terça-feira, 28 de maio de 2013

Os velhos, a tristeza e o Harlem shake




    Para chegar aos 80, tem que saber algum tipo de  malandragem. Tem que ter truque, ser um misto doido e esperto, ir com o fubá  quando os outros vem com o milho. Aprendi isso com os idosos de um abrigo,   e os vejo arrancando  alegria, dia , e noite, de suas próprias peles curtidas, dos pequenos prazeres e das decepções, bem como do seu próprio ridículo.
      Os velhos nos ensinaram que somos ridículos a vida toda, com as  mesmas vontades e necessidades da infância e da juventude. As qualidades e defeitos podem mudar, mas o risco de cometer bobagens ,permanece, e vivemos enganados entre a dor e a delícia, humanos. Infelizmente , ninguém vive uma vida  só de prazer e acerto.
      A verdade é que não dá para fechar os olhos para os limões, senão, senão não se faz uma limonada. Gostaria que todos fôssemos   felicíssimos o tempo todo, como o garoto Ney mar  ,quando ele aparece dançando no vestiário dos Santos. Mas existem mesmo, os limões, e um leão  por dia .. Já a algum tempo, porém, estamos obcecados com um cotidiano sem dor. Ensinamos isso para as crianças e divulgamos para os vizinhos. É a  nova religião Nossa moderna pieguice limou o feio e  o triste da TV,  na internet, dos shoppings, das nossas lembranças e músicas. Para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza? Então não se faz samba, não.
      Forçoso é ser alegre, o tempo todo, no modelo do jogador no vestiário. Pelo menos, parecer. Em algum lugar. No Harlem  shake , na marcha dos zumbis e em outras tentativas desesperadas de felicidade. Nas passeatas de fim de semana que são esquecidas na segunda. Nas redes sociais que nunca nos deixam sozinhos ( sozinhos até ficamos, mas não ao ponto "ridículo de procurar amigos). E evitamos o tamarindo, porque ele adoça no começo, mas azeda no final.. ( ou seria ao contrário?).
       Os cientistas do futuro falarão de um século em que não houve tristeza. Todas as crianças se calavam, todas as mulheres  ficavam sozinhas, todos os homens incomunicáveis, cada um cantando tchu, tcha , tchererê...impedidos de aprender com a dor . Riam muito, se entupiam de remédios.... E nem eram velhos.  



Franklin Carvalho







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