Tenho
confessado, ultimamente, a minha profunda e crescente decepção com a criatura
humana. E de outros ouço a mesma coisa! Vejo o egoísmo e o orgulho presidirem as
cenas do cotidiano, como se o homem estivesse mesmo brutalizado, embora os
avanços, a contraponto, tenham chegado para prolongar a existência neste
planeta, tão devastado pela incúria do ser que foi dotado pelo Criador de
inteligência e talento. De nada disso parece depender o comportamento em relação
ao próximo, tão próximo, às vezes, antes o contrário. A sociedade contemporânea
contempla os seus integrantes com um valor que depende da riqueza acumulada ou
do poder de que se dispõe.
A escritora Lya
Luft, em artigo na revista Veja – Os Imutáveis Sentimentos –, aborda o
problema de forma passageira, mas comenta o fato de sermos defensores da ética
nas relações e nos convívios, porém, de hábito, fazemos do discurso a prática
vazia desse necessário exercício do dia a dia. Nos mais simples dos encontros
assistimos demonstrações claras de tudo isso. Nega-se, por exemplo, na viagem
rápida dos elevadores, o cumprimento amistoso, a conversa fiada no deslocamento
veloz desses veículos verticais. E nas relações de amizade ou naquelas dos
vínculos parentais de igual forma. Ninguém para e ouve de seu interlocutor as
inquietações do espírito. É cada qual por si! E não adianta falar, comentar e
recomendar, o individualismo é a tônica do moderno.
Esquecem que o metal é vil e o poder efêmero. Tudo
passa, mais dias ou menos dias. Ou esquecemos que a criatura, seja rica ou seja
pobre, poderosa ou não, é frágil, capaz de viver momentos de satisfação, mas,
também, horas de desilusão e tempos de embotamento do espírito. Exige-se antes
um comportamento forte e imbatível, uma superioridade que exceda o comum das
coisas. Isso faz sofrer e padecer. Vive-se, então, no palco das ficções! Há
ocasiões nas quais um ombro amigo, uma palavra de consolo ou um afeto qualquer
pode reacender a chama da vida e estimular a luta, as decisões e as posições.
Até a escuta atenta das preocupações tem a capacidade de sanar as dores da alma.
Por tudo isso, as confissões lidas na Internet tentam suprir a falta de enlevo
nos convívios. A frieza do inteiramente virtual, no entanto, nada tem de
parecido com o calor da convivência!
Até o país tem me decepcionado. A impunidade campeia e quando não, há quem mande reformar um hotel para o transformar em cadeia dos poderosos. Valei-me Senhor!
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