Rio de Janeiro - No discurso mais longo desde que assumiu o pontificado, em
março, o papa Francisco apelou hoje (27) aos líderes da Igreja Católica
Apostólica Romana no Brasil que usem a inspiração para pregar a religião,
respeitando a laicidade do Estado e contribuindo com a sociedade. Francisco
discursou durante encontro com religiosos da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) e vários segmentos da Igreja, no Palácio Arquiepiscopal de São
Joaquim, na Glória.
No encontro com o papa, participaram 300 integrantes da CNBB e mais de 400
bispos. O porta-voz do Vaticano e diretor da Sala de Imprensa, padre Federico
Lombardi, disse que o papa deve usar o mesmo tom durante o encontro que terá
amanhã (28) com o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), formado por
bispos da América do Sul e do Caribe cuja sede é em Bogotá, capital da
Colômbia.
"[O discurso de hoje na CNBB] foi o mais longo do pontificado até agora.
Penso que o discurso de amanhã [para o Celam] pode ser algo similar. Nesta
viagem, o papa tem o desejo de falar aos bispos do Brasil e da América Latina de
uma maneira muito forte, ampla e inspiradora, orientando sobre a missão da
Igreja na região", disse o porta-voz.
Lombardi lembrou que Francisco defende a "cultura do encontro" que é a busca
do consenso e de acordos, por meio do diálogo. "A religião não tem que ser
excluída, de ter presença ativa e propositiva da sociedade. A religião não tem
que ser superior nem impôr sua presença, mas tem que dar sua contribuição de
maneira positiva", disse o porta-voz.
O porta-voz acrescentou que: "A missão da Igreja hoje e os problemas atuais
foram expressados de maneira muito honesta e concreta [pelo papa Francisco], mas
sem medo e com esperança de continuar o caminho".
Lombardi analisou ainda o discurso de Francisco sobre a laicidade do Estado,
no Theatro Municipal do Rio. O Brasil é um Estado laico em que o país
oficialmente é neutro em relação às questões religiosas.
"Há, principalmente, na Europa uma ideia que vê a laicidade, como a religião,
totalmente de fora da vida pública e sem função ativa na vida da sociedade. Mas,
há também uma laicidade que é capaz de tomar contribuições de todos os
componentes da sociedade, entre eles, as organizações religiosas. É o mesmo que
o Bento XVI dizia nos últimos anos. Liberdade religiosa é a liberdade da
religião de dar uma contribuição ativa e positiva à sociedade", ressaltou o
porta-voz.
Lombardi elogiou a encenação da Via Sacra ontem à noite, na Praia de
Copacabana, e disse que Francisco gostou particularmente das adaptações dos
textos à realidade atual do mundo. "O papa gostou muito da Via Sacra e do
esforço de atualização dos significados para os jovens e para o mundo de
hoje".
A encenação da Via Sacra, que representa o caminho feito por Jesus Cristo
carregando a cruz, sendo humilhado até a crucificação, incluiu temas, como a
evangelização no mundo digital, a prisão e o desemprego de jovens, a inclusão de
deficientes físicos, o respeito a minorias, o aborto e a dependência
química.
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