terça-feira, 22 de outubro de 2013

  • Ternura

    Eu te peço perdão por te amar de repente
    Embora o meu amor
    seja uma velha canção nos teus ouvidos
    Das horas que passei à sombra dos teus gestos
    Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
    Das noites que vivi acalentando
    Pela graça indizível
    dos teus passos eternamente fugindo
    Trago a doçura
    dos que aceitam melancolicamente.
    E posso te dizer
    que o grande afeto que te deixo
    Não traz o exaspero das lágrimas
    nem a fascinação das promessas
    Nem as misteriosas palavras
    dos véus da alma...
    É um sossego, uma unção,
    um transbordamento de carícias
    E só te pede que te repouses quieta,
    muito quieta
    E deixes que as mãos cálidas da noite
    encontrem sem fatalidade
    o olhar estático da aurora.
    Vinicius de Moraes

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