam sem a ajuda deles. E ainda acrescentarei que vocês não devem esperar que os esforços lhes sejam impostos de fora.

São vocês mesmos que devem impô-los."

Eu quero ficar muito mais


Já passei por muito sufoco, já conquistei tantas coisas,
Já perdi amigos e amores, já conquistei corações e almas...
Já sorri pra não chorar e chorei de tanto rir.
Já perdi emprego e me desesperei...
Já entrei no novo emprego e odiei.
Já sonhei o impossível pra tentar realizar o possível, já tentei e falhei,
Já vi estrelas no céu e pensei em alguém...
Já vi a chuva cair e chorei de saudades...
Já abracei uma árvore pensando em como é bom estar em contato com a natureza,
Já ajudei jovens a estudar pro vestibular, já escrevi um livro,
Já olhei pra alguém e pensei: "Agora eu vou casar!" e em pouco tempo descobri que eu não ía nem namorar...
Já pensei besteira a respeito de alguém e GRAÇAS A DEUS eu descobri que estava errada!
Já briguei com minha melhor amiga por achar que ela estava me deixando de lado e descobri que fui eu quem a deixou.
Já tentei colar na prova de matemática e me dei mal...
Já briguei com minha mãe por acreditar q eu tinha razão e depois descobri q era ELA quem tinha,
Já briguei com meu pai porque queria sair de casa pra morar com outra pessoa e não acreditei
quando ele disse que eu estava fazendo besteira... E me arrependi.
Já saí correndo na chuva pra pedir que alguém não fosse embora...
Já chorei assistindo filme, e dei risada no meio de uma reunião seriíssima...
Já liguei o computador antes mesmo de acender a luz pra ver se tinha chegado aquele e-mail que eu estava esperando há dias...
Já comprei um monte de coisas que não precisava só porque estavam na promoção...
Já tive chilique no momento errado e fiquei quieta quanto era necessário ter falado...
Já fiz as unhas correndo pq tava atrasa e estraguei logo em seguida....
Já comi miojo por uma semana porque tava triste e sem vontade de cozinhar...
Já comi batata frita molhada no Sunday do MC Donald e adorei...
Enfim, já fiz tanta coisa que a única conclusão que eu cheguei foi: EU QUERO FAZER MUITO MAIS!!!!!!
Mario Quintana



Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois

Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

A nossa vitória de cada dia

A Nossa Vitória de cada Dia Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector
Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!

Tati Bernardi

Elas sorriem quando querem gritar. Elas cantam quando querem chorar. Elas choram quando estão felizes. E riem quando estão nervosas. Elas brigam por aquilo que acreditam. Elas levantam-se para injustiça. Elas não levam "não" como resposta quando acreditam que existe melhor solução. Elas andam sem novos sapatos para suas crianças poder tê-los. Elas vão ao médico com uma amiga assustada. Elas amam incondicionalmente. Elas choram quando suas crianças adoecem e se alegram quando suas crianças ganham prêmios. Elas ficam contentes quando ouvem sobre um aniversário ou um novo casamento.
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Mulher forte e com atitude

Sentimentos em frases
Hoje, não quero ser a mulher forte, com atitude de leoa, sedutora, aquela que luta, defende, conquista, consola, abriga... Hoje, eu quero deixar que a mulher sensível, delicada, romântica, frágil... seja vista e sentida! Quero um carinho, um abraço, um colo... Quero braços que me envolvam protejam, abriguem

quarta-feira, 5 de março de 2014

V

Onde você gostaria de estar agora, nesse exato momento?

Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema assistindo à estréia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.
 
 
Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.
E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?
 
Meu palpite: dentro de um abraço.

Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.
 
 
Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.

O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz humana nenhuma se faz necessária, está tudo dito.

Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde à beira-mar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?

Difícil bater essa última alternativa, mas onde começa o amor senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo. Mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria. Entrendo na semana dos namorados, recomendo fazer reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste

A fuga da dor

 fuga da dor se manifesta, por vezes, de uma forma peculiar e camuflada; é o caso dos processos destrutivos próprios do medo da felicidade.

Como os estados em que sentimos grande felicidade parecem atrair coisa ruim, nos defendemos de uma eventual tragédia destruindo parte dela.

A ideia de que a felicidade atrai tragédia é forte e parece estar presente em todos nós. A alegria se mistura com uma... inquietação, um medo.

A manifestação mais típica da associação do medo com a felicidade é a que vivemos no estado amoroso "extraordinário" que chamamos de paixão.

Para nos proteger do medo de que a felicidade amorosa atraia uma tragédia criamos pequenos atos destrutivos: ex. provocamos uma briga tola.

