segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Atrás da porta Bia Saltarelli

Quando eu era adolescente e ainda nem imaginava que um dia iria dar minha cara à tapa e escrever sobre comportamentos, gêneros e afins eu li um texto que me chamou muita atenção. O texto em questão tem o título: “Fizeram a gente acreditar” e é daqueles que circulam na internet e ninguém sabe a autoria direito. Já vi o texto ser tido como de Mário Quintana, Martha Medeiros e John Lennon mas enfim, o tal texto era o seguinte:
Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.
Já na época lembro que esse texto me fascinou porque era diferente. Diferente de tudo que eu já tinha lido, ouvido ou assistido sobre o amor até então. Como assim já nascemos inteiros e não existe a metade da laranja? E a música do Fábio Júnior (“Carne e Unha/Alma Gêmea/Bate coração/As metades, da laranja/Dois amantes, dois irmãos…”) onde entra nessa história? E todos aqueles contos e filmes nos quais a gente aprende que só pode ser feliz de verdade depois de encontrar a nossa cara-metade?
De lá para cá o texto fez ainda mais sentido. Desde essa época eu sabia que queria algo diferente mas não sabia bem o que era. Aos poucos a gente vai se entendendo e se “desconstruindo” e conseguimos perceber o que queremos de verdade: apesar de sempre ter acreditado no amor (e hoje acredito ainda mais) essas fórmulas prontas, complementos, tampa da panela e todo aquele bla bla bla que falaram para a gente nunca funcionaram para mim.
Hoje eu entendo que o que busco é  um relacionamento que não seja pautado na idealização como acontece na maioria dos casos mas sim baseado na realidade. Um relacionamento em que as pessoas possam se enxergar como realmente são (com todas suas qualidades e defeitos) e exatamente por isso resolvam ficar juntas.
Que metade da laranja, que nada! O que eu quero é um relacionamento baseado não na complementariedade porque isso implicaria em pessoas vazias, mas sim no companheirismo, na soma, em duas pessoas dispostas a crescer juntas, a enfrentar juntas as dificuldades – e as felicidades – que todo relacionamento tem. Duas pessoas que respeitam uma à outra, mas principalmente a si próprias, seus princípios, desejos e individualidades.
Vocês podem dizer que isso também é uma ilusão, que a gente acaba sempre criando expectativas e eu sei que é verdade.  Mas mais do que isso eu acredito que a gente nunca vai conseguir se não tiver consciência – consciência do que buscamos, do que queremos e como as coisas funcionam – e não tentar fazer diferente.
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