Todos os meus conhecidos têm sido campões em tudo
E eu, tantas vezes reles ,tantas vezes porco, tantas vezes vil;
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Idesculpavelmente sujo ,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, , absurdo,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras,pedindo emprestado sem pagar,
Eu,que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo,nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe -todos eles príncipes -na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado,mas uma infâmia ;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,,
Arre,,estou farto de semideuses1
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
(In Fernando Pessoa )
Nenhum comentário:
Postar um comentário