quarta-feira, 17 de abril de 2013
As paixões que matam
Diariamente , a mídia nos assolam com informações que revelam a faceta mais sombria da expressão humana.Casos como da Eloá, Ángela , Diniz...viram dados estatiscos diante da crescente onda de assassinatos passionais.
No uso popular, crime passional é aquele cuja origem encontra- se o sentimento da paixão.Que sentimento é esse capaz de fazer alguém perder a cabeça e matar outra pessoa? Será mesmo em nome do amor? Amor e paixão sentimentos que não devem ser confundidos, pois diverem em suas motivações.
Segundo Aurélio, amor é um sentimento de afeto, de dedicação absoluta que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. É um sentimento construido na convivência e inseparável do conhecimento pois somente é possível amar aquilo ou aquele que se conhece . Já a paixão é um sentimento dominador e cego e sobrepõe- se à lucidez e a razão . Para se apaixonar ou ser arrebatado por uma violenta atração, para que esse turbilhão de emoções e sensações chamada paixão possa eclodir, não precisa de uma cartografia do objeto desejado. A paixão tem a capacidade de fingir-se cega e surda e quando mais "frageis forem esses sentimentos sensoriais mais intenso será o deslumbramento, o arrebatamento e o vigor das emoções.
O ser humano se constitui como um ser movido a aspirações e paixões.E a nossa sociedade atual impulsiona a uma vivência que lança as pessoas numa cadeia de aspirações infinitas que não incluem a experiência da perda e do vazio, algo absolutamente intrínseco à existência humana.Possuir o que quer seja de bens materiais ao objeto amado é um lema de um mundo cada vez mais globalizado cujo produtos e pessoas, ao mesmo tempo em que são desejados, são também facilmente descartáveis em prol de outros mais atraentes e tentadores.É exatamente esse sentimento de posse, de detenção de algo que move o agressor dos crimes passionais. O sujeito não consegue separar -se do parceiro,torna- se um dependente que se crê incapaz de viver só.
Perdas fazem parte da nossa existência. Perdemos, ao nascer, o aconchegante ventre materno. Essa perda não é sem ganho. Ganha- se a vida e a possibilidade de novas experiências e aprendizados.E assim ao longo do árduo caminho que é viver, novas perdas e ganhos vão sendo acrescentadas, propiciando sabedoria para lidar com as adversidades e mostrando- nos que a vida está distante de ser uma festa com eterna, mas que tem suas cores e sabores e se aprendermos a lidar também os fracassos.
Para os denominados assassinos passionais, as pequenas perdas constitutivas da vida dificilmente foram elaboradas e assimiladas.Vê- se nessas pessoas uma grande intolerância `frustração, em receber um "não", em lidar com os limites Elas procuram transgredir os obstáculos tentando sempre se desvencilhar da perda, da dor e do vazio. Se se sentem realmente encurralados, quando o parceiro decide pela separação, o sofrimento é de tal maneira absurdo que não consegue vislumbrar outra vida sem esse objeto. O senso crítico cai, a pessoa perde as referências e age como um animal destruindo o outro.A pessoa é tomada por uma emoção incontrolável, incapaz de dominar.
Thomas Hobbes já dizia, " o homem é o lobo do homem". O sujeito que se encontra ameaçado se vê desprovidos de todos os recursos emocionais.Faz- se necessário todo um trabalho psicológico de propor ao sujeito a habitar um mundo que inclua experiência de dor e vazio, pois não há existência que seja possível eliminá- los. Isso, contudo não significa viver uma existência triste, mas acreditar que nas cores sabores e dissabores que a vida oferece pode- se encontrar também um sentido para vivê- la da melhor maneira possível.
Sabrina Gomes Camargo-- Psicóloga
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