Apesar de ser destrutivo, o conflito banal criado para "esfriar" a alegria sentimental têm uma finalidade construtiva: evitar um mal maior!

Até os atos destrutivos próprios do medo da felicidade estão a serviço de reduzir a dor: criamos uma dor menor para evitar a mais dramática!

Gikovate
Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia
e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.
Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
Chega na hora certa, fala as coisas certas,
faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor...
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
que é pra na hora que vocês se encontrarem
a entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
Essa pessoa vai tirar seu sono.
Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão.
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo,
porque a vida não é certa.
Nada aqui é certo!
O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
querendo,conseguindo...
E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus deu tudo certo"
Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra
gente...
Luis Fernando Veríssimo
de 2013

Da arte de ser patife

Nós, brasileiros, temos grande vocação para ser patifes, e quase não é necessário ensinar a ninguém, aqui, a arte de ser patife. Em todo caso, como ainda há alguns que não são patifes, vou ensinar-lhes a arte.
Patifaria nada tem a ver com as patas, embora também se possa praticá-la com a dita cuja. Comumente, porém, pratica-se a patifaria com as mãos, ou com a boca. E quando disse patas, não me referi aos patos e às patas, aves anseriformes, anatídeas, que nadam nas lagoas e botam ovos. De qualquer maneira, quem é vítima de uma patifaria é um pato.
O nosso PIB, em patifaria, é elevadíssimo, e cresce cada vez mais a cada governo, e há quem seja especialista nela, como os deputados e senadores.
A patifaria, comumente se faz através do engodo, da promessa não cumprida, do engano, da dívida contraída e não paga. Praticam-na os comerciantes, os publicitários, os empresários, os fabricantes, et caterva. Também pode ser o estelionato, ou o peculato, e coisas de semelhante gênero. É bem de se ver ainda que a patifaria não é violenta. Ela é exercida suavemente, através das palavras, convencendo-se a vítima de que está fazendo um bom negócio. Quando a vítima é também um patife que pretende tirar vantagem de outro patife que lhe propõe uma transação, há no caso o que se denomina fraude bilateral.
O patife não é um medroso, é antes um audaz e, como diziam os latinos, “audax fortuna juvat”.
As mil formas de patifarias são muito diversificadas, e entre elas há o conto do vigário. Não sei, porém, se há o conto do bispo. Isto é, há sim, o conto dos bispinhos de algumas seitas religiosas. Estes, praticam a patifaria através da exibição de exorcismos e têm sempre a Bíblia na mão.
Patifaria ainda faz o homem que trai a sua mulher, e vice-versa.
A patifaria jamais espatifa, porque, como já disse, é praticada suavemente, através da persuasão do bobo que vai sofrer-lhe as conseqüências.
Os cartórios estão cheios de patifarias registradas. Os jornais estampam as patifarias e também as cometem. Que dizer então dos canais de televisão? Até através do telefone se pode praticar patifarias.
O patife bem sucedido nunca vai para a Cadeia.
Na língua portuguesa há um livro velhusco, em puro vernáculo, com o título “A Arte de Furtar”. Nele se ensina não só a arte de furtar, mas também a arte da patifaria.
Como somos o país da patolândia, aqui a patifaria prospera a olhos vistos.
Também é comum a patifaria no jogo de cartas.
Os banqueiros são patifes bem remunerados.
Igualmente, nas Bolsas, com o sobe e desce das ações, a patifaria tem o seu lugar.
E se você praticar estas recomendações, será, sem dúvida, um patife bem sucedido.
Afinal de contas, a vida é também uma patifaria. Promete o que não nos dá, e nos dá o que não queremos.

                                                                Annibal Augusto Gama

:
 
 

Citações
William  Shakespeare

— Devemos aceitar o que é impossível deixar de acontecer.

— Até mesmo a bondade, se em demasia, morre do próprio excesso.

— O cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro.

— Vazias as veias, nosso sangue se arrefece, indispostos ficamos desde cedo, incapazes de dar e de perdoar. Mas quando enchemos os canais e as calhas de nosso sangue com comida e vinho, fica a alma muito mais maleável do que durante esses jejuns de padre.

— Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática.

— Se o ano todo fosse de feriados, o lazer, como o trabalho, entediaria.

— Ventre grande é sinal de espírito oco; quando a gordura é muita, o senso é pouco.

— Que é o homem, se sua máxima ocupação e o bem maior não passam de comer e dormir?

— Do jeito que o mundo anda, ser honesto é (igual) a ser escolhido entre dez mil.

— Hóspede oferecido (...) só é bem-vindo quando se despede.

— Um homem inteligente pode transformar-se num joão-bobo, quando não sabe valer-se de seus recursos naturais.

