quarta-feira, 5 de março de 2014

Tostoi e a educação uma revelação


As leituras e a viagem de Tolstói à Europa Ocidental permitiu a ele uma nova visão acerca do funcionamento da sociedade russa do século XIX. Tornou-se mais sensível à servidão e passou a dedicar-se a educar os camponeses de suas propriedades. Lembrando, Tolstói era um grande proprietário rural, aristocrata, de uma família tradicional russa. Em sua juventude, tratou seus servos como objeto de posse. Mudar de ideia acerca da condição humana em que seus servos viviam, não deve ter sido tarefa fácil, foi ao longo de muitos anos que essa mudança se deu. Quando aconteceu de fato, após uma viagem à Europa Ocidental, Tolstói mudou sua relação com seus servos. Finalmente conseguiu convencê-los a transferir-se do sistema de corveia para o pagamento de um aluguel ou “imposto territorial”. Seus servos, então, passariam a cultivar a terra da maneira como quisessem. Em outra parte de suas propriedades passou a usar mão de obra contratada e libertou os servos domésticos.
O próximo passo de Tolstói foi reabrir a escola rural existente em sua propriedade e passou a dedicar-se à educação de seus antigos servos. Conforme nos indica Barlett (2013), a realidade da educação rural era precária: “Na década de 1850, menos de 6% da população rural era alfabetizada. Nas regiões rurais não existiam escolas públicas, nem mesmo no nível primário ou fundamental, e a pouca instrução que havia – oferecida por algum padre de vilarejo ou um soldado reformado (…) era primitiva e paga. Os professores ensinavam de maneira mecânica e pouco imaginativa, sem incentivar o pensamento, e aplicavam punições corporais. Os senhores proprietários de terras não tinham a obrigação de educar seus servos, e em um país onde os camponeses eram tratados como espécie subumana, não surpreende que poucos o fizessem. (…)” (p. 184)
A universalização da educação parece um tema recorrente. A importância disso para uma sociedade vai depender do objetivo que ela tem a curto e em longo prazo para si mesma. A Rússia rural do século XIX não parece diferente do que vivemos no Brasil atual, no que se refere aos objetivos da sociedade em relação à educação de sua população.
No mesmo período em que Tolstói estava preocupado em investir na educação campesina, “(…) Tolstói não entendia qual era o sentido de introduzir na Rússia ferrovias, telégrafos e outras formas de modernização se a grande massa do país não tinha acesso à educação pública (…).” (p. 185). Da mesma maneira, não consigo ver o Brasil se tornando um país mais igualitário, sem tantos abismos sociais, com uma educação tão precária e tão pouco acessível às classes mais pobres.
A modernidade parece passar por cima da condição de vida humana, reiteradamente. Não somente na Rússia do século XIX, mas também no Brasil. Temos escolas públicas, buscamos a universalização da educação. Porém, a qualidade do ensino ainda deixa a desejar. O estímulo à leitura e ao desenvolvimento de um pensamento crítico ainda é muito pequeno. Podemos ter tablets, celulares, mas ainda temos muita dificuldade no que diz respeito à narrativa. Ela que nos constitui enquanto seres humanos e torna nossas atitudes humanas. Caso contrário vemos um amontoado de atitudes robotizadas, imitadas, pouco refletidas, uma verborragia catártica.
Quem dera um dia possamos parar de repetir o passado e viver uma realidade mais humanizada e autêntica, com mais acesso à educação de qualidade e uma possibilidade de diminuir as discrepâncias existentes entre as classes sociais.
Para finalizar, uma lição de Tolstói para todos os educadores e pais (a meu ver também são educadores):
“(…) A principal missão de Tolstói como educador era introduzir a liberdade na experiência de aprendizagem: seus alunos tinham permissão para frequentar as aulas quando bem quisessem, e não havia castigos físicos. (…) dava importância à flexibilidade, de modo que o professor se adequasse às necessidades de seus alunos, e não o contrário.” (p. 185)

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