segunda-feira, 20 de janeiro de 2014




 

Flávio Gikovate
SEXO E AMOR SÃO COISAS DIFERENTES
O fato de o sexo e de o amor andarem juntos em um grande número de ocasiões não significa que sejam a mesma coisa. Tampouco significa que sejam manifestações distintas de um mesmo instinto – termo usado para designar impulsos que nascem espontaneamente dentro de nós Esta última idéia foi defendida por Freud, o genial médico de Viena que, no inicio do século XX lançou as bases de uma nova ciência, à qual denominou psicanálise.
A idéia de que sexo e amor sejam a mesma coisa causou grande confusão na época em que foi lançada, sendo responsável por grande parte da oposição inicial que a psicanálise sofreu. Dizer, por exemplo, que um menino de 7 anos sente desejo sexual por sua mãe pareceu chocante e, ao mesmo tempo, duvidoso. Atualmente, ninguém duvida que um menino dessa idade é extremamente ligado sentimentalmente a sua mãe. É bom que se saiba, também, que a confusão era generalizada na maneira de pensar das pessoas daquela época; é exemplo disso a atitude que os pais tinham com seus filhos do sexo masculino: não os beijavam e nem eram muito carinhosos com eles por medo de estarem contaminando-os com desejos homossexuais. Essa atitude só começou a se modificar de uns trinta anos para cá, quando as pessoas passaram a perceber que ternura é bastante diferente de tesão.
Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e feijão – andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são coisas bem diferentes. O amor é um desejo forte que temos por aconchego. O amor busca a sensação de paz e harmonia que sentimos quando estamos junto de uma pessoa muito especial que “elegemos” como o nosso ser amado. Nos primeiros anos de vida, esse objeto do amor é a própria mãe. Com o passar dos anos, nos desligamos dela e buscamos outra pessoa para ser o nosso par na aventura romântica. Uma vez escolhido, só serve aquele parceiro. Sua substituição é possível, mas lenta e dolorosa.
O sexo é um impulso que se manifesta pela primeira vez no fim do primeiro ano de vida. É o momento em que a criança começa a perceber com mais clareza que não está “grudada” na sua mãe, que não é uma parte dela. Começa a perceber a sua individualidade, e passa a pesquisar-se. É o período em que a criança, ao se tocar inteira, percebe que as sensações variam conforme a parte do corpo que é tocada. Percebe bem claramente que a região correspondente aos órgãos genitais provoca uma sensação muito especial, uma inquietação agradável, à qual chamamos de excitação sexual. É muito importante perceber que as primeiras sensações de natureza sexual se dão quando a criança, sozinha, está pesquisando o seu corpo. Trata-se, pois, de um fenômeno pessoal, individual, e que foi denominado “auto-erótico” por essa razão. Diferentemente do amor, que sempre envolve outra pessoa, o sexo é, nas primeiras descobertas infantis, uma manifestação individual.
Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e feijão – andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são coisas bem diferentes.
Podemos dizer, portanto, que existem duas grandes diferenças entre o fenômeno amoroso e o sexual. A primeira diferença é que o amor é paz e harmonia, ao passo que o sexo é excitação, tensão. A segunda diferença é que a paz derivada do amor depende sempre da existência de uma outra pessoa, o objeto específico do nosso sentimento; por sua vez, o sexo é um processo pessoal, auto-erótico e, ao menos na infância, totalmente independente de um objeto específico.
Na vida adulta, o sexo e o amor com freqüência andam juntos. Quando isso acontece, é claro que a pessoa que é objeto do nosso amor tende a se transformar naquela criatura com a qual queremos trocar carícias eróticas. A separação entre amor e sexo torna-se difícil de ser observada, derivando dai as confusões feitas pelos primeiros pesquisadores dos fenômenos psíquicos, tão essenciais ao entendimento de nós mesmos

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