— Quem não sabe mandar deve aprender a ser mandado.

— A mulher que não sabe pôr a culpa no marido por suas próprias faltas, não deve amamentar o filho, na certeza de criar um palerma.

— As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos.

— Ninguém pode calcular a potência venenosa de uma palavra má num peito amante.

— Sábio é o pai que conhece seu próprio filho.

— Tem ventura fugaz, sempre periga, quem se fia em rapaz ou rapariga.

— Ser ou não ser... eis a questão.

— É estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho.

—As mais belas jóias, sem defeito, com o uso o encanto perdem.

— O bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria.

— Nunca poderá ser ofensivo aquilo que a simplicidade e o zelo ditam
a religião é] um sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável e que, por outro lado, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados.”Sigmund Freud

Tostoi e a educação uma revelação


As leituras e a viagem de Tolstói à Europa Ocidental permitiu a ele uma nova visão acerca do funcionamento da sociedade russa do século XIX. Tornou-se mais sensível à servidão e passou a dedicar-se a educar os camponeses de suas propriedades. Lembrando, Tolstói era um grande proprietário rural, aristocrata, de uma família tradicional russa. Em sua juventude, tratou seus servos como objeto de posse. Mudar de ideia acerca da condição humana em que seus servos viviam, não deve ter sido tarefa fácil, foi ao longo de muitos anos que essa mudança se deu. Quando aconteceu de fato, após uma viagem à Europa Ocidental, Tolstói mudou sua relação com seus servos. Finalmente conseguiu convencê-los a transferir-se do sistema de corveia para o pagamento de um aluguel ou “imposto territorial”. Seus servos, então, passariam a cultivar a terra da maneira como quisessem. Em outra parte de suas propriedades passou a usar mão de obra contratada e libertou os servos domésticos.
O próximo passo de Tolstói foi reabrir a escola rural existente em sua propriedade e passou a dedicar-se à educação de seus antigos servos. Conforme nos indica Barlett (2013), a realidade da educação rural era precária: “Na década de 1850, menos de 6% da população rural era alfabetizada. Nas regiões rurais não existiam escolas públicas, nem mesmo no nível primário ou fundamental, e a pouca instrução que havia – oferecida por algum padre de vilarejo ou um soldado reformado (…) era primitiva e paga. Os professores ensinavam de maneira mecânica e pouco imaginativa, sem incentivar o pensamento, e aplicavam punições corporais. Os senhores proprietários de terras não tinham a obrigação de educar seus servos, e em um país onde os camponeses eram tratados como espécie subumana, não surpreende que poucos o fizessem. (…)” (p. 184)
A universalização da educação parece um tema recorrente. A importância disso para uma sociedade vai depender do objetivo que ela tem a curto e em longo prazo para si mesma. A Rússia rural do século XIX não parece diferente do que vivemos no Brasil atual, no que se refere aos objetivos da sociedade em relação à educação de sua população.
No mesmo período em que Tolstói estava preocupado em investir na educação campesina, “(…) Tolstói não entendia qual era o sentido de introduzir na Rússia ferrovias, telégrafos e outras formas de modernização se a grande massa do país não tinha acesso à educação pública (…).” (p. 185). Da mesma maneira, não consigo ver o Brasil se tornando um país mais igualitário, sem tantos abismos sociais, com uma educação tão precária e tão pouco acessível às classes mais pobres.
A modernidade parece passar por cima da condição de vida humana, reiteradamente. Não somente na Rússia do século XIX, mas também no Brasil. Temos escolas públicas, buscamos a universalização da educação. Porém, a qualidade do ensino ainda deixa a desejar. O estímulo à leitura e ao desenvolvimento de um pensamento crítico ainda é muito pequeno. Podemos ter tablets, celulares, mas ainda temos muita dificuldade no que diz respeito à narrativa. Ela que nos constitui enquanto seres humanos e torna nossas atitudes humanas. Caso contrário vemos um amontoado de atitudes robotizadas, imitadas, pouco refletidas, uma verborragia catártica.
Quem dera um dia possamos parar de repetir o passado e viver uma realidade mais humanizada e autêntica, com mais acesso à educação de qualidade e uma possibilidade de diminuir as discrepâncias existentes entre as classes sociais.
Para finalizar, uma lição de Tolstói para todos os educadores e pais (a meu ver também são educadores):
“(…) A principal missão de Tolstói como educador era introduzir a liberdade na experiência de aprendizagem: seus alunos tinham permissão para frequentar as aulas quando bem quisessem, e não havia castigos físicos. (…) dava importância à flexibilidade, de modo que o professor se adequasse às necessidades de seus alunos, e não o contrário.” (p. 185)