Frequentemente se ouve alguém afirmar, desamparado, que "todo mundo fala
errado". Se apenas observarmos superficialmente, poderemos achar que a afirmação
está correta. É verdade: ninguém ou quase ninguém fala "certo". Talvez
devêssemos então indagar o que é falar "certo". A maioria das respostas será que
é "falar como está nas gramáticas", isto é: todo mundo deveria usar, com
naturalidade e freqüência, as formas mais sofisticadas da chamada língua-padrão.
Nesse caso, diríamos aos amigos, aos filhos, aos empregados coisas como:
-
Maria, viste meu filho na escola?
- Não, Teresa, Vê-lo-ei amanhã somente.
Ou ainda:
- Poderias dizer-me aonde irás esta noite?
- Dir-te-ei
unicamente quando tiver regressado.
E ainda coisas deliciosas, como:
-
Que pensais da cultura dos nossos universitários?
- Não vos posso dar essa
resposta, porque seria demasiado desanimadora.
Ora, dirão os meus leitores,
que linguajar mais horrível. Que pedantismo, que erudição falsa, que inadequação
à nossa realidade. Ninguém fala assim. Enfim uma observação inteligente: ninguém
fala assim, porque essas formas, e muitas outras que não estão nos livros, não
se usam. Tornaram-se arcaicas, pertencem a um nível de linguagem culto formal,
que se aceita, com dor nos ouvidos, em discursos, em sermões de igreja (e olhe
lá!. Pelo que nossa liturgia e posturas na Igreja andam evoluindo, em breve a
música religiosa será considerada blasfêmia...). São formas apenas aturadas,
como se aturam trastes velhos pela casa, enquanto não sabemos onde os colocar.
Isso significa que aquilo que os mais ingênuos julgam ser a maneira correta de
falar, não passa de fórmula livresca, seca, sem vida. Mas não é, nem de longe, o
que devemos empregar diariamente, muito menos na fala. Pois na língua se
distinguem duas maneiras de registrar o pensamento: a fala, registro primeiro, e
a escrita, registro segundo, isto é, registro da fala. Observando isso, podemos
concluir que a escrita é que deve reproduzir a fala, e não vice-versa. Assim não
é correto que devêssemos falar como se escreve, mas deveríamos, isso sim,
escrever como se fala, o que é impossível por uma série de motivos, um dos quais
o de ser a escrita um código determinado por decretos oficiais. Por isso, não é
correto somente o que está "nos livros".
Mas há outros aspectos, como a
linguagem ser um comportamento social do homem. Não se usa um calção em uma
conferência, nem terno e gravata para ir à piscina (entre amigos), como não se
fala de maneira descontraída em uma conferência(...) Na escrita, para
aprendermos realmente a escrever, é necessário um treinamento intenso, pois o
código é mais complicado, obedece a regras fixas e rígidas. Nadar se aprende
nadando; guiar se aprende guiando; falar se aprende falando, e escrever se
aprende escrevendo e lendo, para internalizar estruturas. O assunto linguagem é
complexo demais para ser tratado num artigo, e todos os livros escritos a
respeito ainda nos deixam saudavelmente curiosos e perplexos.
1º Para a
autora usar expressões coloquiais (informais)é errado? Explique
2ª
Produção textual: Após ler atentamente o texto, produza um pequeno texto
reflexivo que deixe claro se falar errado é realmente errado em todas as
ocasiões.
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