sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Da solidão



     Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão.Basta que em redor delas se arme o silêncio, que  não se manifeste aos seus olhos, nenhuma presença humana para que delas se apodere imensa angustia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça,  como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.
       No entanto, haverá na  Terra a verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da  Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidao?
      Tudo  é vivo e tudo fala, em redor de nós,  embora com vida e voz que não são humanas, mas  que podemos aprender e escutar , porque muitas vexes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério.
        Pintores e fotógrafos  andam  em volta de objetos a procura  de  ângulos,jogo de luz, formas, para revelarem aquilo que lhes parece o mais comunicável, mais rico de sugestões capaz de transmitir aquilo que excede os limites desses objetos, constituindo o espírito de sua alma.
         Façamo-nos também desse modo videntes: olhamos devegar para a cor da paredes,  o desenho das cadeiras,  a transparência das vidraças. Não procuramos neles beleza que arrebata o olhar, a graça de proporções: muitas vezes seu asprcto- como o das criaturas humanas- é  inábil e desajeitado.Mas não é isso que procuramos,apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nossas humildes coisas a carga de experiências que representam e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos..
           Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos.Amemos o  antigo encantamento dos nossos infantis, quando começaram descobrir o mundo.:o desenho dos azuleijos; os tranquilos, metódicos telhados...O rumor da água que corre, voz dos animais que desejaríamos traduzir.
          Tudo palpita em redor de nós,e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração, e essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seus segredos suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado ,que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o decubramos, sem se anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de existir; que não faz da sua presença um anuncio exigente "Estoi aqui! estou aqui". Mas concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla  companhia,  generosa e invísivel.
       Oh! se vos queixa de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa pretigiosa presença,, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversrá conosco interminavelmente.


(   Cecília Meireles,.Escolha o seu sonho)
    
        





















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