domingo, 15 de setembro de 2013

Anarquismo a anarquia Ricardo Liper



O anarquismo é uma doutrina política que prega a liberdade. Liberdade mesmo, no sentido  ampliado daquele da democracia. Daí os anarquistas  não quererem nada que limite sua liberdade individual. O problema está em como organizar pessoas, as mais variadas possíveis, em uma sociedade e os anarquistas se debatem nessa dificuldade não só teoricamente mas também com muitas experiências de comunidades etc.  Eu sempre digo que o anarquismo tem razão. Tudo que tolhe a nossa liberdade é insuportável e as pessoas são diferentes e, portanto, as liberdades são também diferentes. Por isso fiz algumas reflexões em um texto no qual digo que uma saída pode ser o que alguns países conseguiram fazer: manter um Estado, mas retirar dele, o mais possível, o conteúdo autoritário e o transformar apenas, se quiserem os anarquistas mais radicais, com outro nome, em um aparelho que defenda as liberdades individuais que são  muito variadas no ser humano e assim manter a ordem para todos sem opressão. E isso é possível porque países como Holanda, Dinamarca, Suécia têm mostrado que se pode caminhar nessa direção. Outra coisa que acho importante é que, na minha opinião, Foucault foi o anarquista atual mais importante. Ele escreveu baseado em Nietzsche, que tudo é relação de poder e essas relações de poder, aí é mais Foucault, terminam na microfísica do poder transformando a sociedade. E estamos vendo isso com o feminismo, a luta pelo respeito à liberdade sexual, incluindo até o casamento entre pessoas do mesmos sexo, a luta contra o racismo, contra a opressão dos trabalhadores e outras lutas resultado das relações do poder na microfísica do poder que faz com que o poder do governo mude, uma vez que vai perdendo terreno, gradativa e pacificamente, nas democracias. Não é mais uma utopia, mas uma realidade. Todos os anarquistas teóricos disseram coisas importantes, mas Foucault fundamentou, no meu entender, a partir de outros pontos de vista, as verdadeiras lutas sociais: sem partidos, sem políticos profissionais, sem poder. Habermas o chamou de um anarquista pós-moderno. O problema não é o Estado, é o poder do homem sobre o homem e ambos, Estado e poder não são sinônimos perfeitos. E o poder é, na realidade, o poder de todos sobre todos. Do síndico do prédio, dos pais com os filhos, do homem com as mulheres ou vice-versa, do professor com os alunos, dos médicos com os pacientes, enfim, de todos contra todos. É isso que Foucault, dando uma lição de anarquismo, mostrou em muitas de suas obras. Para mim a saída está no anarquismo de Foucault, o que não afasta nem se opõe aos anarquismos dos autores tradicionais, mas os sintetiza e complementa. A questão é que os outros anarquistas partiram de pontos diferentes de Foucault, mas chegaram às mesmas conclusões.

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