domingo, 2 de dezembro de 2012
Fantasia
Que eu te beijava tremendo
Que teu rosto enfrebrecendo
Desmaiva a palidez!
Tanto amor tua alma enchia
E tanto fogo morria
Dos olhos a languidez!
E depois..dos meus abraços,
Tu caíste abrindo os braços
Gélida, dos lábios meus...
Tu parcias dormir,
Mas debalde eu quis ouvir
O alento dos seios seus.
E uma vez, uma harmonia
No teu lábio que dormia
Desconhecida acordou,
Falava em tanta ventura,
Tantas notas de ternura
No meu peito derramou!
Parecia que no peito
Nesse quebranto desfeito
Se esvaia o coração
Que meu olhar se apagava,
Que minhas veias paravam
E eu morria de paixão
E depois, num santuário,
Junto do altar solitário,
Perto de ti me sentir.
Dormias junto de mim...
E um anjo nos disse assim:
"Pobres amantes dormi!'
Tu eras inda mais bela-
O teu leito de donzela
Era coberto de flores...
Tua fronte empalecida,
froixa a pálpebra descida,
Meu Deus!que frios paiores!..
Dei-lhe um beijo- despertaste,
Teus cabelos afastaste
Fitando os olhos em mim...
Que doce lhar de ternura!
Eu só queria a ventura
De um olhar suave assim!
Eu dei-lhe um beijo ,sorrindo
Tremeste os lábios abrindo,
Repousaste ao peito meu
E sentir nuvens cheirosas,
Ouvi liras suspirosas,
Rompeu-se a névoa...era o céu!
Caía a chuva de flores
E luminosos vapores
Davam azulada luz...
E eu acordei...que delírio
Eu sonho fimdo o martírio
E acordo pregado a cruz!
Àlvares de Azevedo
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