sábado, 10 de agosto de 2013

Dom Juan procura sempre uma mulher ideal

conquistador inveterado procura nas mulheres a perfeição que vê na própria mãe, de quem nunca conseguiu se libertar. Arrogante, só tira prazer da sedução e depois parte pra outra sem se preocupar com o sentimento de ninguém. Como não consegue amar, na maioria das vezes envelhece na solidão ou com alguém que tem pouco a ver com ele, apenas para ter companhia.
 Um leitor pede para que eu escreva sobre o mito de D. Juan   “Acho que sofro desse mal”, diz. Se reconhece, é porque quer mudar. Sugiro uma terapia, mas como é inconstante nos amores, talvez também não tenha constância para se tratar. Quem sabe este texto o estimule a procurar ajuda.
Dom Juan, ou Don Giovanni, é um personagem da literatura, grande sedutor que conquista as mulheres e em seguida as abandona. Ele apareceu pela primeira vez em 1620, no livro O Burlador de Sevilha, do espanhol Tirso de Molina (1579-1648) e ressurgiu em 1787, na ópera Dom Giovanni, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Depois disso, freqüentou livros, peças de teatro, músicas e filmes, entre os quais O Homem que Amava as Mulheres, do francês François Truffault (1932-1984), e Don Juan de Marco, do norte-americano Jeremy Leven (71).
Para o psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961),  o D. Juan  tem um complexo materno, isto é, não se libertou da mãe e procura sua imagem em todas as mulheres, nunca encontrando.
A origem desse comportamento está na adolescência. Nessa fase da vida é natural que o filho se torne agressivo com a mãe, pois precisa se separar, ter a própria identidade. Se ela tenta mantê-lo calmo e fraco, realizando todos os seus desejos, acaba por dificultar a necessária separação, que o tornaria um homem mais forte e capaz de amar outras mulheres. Impossibilitado de se libertar, ele pode se tornar um Don Juan.
Aquele que envereda por esse caminho em geral é arrogante e se julga melhor que os demais, devido muitas vezes a um complexo de inferioridade. Sem nunca encontrar a mulher perfeita que tanto almeja, sempre tem uma desculpa para não se comprometer – julga que uma é controladora, outra é egoísta, outra gasta demais. Por isso vai trocando e trocando. Acredita ser um grande amante, mas só consegue amar a si mesmo. É narcisista, não leva em consideração os sentimentos dos outros e gosta de desafios: quanto mais difícil for a conquista, maior seu interesse. Não sente amor, apenas prazer em conquistar.
Alguns até se casam, porém projetam na mulher a imagem da mãe e perdem todo o interesse sexual por ela. Acabam arrumando não uma, mas várias amantes para não se sentirem presos ou dominados por nenhuma. O medo de se tornarem dependentes, como foram da mãe, faz com que agridam suas mulheres de forma cruel, traindo ou abandonando.
A mulher que se envolve com esse tipo de homem se apaixona loucamente. Estar com ele é como usar uma droga. Ela sempre quer mais e faz qualquer coisa para não perdê-lo. Acredita que finalmente encontrou aquele amor romântico de que tanto falam a literatura, o cinema, as novelas. Em pouco tempo, porém, o romance se transforma em pesadelo. Ele começa a fazer de tudo para que ela o abandone e assuma a responsabilidade pelo fim da relação. Deprimida e magoada, ela se julga culpada e fica obsessivamente querendo descobrir o que realmente aconteceu. Não vê que o motivo é a incapacidade dele de se ligar, o seu medo do compromisso.
Com a chegada da maturidade, e com medo da solidão alguns desses homens mudam e conseguem se fixar em uma só companheira; quando isso não acontece, eles podem ter crises de angústia e grande dificuldade para aceitar a idade . Alguns terminam se relacionando com mulheres de nível cultural inferior, vindas de mundos muito diferentes do seu, apenas para ter alguém que cuide deles.


Leniza  Castelo Branco


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