Artigos recentes em Zero Hora abordaram diversos e procedentes aspectos
relacionados aos idosos. Gostaria de me referir a um ponto costumeiramente
desdenhado e esquecido. A questão do cuidador familiar, isto é, o cuidador não
profissional. O cuidador por afinidade de parentesco, a exemplo de irmãos e
filhos, principalmente.
Quem realmente se preocupa com o seu idoso? Quem
realmente cuida do seu idoso? Qual o ônus pessoal e familiar desse
cuidador?
Uma rápida pesquisa confirma o que é de (re)conhecimento de todos.
A absoluta maioria dos filhos se omite na atenção aos próprios pais. Corrijo: se
omite na atenção partilhada aos pais, já aos cuidados de algum parente. Sim,
regra geral, alguém está na companhia do idoso.
Mesmo nos raros casos
daqueles que tenham a colaboração de cuidador profissional, os filhos
responsáveis e rotineiramente presentes sofrem uma imensa e desgastante carga
emocional, na proporção das dificuldades e necessidades impostas por seu
idoso.
Mas sofrem um duplo desgaste emocional, pessoal e familiar, na
proporção da omissão dos demais que deveriam _ por razões éticas,
responsabilidade e por solidariedade _ se fazer presentes nos cuidados do seu
idoso.
O responsável presente tem privações de lazer, de convivência com
filhos, companheiros e amigos. Há casos em que nem casamentos resistem. Esse
sobrecarregado cuidador familiar tem perturbações emocionais que atrapalham seu
trabalho e convivência profissional.
Toda essa privação e suas “dores”
resultam sentimentalmente reiteradas e agravadas nas omissões do outro. Porque o
outro que se faz ausente goza os prazeres da vida e das oportunidades.
Posta
a situação de modo real e verdadeiro, entre duas realidades opostas, ainda que
devessem ter a mesma motivação ética _ a de cuidar de alguém _, resultam
evidentes indagações de natureza existencial.
De filho para filho, de irmão
para irmão, por exemplo, haverá alguém mais responsável? E, ainda que assim
fosse, não haveria de se fazer presente, no mínimo, um exposto, renovado e
permanente grau de solidariedade, participação e colaboração?
Mas, e se assim
não fosse, como na maior parte dos casos não é, o evidente comprometimento de um
e a reiterada ausência de outro, o não gozo (da vida) de um e o estado prazeroso
(da vida) de outro, não revelam e significam algo atroz, quase perverso?
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