domingo, 9 de setembro de 2012

Nós , os predadores


  Sempre me impressionou quando persiste entre nós o homem das cavernas, que precisava ser agressivo para sobreviver, ou nem sua crias  nem s fêmeas nem ele próprio resistiram às inclemências do clima, dos animais ferozes, da escassez de recursos.Nós às vezes temos de recorrer àquele remanescente feroz  que afinal povoou a Terra. Teimou em raciocinar, produzindo terror e melancolia; teimou em andar ereto e passou a sofrer da coluna;teimou em ter poder e fazer política, e aí é que nos ferramos.
   Não é fácil entender, mas para muitos o poder é essencial.Dominar os filhos, os pais, a parceira (o parceiro também,não vamos esquecer as esposas- megeras),dominar o outro que está no carro da frente, ou que ousa nos ultrapassar.O que conseguiu promoção, o que vendeu mais livros ou quadros, o que tem mais pacientes,o escritório maior.O tema da dominação poderia ser mais avaliado em relação a seu contraponto, o da parceria.
     Pois ela  é possível. Não somos só  animais cruéis por obrigação de sobrevivência:podemos ser também com o outro como se não fosse um inimigo mortal, mas alguém metido no mesmo barco,sofrendo as mesmas dificuldades, querendo coisas como a paz, presença ,parceria, sentido
tido para a vida, dignidade.
    Mas continuamos privilegiando o cara das cavernas.Em casa, se pudéssemos , estaríamos  (estamos?) boa parte do tempo aos berros, autoritários, egoísta e inseguros - pois os seguros de si não precisam ser violentos,Ou empregamos ardis para armar contra Ele quele que pode nos lançar sombra ou competir conosco:ele vai para a lata de lixo, e nós achamos que ninguém percebe.percebem, ah! sim.
       Tudo isso que escrevi foi para contornar um assunto espinhoso. Se eu falar contra um rico empresário, serei aplaudida Se criticar ou questionar alguém mais humilde serei crucificada, olha aí, a elitista .O espinhoso é comentar (com todo respeito) sobre o deputado de profissão palhaço, digna profissão- pessoalmente em criança eu tinha um medo profundo de palhaço, por conta da minha neurose.Que ele tivesse mais votos do qualquer outro, mostra consideração e carinho pelos  palhaços- ou desencanto pelos políticos?Achei esquisito ele está na Comissão de Educação e Cultura do Congresso,e ainda não decidi se isso é para elevar a cultura ou para nos deixar alertas.
     Aí leio que o deputado contratou assessores também palhaços e humoristas "para lhe dar ideias ".trabalhando em casa  a 8.000 mil reais por mês.Não tenho nada com isso, pensei de saída .mas  depois decidi:tenho, sim, pois nós, o povo, bancamos seus salários e muito mais.E embora esse caso seja infinitivamente mais inocente do que a corrupção e o cinismo que andam por aí, e muita injustiça que se  comete contra homens dignos, senti receio em relação a como isso tudo acabaria.
      Quero escrever contra a dominação e violência:estou cometendo uma violência escrevendo sobre esse caso?Talvez  seja inevitável.Vai ver, somos incorrigíveis predadores:do outro,do mundo,da mãe Terra que anda,resmungando alto, de nós mesmos, porque nem sempre nós tratamos muito bem.
    Corremos aflitos sobre a casca inquieta da terra,esbarramos uns nos outros,passamos por cima uns dos outros,nós comunicamos mal à beça,estranhamos até os íntimos, construímos mil complicações e intrigas. Trocamos as cavernas escuras com fogueiras e morcegos por edifícios de concreto e vidro,ou pelos meandros do universo cibernético.Estamos civilizadíssimos, temos momentos de ternura,mas,em nós espiam, olhos destrutivos .Será preciso muita dor, muita carnificina , muita solidão, muito frio e medo para que a gente consiga aos poucos reprimir mais a violência física ou moral,incluindo a corrupção, a malandragem, os joguinhos de  poder e a exploração das carências alheias, para nos transformarmos de predadores em construtores de uma civilização bem diferente desta em que somos trogloditas com o dedo no touch pad

                                        Lya Luft

   



     

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