quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Poema em linha reta

          Nunca conheci quem tivesse levado porrada
          Todos os meus conhecidos têm sido campões em tudo
          
          E eu, tantas vezes reles ,tantas vezes porco, tantas vezes vil;
          Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
          Idesculpavelmente sujo ,
          Eu, que tantas vezes não  tenho tido paciência para tomar banho,
          Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, ,  absurdo,

          Eu, que tenho feito vergonhas financeiras,pedindo emprestado sem pagar,
         Eu,que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
          Para fora da possibilidade do soco;
         Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
         Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

         Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
         Nunca teve um ato ridículo,nunca sofreu enxovalho,
         Nunca foi senão príncipe -todos eles príncipes -na vida...

        Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
         Que confessasse não um pecado,mas uma infâmia ;
         Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
         Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam
         Quem há neste largo mundo  que me confesse que uma vez foi vil?
        Ó principes, meus irmãos,,
        Arre,,estou farto de semideuses1
         Onde é que há gente no mundo?
        
       Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

         (In Fernando Pessoa )

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