quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quando se é jovem e forte



     Quando somos crianças e adolescentes,queremos ser mais velhos.
Para termos direito de assistir a filmes proibidos, dirigir, viajar sozinho,...Mas, preocupados em ser o que não somos, podemos não aproveitar o que a vida nos oferece.
     Quem, na verdade, está preparando para ser plenamente aquilo que é?

   
   Uma vez uma mulher me disse:vocês  jovens não sabem a força que têm.
   Ela falava isso como se colocasse uma coroa de louros num herói.Ela falava isto como se não apenas eu, mas todos os jovens fôssemos um grego olímpico ou um daqueles índios parrudões  no
rituais da reserva do Xingu.
   De certa maneira ela dizia:vocês tem o cetro na mão. E eu, jovem,tenho o cetro ,não via.
   Aquela frase me fez olhá- la de onda ela falava:do lugar da não juventude.Ela expressava seu contentamento a partir  de uma lacuna.Se colocava propositadamente no crepúsculo e com suas palavras me iluminava.
     Essa frase lançada generosamente sobre minha juventude poderia ter ser perdido como tantas outras de que necessito hoje, mas não me lembro.Contudo , ela ficou invisível em alguma dobra da lembrança Ficou bela e adormecida muitos séculos,encastelada, até que de repente, despertou e me veio surpreender noutro ponto de minha trajetória.
    Possivelmente a frase ficou oculta esperando- me amadurecer para ela. Só uma   pessoa  não- mais- jovem pode repronunciá- la com a tensão que ela exige
    Vocês jovens não sabe a força que têm
     Pois essa frase deu para martelar em minha cabeça a toda hora que uma adolescente passa com sua floresta de cabelos em minha tarde, toda     vez que     um rapaz de ombros largos e trezentos dentes na boca sorri com estardalhaço gesticulando nas vitrines das esquinas.
    Possivelmente é uma frase ainda mais luminosa no verão
   (...)
    Outro dia a frase irrompeu silenciosamente   em mim como coroamento  de uma cena. Uma cena, no entanto,trivial
    Estávamos ali na sala de um apartamento e conversávamos
     Um grupo, de pessoas maduras. Cada um com se copinho de uísque na mão,conversando negócios e banalidades. De repente entra pela sala uma adolescente preparando-se para sair. Entra como faz toda adolescente :pedindo à mãe para que veja qualquer coisa em seu vestido. E quando    ela entrou tão   naturalmente linda, não de uma beleza excepcional, mas de uma beleza que espera qu uma jovem tenha, quando entrou, um a um, foram murchando suas frases para ficarem em pura contemplação.
       Ali, era disfarçar e contemplar. Parar e haurir.
       Essa experiência se repete quando numa família são apresentados os filhos jovens, ou quando entra  numa universidade e se vê aquele exame de camisetas,jeans e tênis gesticulando e rindo entre uma sala e outra, ou namorando sob as àrvores e na grama como se dissessem eu teno a juventude o saber vem por acréscimo.
      Infelizmente não vem.E a juventude se gasta .Como as pedras se gastam,como as roupas se gastam se gasta a pele,embora a alma se torne mais densa ou encorpada.
      Algo semelhante ocorre diante de qualquer criança .Para um bebé convergem todas as atenções  na sala Sorrisos se desenham no rostos adultos e o ambiente e de terna devoção.É a presença da vida,que no jovem parece ter atingido eu auge.
     Por isso ,ver um (ou uma)jovem no esplendor da idade ´como ver o artista no instante de seu salto mais brilhante e perigoso ou ver a flor na hora em que potencializa toda a sua vida e imediatamente nunca mais será a mesma.
     Claro que há jovens que são foscos e velhos que são radiosos adolescentes .Não é disto que falo.Estou falando de outra coisa desde o princípio. Daquela frase que aquela mulher depositou na minha juventude e agora renasceu.
    Gostaria de doá- la a alguém .Penso nisso e a porta se abre.Irrompem,lindas,minhas duas filhas.Extasiado lhes dou um beijo e digo:
    -Filhas , vocês não sabem que força têm.

      Afonso Romano

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