Anarquismo a anarquia Ricardo Liper
O anarquismo é
uma doutrina política que prega a liberdade. Liberdade mesmo, no sentido
ampliado daquele da democracia. Daí os anarquistas não quererem nada que limite
sua liberdade individual. O problema está em como organizar pessoas, as mais
variadas possíveis, em uma sociedade e os anarquistas se debatem nessa
dificuldade não só teoricamente mas também com muitas experiências de
comunidades etc. Eu sempre digo que o anarquismo tem razão. Tudo que tolhe a
nossa liberdade é insuportável e as pessoas são diferentes e, portanto, as
liberdades são também diferentes. Por isso fiz algumas reflexões em um texto no
qual digo que uma saída pode ser o que alguns países conseguiram fazer: manter
um Estado, mas retirar dele, o mais possível, o conteúdo autoritário e o
transformar apenas, se quiserem os anarquistas mais radicais, com outro nome, em
um aparelho que defenda as liberdades individuais que são muito variadas no ser
humano e assim manter a ordem para todos sem opressão. E isso é possível porque
países como Holanda, Dinamarca, Suécia têm mostrado que se pode caminhar nessa
direção. Outra coisa que acho importante é que, na minha opinião, Foucault foi o
anarquista atual mais importante. Ele escreveu baseado em Nietzsche, que tudo é
relação de poder e essas relações de poder, aí é mais Foucault, terminam na
microfísica do poder transformando a sociedade. E estamos vendo isso com o
feminismo, a luta pelo respeito à liberdade sexual, incluindo até o casamento
entre pessoas do mesmos sexo, a luta contra o racismo, contra a opressão dos
trabalhadores e outras lutas resultado das relações do poder na microfísica do
poder que faz com que o poder do governo mude, uma vez que vai perdendo terreno,
gradativa e pacificamente, nas democracias. Não é mais uma utopia, mas uma
realidade. Todos os anarquistas teóricos disseram coisas importantes, mas
Foucault fundamentou, no meu entender, a partir de outros pontos de vista, as
verdadeiras lutas sociais: sem partidos, sem políticos profissionais, sem poder.
Habermas o chamou de um anarquista pós-moderno. O problema não é o Estado, é o
poder do homem sobre o homem e ambos, Estado e poder não são sinônimos
perfeitos. E o poder é, na realidade, o poder de todos sobre todos. Do síndico
do prédio, dos pais com os filhos, do homem com as mulheres ou vice-versa, do
professor com os alunos, dos médicos com os pacientes, enfim, de todos contra
todos. É isso que Foucault, dando uma lição de anarquismo, mostrou em muitas de
suas obras. Para mim a saída está no anarquismo de Foucault, o que não afasta
nem se opõe aos anarquismos dos autores tradicionais, mas os sintetiza e
complementa. A questão é que os outros anarquistas partiram de pontos diferentes
de Foucault, mas chegaram às mesmas conclusões.
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