segunda-feira, 23 de julho de 2012
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos"
Era o admirável mundo novo!recém-chegada de Salvador,Solícitos, os colegas da redação paulistana empenharam indicar os melhores programas de lazer e cultura.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nivel de educação formal.
-Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park', disse um repórter.Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos,porque é uma baianada só!.
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender.È força de expressão.`Tó falando de um tipi de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim,quer dizer,não!Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente,abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos
Não me leve a mal,não tenho preconceitos contra baianos Aliás,adoro a sua terra,seu jeito de falar...
De fato, percebo que não existe intenção de magoar.São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito.Preconceito velado, o que pior,porque não mostra a cara, não se assume como tal.Difícil combater um inmigo disfarçado.
Descobri que, no Rio de Janeiro , pecha recai sobre os "Paraíba , que, aliás, podem sr qualquer nordestino..Com ou sem "'Cabeça chata, outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia,a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam.Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.
O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial,mas isso é uma ilusão.
"É ofensivo "diz Miriam Leitão .Como a cor de alguém poderia contaminar,como s fosse doença?
E as pessoas nunca percebem.A expressão " pé na cozinha,"para designar a ascendência africana,é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata,reproduzindo as mazelas da senzala.
Rubem Alves publicou na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos.Os brancos note- americanos inventaram a palavra "niger"para humilhar os negros .Criaram ma brincadeira que tinha um versinho :
"Eeny,meeny, , moe, catch, a niger by the toe"...que dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé(aqui no Brasil .quando se quer diminuir um negro ,usa-se a palavra crioulo)
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra os negros cunharam o slogan "black is beautiful".Daí surgiu a linguagem politicamente correta.A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém.
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência",para se referir aos negros e muitos americanos de hoje?
A Nação .que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto.Com relação aos empregados domésticos, já cheguei ouvir-A minha criadagem não entra pelo elevador social"
E a complacência com relação aos chamamentos,insultos , por vezes humilhantes , dirigidos aos homossexuais ?Os termos bicha, frutinha, biba, viado,maricona, boiola e uma infinidades de apelidos, despertam risadas.
Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março.
Quando se atreve encarar o trânsito ,desagrada o código masculino ouve frequentemente:
-Só dia ser mulher!Ei,dona Marria,seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo,demonstrações de desinformações ou falta de inteligência,são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco-Só podia ser judeu!
Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo:rolha,d poço,polpeta, baleia..." O mal não é o que entra,mas sim o que sai da boca do homem".
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio de igualdade,sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável.
O preconceito nas entrelinhas é perigoso. porque ,em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorância. e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcoólatra ,passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado -Só podia ser mendigo
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo ,Rio de Janeiro,na Bahia,em qualquer lugar do mundo.É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
Rosana Jatobá!
- ,
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário