SÃO PAULO - Prevenir fraudes é essencial, certo? Outros deveres inalienáveis do
poder público são zelar pela criação de postos de trabalho e assegurar que as
novas drogas que chegam ao mercado sejam sempre seguras, para nomear apenas
alguns. Não tenho dúvida de que essas tarefas sejam importantes. Mas será que as
endossamos após criteriosa avaliação de tudo o que está em jogo ou apenas nos
deixamos levar pela nobreza dos objetivos?
Juan Enríquez, acadêmico que
atua na fronteira entre a bioengenharia e os negócios, dá uma boa ideia do que
podemos estar perdendo ao analisar o papel da FDA, a agência de regulação de
remédios dos EUA.
A FDA se notabiliza por ser bastante detalhista ao
exigir que laboratórios demonstrem a segurança de seus produtos. Há quem diga
que, se o sal de cozinha fosse apresentado à agência como uma especialidade
farmacêutica, ele seria proibido, já que é tóxico em altas doses.
Há uma
lógica robusta por trás da cautela. Ela visa a diminuir a probabilidade de
drogas com sérios efeitos colaterais serem despejadas no mercado, como ocorreu
com a talidomida no final dos anos 50. Só que, ao fazê-lo, ela também impede ou
ao menos atrasa a chegada de medicamentos que poderiam salvar vidas. Nós
visualizamos bem a primeira parte do problema, mas raramente fazemos as contas
relativas à segunda.
Um exemplo de Enríquez: um atraso de sete anos na
introdução de betabloqueadores, remédios usados para reduzir a pressão arterial,
teria custado 100 mil vidas aos EUA.
É claro que devemos preservar
empregos, mas será que manter funções obsoletas como a de cobradores e
frentistas não reduz excessivamente a produtividade da cadeia?
Poucos são
contra evitar fraudes, mas será que não estamos indo longe demais ao exigir que
os 99,9% que assinam papéis de boa-fé tenham de deixar tempo e dinheiro nos
cartórios para reconhecimentos de firma?
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