A pergunta que mata de medo as mulheres é: afinal, o que quer o homem numa
mulher?
Recentemente participei de um debate sobre a trilogia
"Cinquenta Tons".
Muitas críticas: típico best-seller que identifica um
drama universal (o amor) e propõe uma solução "easy" (seja sadomasô light e o
casamento virá); a srta. Steele (a heroína) não está a altura de Lady Chatterley
(de D.H. Lawrence) nem das irmãs Justine e Juliette (do Marquês de Sade) nem da
personagem de "História de O" (de Anne Desclos, sob o pseudônimo Pauline Réage),
porque a srta. Steele se vende por um MacBook Pro, enquanto as outras são para
valer. Tudo verdade.
O maior pecado de "Cinquenta Tons" é que ele vende
uma fantasia: o homem ideal. Christian Grey é rico, bonito, inteligente, viril,
experiente. Mas o fato é que as mulheres desejam mesmo homens fortes, viris,
sensíveis até a página três, ricos não só de grana. Enfim, "Cinquenta Tons"
vende porque fala para todas as mulheres, bobas, ignorantes, cultas ou críticas.
Mas, como virou moda mentir, ninguém confessa.
Dias depois do debate,
revi um filme idiota americano (como "Cinquenta Tons"), em que um milionário
fodão (interpretado por Richard Gere) contrata uma garota de programa (Julia
Roberts, ah! Se todas fossem iguais a você, Julia, que maravilha viver...) e
acabam se apaixonando. Claro, o filme é "Uma Linda Mulher". A fórmula clara da
gata borralheira do sexo que vira a esposa Cinderela.
Mas o longa é muito
mais do que isso. Diante da crítica histérica de que é mais um filme machista
(que sono...), vale notar que ele faz a pergunta que mata de medo as mulheres:
afinal, o que quer o homem numa mulher?
Dirão as apressadas que o homem
quer que a mulher traga uma cerveja e venha pelada. Errado: melhor de calcinha e
salto alto. Seria a superficialidade masculina o último bastião da ideologia
"dominante"? Bastião este que agrada a todas as mulheres porque as acalma: os
homens só querem uma bunda!
O filme toca num tema atávico que deixa mesmo
as meninas "críticas" de cabelo em pé: seria a garota de programa a mulher
ideal?
O personagem de Gere é fodão. Ele sabe o que os fodões sabem: o
mundo é repetitivo, e as pessoas são previsíveis. Querem dinheiro,
reconhecimento e "serviços", e fazem qualquer coisa para conseguir, embora
neguem.
Se, no fundo, todos estão à venda por "um programa" de sucesso,
melhor sair com alguém mais honesto: a garota de programa é a mulher menos cara
do mundo. Ela "só" quer dinheiro, e isso às vezes é uma bênção. Ela é a mulher
ideal porque é a única diante da qual o homem relaxa.
Afinal, o que quer
o homem numa mulher? Num dado momento do filme, Gere diz à bela Roberts: "As
pessoas são previsíveis, mas você me surpreendeu" (não vou contar
detalhes).
Não devemos menosprezar essa fala e o que acontece depois, o
apaixonar-se pela garota de programa. Gere sabe o que diz: as pessoas são mesmo
previsíveis. Mas hoje a moda é dizer que são todas "únicas".
La Roberts
encanta o fodão porque ela não é óbvia, e a mulher óbvia só quer
fodões.
Graças a ela, ele rompe o ciclo da desconfiança causada pela
obviedade das mulheres, e graças a ele, ela se cansa de ser puta, porque a puta
não é uma mulher de verdade.
Os homens sentem que as mulheres querem
deles apenas sucesso (em todos os sentidos). Mas hoje virou moda dizer que isso
não é verdade. Ficou pior porque continua sendo verdade, mas, quando o cara
sente isso, ele deve se sentir um machista porque sabe disso.
O homem
quer uma mulher para quem ele não tenha que ser o sr. Grey, mas a mulher não
perdoa um homem fraco. A garota de programa perdoa porque "só" quer
dinheiro.
A fraqueza masculina aniquila o desejo da mulher. Mas, como
essa mulher ideal não existe (assim como o sr. Grey), o ideal acaba ficando
colado ao corpo irreal da namorada "paga".
Mesmo sabendo que sr. Grey (um
fodão) não existe, as mulheres não suportam homens que não se pareçam com ele, e
esta é a verdade suprema de "Cinquenta Tons".
Por fim: uma amiga minha,
psicóloga, me disse que muitos dos seus pacientes vêm ao consultório falar de
como suas mães (fálicas) destroem seus pais (fracos).
São essas mulheres
fálicas, segundo ela, que à noite gemem de solidão sonhando com o sr.
Grey.
Óbvio?
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