segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O menino no espelho


 O que aconteceria se sua imagem no espelho começasse a agir por conta própria?



   Por que diabos eu queria encontrar alguém igual a mim? É que ficava pensando, a olhar a minha própria figura refletida no espelho .Eu não achava graça nenhuma em mim, confesso que desde então eu já não era o meu tipo.Mas era comigo mesmo que eu tinha de viver e,nesse caso, um menino feito aquele ali d,iante de mim é que eu gostaria de encontrar, sem tirar nem pôr. Um menino que, em tudo e por tudo, fosse absolutamente igual a mim- porque do contrário não tinha graça. Que falasse como eu, se vestisse como eu, andasse como eu pensasse e sentisse como eu. Juntos, nós seríamos capazes de tudo, das melhores brincadeiras, e até mesmo conquistar o mundo.
        E ficava horas me observando,fazendo caretas e gatimonhas para a minha figura, falando comogo mesmo como se fosse outra pessoa:
        _Agora, por que você não cala a boca e escuta o que estou falando?Por que tem de ficar me imitando, repetindo tudo que eu faço?
          Levanta a perna, e ele levantava também, ao mesmo tempo. Abria os braços, e ele fazia o mesmo. Coçava a orelha, e ele também..
            Mas o que mais me intrigava era a única diferença entre nós.Sim, porque um dia descobri, com pasmo, que enquanto eu levantava a perna esquerda, ele levantava a  direita; enquanto eu coçava a orelha direita, ele coçava a esquerda. Reparando bem, descobria outras  diferenças. O escudo da escola, por exemplo, que eu trazia colado no bolsinho esquerdo do uniforme ,na blusa dele era no direito.
      Para testar, coloco a mão direita espalmada sobre o espelho. Como era de esperar, ele ao mesmo tempo vem com a mão esquerda, encostando-a na minha.Sorrio para ele e ele para mim.Mas do que nunca me vem a sensação de que é alguém idêntico a mim que está ali dentro do espelho, se divertindo em me imitar. Chego a ter a impressão de sentir o calor da  da palma da mão dele contra a minha. Fico sério, a imaginar o que aconteceria se isso fosse verdade. Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como, se agora estou absolutamente sério?
       Um calafrio me corre pela espinha, arrepiando a pele: há alguém vivo dentro do espelho! Um outro eu, o meu duplo, realmente existe!


   (Sabino, Fernando)














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