sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Tarde de mais para perdoar

   


        Na TV a cabo podemos ver filmes de William Wyler que nos  chama a atenção,pela maestria estética e pela atualidade moral, como "Tarde Demais", Chaga de Fogo e"Infância"que analisa o tênue limite entre a virtude e a crueldade. As heroinas- são alvo de uma moral implacável, que não nos deixa outra saída, exceto responder com ódio ao ódio de que foram vitimas. Há um ponto, mostra  que o perdão não é mais possível, pois quem poderia perdoar renunciou à justiça em troca da vingança.
        O impacto  dos filmes é extraordinário .Ele quer mostrar como a boa ocasião perdida dificilmente é recuperada. A dor da injustiça excessivamente prolongada torna-se irreversível. Ou sabemos reconhecer a chance que a vida nos dá,ou não haverá segunda chance.Nada mais impiedoso , triste e feroz um universo moral sem perdão.
         Outra cena em Copacabana a luz do acaso,de uma sexta-feira  trivial.Aos gritos, descomposturas e brutalidades, um policial aponta a arma para um rapaz que roubava um relógio de pulso.O rapaz  negro,mal vestido, magrinho,tremia dos pés a cabeça Em torno uma dúzia de pessoas,apoiava o policial que rindo,anunciava o que esperava o rapaz na cadeia. e os comentários no sentido de pedir  a pena de morte ou a mais repressão para "vagabundos"'desordeiros" Um senhor tentou se aproximar e a policia pediu que se afastasse e não e não procurasse impedir a ação legal.
        Não sei se é legal ou não.Talvez alguma coisa seja.Mas,,legal ou não-legal,o que isso tem a ver com a trincheira que estamos cavando entre nós,"cidadãos virtuosos" e eles ,"miseráveis viciosos"!O que é mais desumano, a virtude das boas consciências raivosas ou o gesto cego, bruto e impiedoso de quem negocia a liberdade por um relógio de pulso?
       Não imagino outra reação do rapaz preso a não ser o ódio e o desejo de revanche.Por que temos uma concepção tão tacanha de justiça?O que prisões superlotadas ,pancadarias ,injúrias morais e humilhações têm a ver com "recuperação" de delinquentes e "proteção da sociedade"?Estamos nos protegendo do que, com essa truculência cotidiana contra os explorados e desemparados?
      Empurramos e continuamos empurrando os mais frágeis até onde não há  mais retorno e desconfio que nenhuma segunda chance nos será dada.
       Alguma coisa está errada. Para que queremos riqueza e desenvolvimento se o preso pago por isso é a dureza empedernida do rancor, do desdém e do desprezo mútuos com que estamos habituado, com enorme facilidade!Onde estão os quilos de sabedoria e ciências  estocados em livros,teses e paredes universitárias !O que fazemos com tudo isso? Onde está a nossa memória do passado, da violência da escravidão,das perseguições assassinas do movimento militar e de tantos sonhos de um mundo melhor!Tudo isso parece evaporar -se diante do olhar desprotegido, ressentido e vingativo do garoto.
      Não custa lembrar Santo Agostinho que dizia:"Sem Justiça, o que são os reinos senão grandes assaltos: o que são os roubos senão pequenos reinos?"

                Jurandir Freire Costa -psicanalista


     








       

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