segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O mistério das escolhas amorosas

Quando somos pequenos, os pais nos levam a criar figuras internas de homens e mulheres que motivarão, em boa parte, a atração que sentimos por alguém. As imagens nascem, de início, do tipo de relacionamento que temos com a mãe. Isso talvez explique por que existem homens que se casam com tiranas. Mas na basta para entender, pois em amor nada e garantido.


O belo poema Amor, de Carlos Drummond de Andrade, toca na incógnita da atração que sentimos por determinada pessoa, enquanto outra, talvez interessante, nada nos desperta. O poeta escreve: "São dois em um: amor sublime selo/ que a vida imprime cor, graça e sentido./ O ser busca outro ser, e, ao conheceh-lo, / acha a razão de ser dividido."
Poetas tem sensibilidade para falar de amor. A psicologia, embora de outra maneira, também e sensível ao assunto, e utiliza-se da análise para perceber o que motiva as escolhas amorosas. De início, convém observar que se apaixonar, ter um par, e desejo quase unânime. Poucos querem ficar sós. Mesmo na puberdade, crianças já buscam namoradinhos; paqueram brincando. Não ser escolhido, ser rejeitado, e o pavor de todos.
Mas não se limita a um belo corpo, roupas de grife, ser esportista ou intelectual, o que vai determinar se uma pessoa e mais ou menos atraente. Existem fatores internos, emoções, sentimentos e os famosos complexos, com maior poder sobre essas escolhas do que podemos pensar.
Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, disse que somos todos psicologicamente andróginos. Muitas tradições e mitos trazem a idéia de que o homem original era masculino e feminino. Eva foi criada a partir de uma costela de Adão, que portanto já trazia o feminino dentro de si.
O filósofo grego Platão nos conta um mito no qual se diz que os seres originais eram redondos, com quatro braços, quatro pernas e duas faces. Esses seres eram maravilhosos e completos. Os deuses, invejosos, os cortaram em duas metades, a masculina e a feminina. Desde então as metades ficam se procurando; quando se encontram tem um sentimento tão grande de união, de completude, que não querem separar-se nunca mais. E temem que os deuses, novamente com inveja, os separem.
Para Jung, todo homem tem um lado feminino interno que ele chamou de anima (alma em latim); e toda mulher tem um lado interno masculino, animus (espírito). A anima e o animus se responsabilizam pela atração que sentimos por determinada pessoa. São figuras internas, fundamentais para realizarmos nossas escolhas amorosas. Elas se formam em nossa imaginação, primeiramente nas relações com a mãe; depois, com o pai, parentes, professoras, amigos. Nossa imagem interna será projetada no parceiro. Se encontrarmos alguém que se parece com nossa figura interna, temos a tendência de sentir atração por ela. Por isso e tão importante o relacionamento da criança com os pais.
Comentarei aqui só a relação mãe-filho.
A mãe tem de ser boa, acolhedora, amorosa, para que o filho se sinta amado, valorizado. O pequeno interpreta assim o comportamento materno: "Se minha mãe me ama, e porque sou bom, bonito." A auto-estima se forma a partir desse contato. Se a mãe for negativa, destruidora ou agressiva, a criança vai achar de si mesma que não e suficientemente boa.
Meninos abandonados pela mãe formarão uma imagem interna feminina negativa e tenderá a se apaixonar por pessoas que os rejeitam traem ou agridem, repetindo o modelo inicial de sua vida.
Se a mãe exagerar nos cuidados e mimar o filho em excesso, também poderá causar males. Ele ficará preso a ela, sem coragem de enfrentar o mundo; e, o que e pior, lhe faltará capacidade de amar. Nenhuma mulher poderá competir com a mãe perfeita. Será, provavelmente, machista, inseguro e imaturo.
É preciso destacar, porém, que não há garantia nenhuma em questões amorosas, mesmo que a mãe tenha sido ótima. Mas o carinho e o bom senso nas relações com os filhos ajudarão a formar pessoas saudáveis, capazes de se relacionar de maneira digna e amorosa com o parceiro. Para voltar a Drummond: "Amor, sublime selo, que a vida imprime cor, graça e sentido."



* Leniza Castello Branco, psicóloga

Nenhum comentário:

Postar um comentário