quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Em uma noite tão ditosa

   
  

        Era uma noite tão escura,
        De amor em vivas ânsia inflamada,
        Oh, ditosa ventura!
        Saí sem ser notada,
        Já minha casa estando sossegada.
       
        Na escuridão, segura,
        Pela secreta, escada, disfarçada,
        Oh, ditosa ventura!
        Na escuridão, velada,
        Já minha casa estando  estando sossegada.

        Em noite tão ditosa,
        E num segredo em  que ninguém me via,
        Nem eu olhava coisa,
        Sem outra luz nem guia
        Além da que no coração me ardia.

        Essa luz  me guiava,
       Com mais clareza que a do meio- dia,
       Aonde me esperava,
       Quem eu bem conhecia,
       Em sítio onde ninguém aparecia

       Oh,, noite que me guiaste!
       Oh, noite mais amável que a alvorada!
       Oh, noite que juntaste
       Amado com amada,
       Amada já no Amado transformada!

       Em meu peito florido
       Que, inteiro para ele guardava
      Quedou-se adormecido,
      E eu, terna, o regalava,
      E dos cedros o leque o refrescava.

      Da ameia a brisa amena,
      Quando eu os seus cabelos afegava,
      Com sua mão serena
      Em meu colo soprava,
      E meus sentidos todos transportava.

     Esquecida,quedei-me,
     O rosto reclinado sobre o Amado;
      Tudo cessou.Deixei-me,
      Largando meu cuidado
      Por entre as açucenas olvidado











       

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário