domingo, 11 de novembro de 2012
Toda vez que eu viajava
"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens tem medo da luz" Platão
Toda vez que eu viaja - pela estrada de Ouro Fino
de longe eu avistava - a figura de um menino
que corria a abrir a porteira- depois vinha me pedindo :
"Toque o berrante, seu moço- que é pra mim ficar ouvindo!"
Quando a boiada passava- que a poeira ia baixando
eu jogava uma moeda --ele saía pulando
"Obrigada boiadeiro, -que Deus vai lhe acompanhando!
Pra aquele sertão afora- meu berrante ia tocando
Nos caminhos desta vida- muitos espinhos encontrei
mas nenum colou mais fundo- do que este que passei:
na minha viagem de volta- qualquer coisa eu cismei
vendo a porteira fechada- o menino não aistei.
Apeei meu cavalo- num ranchinho- beira- chão;
vi uma mulher chorando -quis saber qual a razão.
"Boiadeiro, veio tarde- veja a cruz no estradão:
quem matou o meu filhinho -foi o boi sem coração'!
Lá pra bandas de Ouro Fino- levando o gado selvagem
quando passo na porteira- até vejo uma imagem.
Esse rangido tão triste- até parece uma mensagem
aquele rosto trigueiro- desejando boa viagem.
A cruzinha do estradão- do pensamento não sai
até fiz um juramento- que não esqueço jamais:
nem que meu gado estoure- eu preciso ir atrás
nesse pedaço de chão- berrante não toco mais.
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