sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Os herdeiros do vazio



         A sensação de que no   Brasil  dos dias de hoje  não surgem mais tantos artistas, escritores, músicos ...de que não há mais movimentação cultural ou intelectual como antes, naqueles horríveis anos de ditadura em que as artes floresciam e se espalhavam como ervas erva daninha.Sentimos saudades dos anos passados, embalados no sonho do tempo perdido ".Somos herdeiros do vazio", disse: uma jovem amiga."O que está acontecendo hoje?Nada"!disse outro amigo."Novela, bolero e propaganda"
       Penso se não estamos com a vista ofuscada,se não assistirmos demais ´`a televisão e se não informamos quase apenas por esse meio e por meio dos periódicos, como se vivêssemos numa espécie de prisão,apaixonados pela mídia . O Brasil é um país de dimensões continentais e adoou um sistema de comunicação de tal amplitude que só pode realizar através da televisão ,dos jornais e revistas de tiragens  ,brobdingnagianas  Como resultado , a sensação que se tem é que só existem as coisas que aparecem na televisão  e nos ditos periódicos, ou seja, uma grande massa de informações, tão ampla e tão fragmentada que é capaz de criar apenas  a sensação de vazio.
        A nossa vida acaba girando em torno disso, os grandes temas da mídia o casos de amor e o ódios, a princesa perdida,o acidente de avião,os  personagens de novela, o terrorista, o escândalo político...e um conjunto de notícias menores e esquecíveis ,que fazem volume.É difícil escapar disso. Os temas são sempre iguais, num jornal aqui outro ali,na televisão e revista.Essa eleição de matérias leva também a ilusão de que os jornais estão tratando e da coisas realmente  importantes ,eleitas pelo consenso geral e portanto inquestionáveis. Há um único mundo.
        Acabamos nos esquecendo também de que esse mundo ´forjado diariamente em algumas salas por gente humana, premida pelo tempo,pelo cotidiano opressivo,pelos salários insuficientes,pela competição , pelos problemas pessoais pela impossibilidade de verificar ou interpretar a realidade, pelos erros das fontes de informação, peles interesses paralelos, pela imprecisão das palavras, e tudo não passa de uma grande ficção realista ou uma realidade subjetiva assim como os romances.Os nossos olhos se voltam para as telas para as lágrimas impressas,e o mundo todo se perde
         Eu sigo um conselho de Borges:durante alguns períodos deixo de ler os jornais.Tomo os cafés da manhã lendo um livro bem antigo esquecido na estante, às vezes abrindo ao acaso Fernando Pessoa, "Quando fui, quando não fui,tudo sou,"Há uma vulgaridade que nos faz admitir qualquer coisa  deste
 mundo , mas que não é poderosa o bastante para nos fazer admitir o mundo mesmo." ou Balzac,...aguçar o epigrama , polir a sua lâmina fria que encontra o estojo no coração da vítima esculpir o cabo   para os leitores",A sensação de liberdade é extraordinário, é omo se eu finalmente conseguisse respirar, como se me banhasse  numa fonte de água fria e cristalina numa manhã quente.
         Mas logo vem a ânsia de me encontrar com o mundo, e volto a ler os jornais e a prestar atenção, na hora do jantar, ao noticiário  da televisão ligada as minhas costas e a me voltar para ver uma ou outra imagem da novela e ouço o bolero,para meu mosaico da irrealidade .
                Ana Miranda Revista Caros Amigos

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