O mundo vai acabar, assim,
tão desavisadamente... Não me preparei. Não coloquei aquele vestido roxo de que
tanto gosto. Não escutei Bach no último volume enquanto a crosta terrestre se
desintegra e a gentalha sofrilenta, mais pra pestilenta do que gente, se
descabela, se ainda tem cabelo, se o governo ainda não arrancou seus últimos
fiozinhos. Ainda bem que o mundo acabará e o IPTU ficará sem pagar, no fim de
tudo pelo menos saímos no lucro, já tinha hipotecado, até mesmo, o meu ácido
úrico.
Esperei por isso desde o
meu nascimento, mas ainda nem li os mil livros e nem escutei os mil discos para
se ler e ouvir antes de morrer. Não visitei o Taj Mahal e nem pratiquei sexo
tântrico no cume das pirâmides do Egito. O bom é que vou economizar, mas vou
partir assim, sem um Kama Sutrazinho? Nem o xacra? Logo eu que sou ótima, uma
bela praticante de yoga...
Viu... os Maias não estavam
errados! Só o tempo de antigamente andava devagar, quase parando nas
reentrâncias das horas. Esta bola de fogo que nos dizimará, varrerá todos, sem
separar trigo do joio, queimando todos num mesmo saco de
lixo.
Nosso fim será filmado em
tempo real, ao vivo e quase todos mortos, daremos adeusinho pedindo “Filma eu,
pelo amor de Deus”. Finalmente terminará esse jogo perdido. Essa farsa...
Disfarça, sorria meio sem graça, a câmera está a te filmar. “Mãe, esse Globo só
me fez de bobo”, está no meu cartaz, queimou o filme, fui
censurada.
Tantos anos, séculos, tanta
tecnologia pra que num sol de meio dia se discutam as idiossincrasias das
intrigas do BBB. Viver é uma Big Bosta, e a bosta já foi pro ventilador faz
tempo.
Até o Papa que ficava
papando, despapou-se! E agora José? Ainda há teologia pra se escorar? Desce mais
uma tequila para me empurrar, para engolir seco e aceitar. Já cansei de engolir,
quero, na verdade, é vomitar.
Só sei que nesta
quarta-feira não existirei, me fundirei nas brumas. Serei pó, farelo de gente, . Nem os meus livros de autoajuda que nunca ajudam, só fazem
aceitar a merda de sempre
Com os meus olhos em prece,
vejo o meteoro cruzar os céus. Restará segundos até a morte varrer tudo feito
tempestade. Nada aconteceu, era um metareorito e ele se dissolveu no céu como uma
pastilha de vitamina C. Essa eterna desgraça que tenho que assumir de graça –
poxa, vou ter que pagar a bosta do IPTU no mês que vem!
Carlos Alexandre da Silva
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